Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    luara dal chiavon (ECA- USP)

Minicurrículo

    Luara Dal Chiavon é fotógrafa e cineasta, transitando por diversas áreas do audiovisual. Dirigiu o documentário Maria vai ca’s vaca, a ficção Um fantasma ronda o acampamento, além de dois longas em fase de finalização: Mutirão em Novo Sol – A retomada e Kalunga: a falta de silêncio do mar. É militante e desde 2014 coordena a Brigada de Audiovisual Eduardo Coutinho (frente de audiovisual do Movimento Sem Terra), produzindo mais de 300 vídeos para redes, além de diversos documentários.

Ficha do Trabalho

Título

    A produção audiovisual do MST como sujeito coletivo do fazer fílmico.

Resumo

    O MST tem como linha política ocupar as terras e as telas, compreende que a tomada dos meios de produção também se dá no campo da cultura. Assim, quando falamos em cinema documentário, a questão de quem filma é crucial para compreendermos a linguagem abordada e os objetivos do filme, quem faz não está separado da obra feita. E quando o sujeito coletivo organizado passa a fazer cinema, o que muda? Que tipo de narrativa é produzida? Esteticamente como se articula o discurso com a forma fílmica?

Resumo expandido

    Quem é o camponês que produz filmes no cinema nacional? Quem é esse sujeito que produz sua própria memória em um lugar que se configura muito mais como paisagem no cinema, do que como sujeito narrativo? E quando esse discurso não é produzido em primeira pessoa, e sim a partir de um sujeito coletivo, o que muda? Quem é o camponês no documentário brasileiro?
    Pensando em estratégias de sobrevivência, pretendo, a partir da análise comparativa do vídeo do 4º e do 5º Congresso do MST, elucidar duas questões fundamentais dentro do audiovisual produzido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: como a organicidade do movimento se articula com a estética de seus vídeos e quem é esse sujeito coletivo camponês que produz os vídeos.
    Por que quando falamos em cinema documentário, a questão de quem filma é crucial para compreendermos a linguagem abordada e os objetivos do filme, quem faz não está separado da obra feita. A partir dos anos 1990, as minorias tomaram os meios de produção e passaram a produzir outro cinema, a partir do EU, em primeira pessoa, falando de pautas sociais fundamentais. E quando esse passa a ser um sujeito coletivo, o que muda?
    Escolho analisar o material produzido a partir dos Congressos Nacionais pois são a instância máxima da organização do MST, nele de forma massiva, são definimos os rumos políticos da atuação da organização no próximo período: tática e estratégia são revistas e atualizadas. Cada Congresso sintetiza o lema do próximo período e como será pautada a relação com a sociedade, o lema resume a ação política. Assim, através desses vídeos, temos pistas de como a sociedade tratava a questão da luta pela terra em cada período.
    O MST já realizou em sua história, seis Congressos Nacionais, somente a partir do 4º Congresso fora construído um vídeo síntese da atividade: esse material serviu, não somente, de documento histórico, como também um material pedagógico para dialogar com a base sobre os assuntos debatidos, como também anunciar para a sociedade as definições do próximo período. Assim, o documentário se coloca não como um fim, mas como mediador de um discurso político, revelando as intenções da organização para dentro e para fora.
    No 4º Congresso foi criado um curso para formar “jovens documentaristas do MST”, com esses dizeres, inicia-se o vídeo. A forma como o vídeo foi construída foi os primeiros passos na apropriação dos meios audiovisuais pelo MST. Já o vídeo do 5º Congresso marca a criação da Brigada de Audiovisual da Via Campesina, ou seja, o movimento entre um congresso e outro, construiu um coletivo interno somente para dar cabo às questões que envolviam o audiovisual no movimento. Essa forma de produção impactou a forma do filme? Portanto, a partir da construção do audiovisual dentro dos movimentos sociais, especialmente no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, como estética e organicidade se articulam? Há uma linguagem construída? Essa linguagem é expressão do sujeito coletivo?
    Os movimentos de vanguarda e/ou revolucionários construíram um discurso que estética é política e que forma é conteúdo. Assim, as práticas e processos construídos não podem ser dissociados das obras criadas. Parte desses discursos são constituintes da formação da cultura dentro do MST, e consequentemente de sua prática.
    Então, como compreender como foi construída a trajetória audiovisual do MST, pode contribuir atualmente para elucidar determinadas questões estéticas presente na organização? Como compreender como o audiovisual foi construído pode ajudar na compreensão de como ele é produzido atualmente? E por fim, articular essas duas grandes questões, a partir de que organicidade se constitui a estética desse sujeito coletivo criado pelo Movimento Sem Terra?

Bibliografia

    BENJAMIN, W. Magia e Técnica, arte e política. Obras escolhidas. SP: Brasiliense: 1987.
    BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e Imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
    BOGO, Ademar. O vigor da mística. Caderno de Cultura nº 2. São Paulo: 2002. BOGO, Ademar. Linguagem em prosa e verso: uma mediação para a formação da consciência. Teixeira de Freitas: 2011.
    DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem: uma história do olhar no ocidente. Petrópolis, RJ. Vozes, 1993.
    DELEUZE, Gilles. Cinema 2 – A imagem tempo. São Paulo: editora 34, 2018.
    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2012.
    SANJINÉS, Jorge e Grupo Ukamau. Teoría y práctica de un cine junto al pueblo. Caracas: Fundación Cinemateca Nacional, 2012.
    SHOAT, Ella e STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: Cinema Novo, Tropicalismo, Cinema Marginal. São Paulo: Cosac Naify, 2012