Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Talitha Gomes Ferraz (ESPM/PPGCine-UFF)

Minicurrículo

    Mestra e doutora em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ. Professora da ESPM-Rio e do PPGCine-UFF. Líder do GP Modos de Ver (ESPM/CNPq). Membra das redes de pesquisa: HoMER Network, International Media and Nostalgia Network, CIEC-EcO-UFRJ e Cinema City Cultures.

Ficha do Trabalho

Título

    Tecnostalgia e sala de cinema: apostas discursivas em meio à pandemia

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Buscamos compreender a relação entre manifestações de nostalgia e reafirmação de determinados atributos identitários dos cinemas e seus públicos diante dos riscos e desafios impostos pela pandemia. Com base na noção de tecnostalgia, examinamos peças publicitárias de exibidores publicadas em redes sociais e estratégias do Grupo Estação, do setor exibidor carioca, no âmbito do Movimento Juntos Pelo Cinema.

Resumo expandido

    Diante da pandemia do coronavírus, a sala de cinema – um dispositivo historicamente afetado pelas intempéries de nossas sociedades – foi condenada a semanas e semanas de fechamento em todo o mundo, situação que resultou em uma queda de 72% do global box office em 2020, segundo informado pelo IMDB. No contexto da cidade do Rio de Janeiro, a ordem para que todos os cinemas fechassem por tempo indeterminado veio de um decreto do Governo do Estado do Rio de Janeiro no dia 13 de março de 2020.
    De início, a retomada das salas dependeu de uma série de negociações do setor exibidor, e seus sindicatos, com esferas governamentais, principalmente por causa da proibição do funcionamento da bomboniere. Porém, assumidos todos os protocolos sanitários, os cinemas voltaram à ativa no dia 1° de outubro de 2020. Alguns exibidores, no entanto, optaram pela não reabertura; consideraram financeiramente inviável operar as salas com uma redução em 50% da lotação máxima, imperativo este da Prefeitura do Rio. Outro dificultador para todo o setor da exibição foi a demora nas medidas de socorro à área cultural pelas gestões públicas. Alguns auxílios chegaram apenas já bem tarde, no segundo semestre de 2020.
    Tal quadro só agravou ainda mais uma antiga situação de vulnerabilidade da sala de cinema no Rio de Janeiro, em especial, dos cinemas de rua. Sabe-se que, principalmente a partir dos anos 1970, uma vertiginosa queda no número de telas e assentos, assim como a concentração de salas em complexos multiplex de shoppings, passou a ditar o modelo de acesso coletivo e presencial a filmes em todo o país. As incertezas da pandemia até hoje fazem com que o setor exibidor brasileiro permaneça em alerta e sofra com a baixa venda de bilhetes.
    Neste cenário, a experiência de ida ao cinema tem sido enaltecida em diversas dinâmicas discursivas. É o caso de campanhas de empresas exibidoras, publicações da imprensa e ações de grupos cinéfilos/profissionais em redes sociais da internet, destacando aspectos materiais, sensoriais e ambientais próprios à sala de cinema comercial/convencional.
    Esta pesquisa faz parte de um estudo mais amplo, recentemente iniciado, e busca compreender a relação entre manifestações de nostalgia e reafirmação de determinados atributos identitários dos cinemas e seus públicos diante dos riscos e desafios impostos pela pandemia. Nossas análises têm como base a noção de tecnostalgia (MENKE, 2017), que pode ser entendida como uma profícua forma de lidar com o desconforto que as descontinuidades, ameaças e transformações das mídias ocasionam em variadas instâncias sociais.
    A tecnostalgia não se vincula apenas a mídias passadas ou em desuso; ela também se refere a mídias contemporâneas, direta ou indiretamente ameaçadas de desaparição, cuja trajetória histórica é atravessada pelas temporalidades (não-lineares) tecnológicas, midiáticas, socioculturais e urbanas.
    Nesta apresentação, examinamos aspectos discursivos envolvidos em processos de re-legitimação e/ou promoção das figuras da sala de cinema e do espectador de cinema segundo identidades e imaginários convencionais e tradicionais/ canônicos. Nós nos concentramos em dois casos de análise, um de abrangência nacional e outro no recorte da cidade do Rio de Janeiro: 1) peças publicitárias publicadas em redes sociais por empresas exibidoras com foco na ideia da “falta”/”saudade” das materialidades, espacialidades, ambiências e experiências da/com a sala de cinema. 2) estratégias do Grupo Estação, do setor exibidor carioca, no âmbito do Movimento Juntos Pelo Cinema, criado por profissionais do mercado cinematográfico em apoio à retomada das salas de cinema no Brasil.

Bibliografia

    BOLIN, G. Passion and nostalgia in generational media experiences. In: European Journal of Cultural Studies, 19 (3), pp. 250-264, 2015 doi: 10.1177/1367549415609327.
    MENKE, M. “Seeking Comfort in Past Media: modelling media nostalgia as a way of coping with media change”. International Journal of Communication, 11, 21, 2017, pp. 626-646.
    VAN DER HEIJDEN, Tim. Technostalgia of the present: from technologies of memory to a memory of technologies. European Journal of Media Studies. NECSUS 4 (2), 2015, p. 103-121. Access: http://www.necsusejms.org/technostalgia-present-technologies-memory-memory-technologies/