Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    ALINE VERISSIMO MONTEIRO (UFRJ)

Minicurrículo

    Professora Adjunta de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da UFRJ. Doutora e Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ. É coordenadora do projeto de pesquisa e extensão ITEC (Imagem, texto e educação contemporânea), vinculado ao LISE /FE/UFRJ, onde desenvolve a pesquisa O visual e as formas da aprendizagem. É vice-coordenadora do LECAV – Laboratório de Educação Cinema e Audiovisual da FE/UFRJ, onde participa da pesquisa Currículo e linguagem cinematográfica na educação básica.

Ficha do Trabalho

Título

    Oficina Os óculos do vovô: aprendendo com infância, velhice e cinema

Resumo

    O filme Os óculos do vovô, o filme de ficção mais antigo restaurado do cinema brasileiro, data de 1913. Em seus pouco mais de quatro minutos restaurados, têm a potência de reunir em sua longevidade dados tanto da infância do cinema, quanto da infância no cinema. Reconhecendo essa potência, este artigo analisa como uma oficina de invenção de filmes com esse fragmento pôde abrir a possibilidade de que, mobilizados por gestos de fazer, ver, rever e transver cinema, e também inventar infâncias.

Resumo expandido

    Realizada dentro do contexto dos trabalhos de pesquisa e extensão do Grupo CINEAD, a oficina em questão caminha no esteio dos trabalhos que a equipe vem desenvolvendo há anos sobre as possibilidades de aprender e desaprender nos encontros entre cinema e educação. Neste trabalho em particular, trata-se de desdobrar essas ações sobre a infância, os filmes antigos que nos convidam a visitar a infância do cinema e esse jogo entre passado e presente, história e utopia, e infância e velhice.
    A primeira reflexão que intentamos convidá-los a fazer é sobre os sentidos da infância na educação, no cinema e nas visões do campo da aprendizagem e do desenvolvimento. De um modo geral a infância é tomada como uma ineficiência, um estado de “ainda não”, uma fase a ser superada, uma imperfeição e uma incompletude. Mesmo os adjetivos mais positivos dedicados a ela refletem o olhar mais negativo anteriormente listado: inocência, ingenuidade, pureza. No entanto, gostaríamos de pensar a infância e experimentá-la, nesse jogo de reconstrução e experimentação dos gestos cinematográficos sobre os fragmentos do filme Os Óculos do vovô, como invenção. Invenção que nos abra possibilidades de derivação, diferenciação, tanto para a infância, quanto para o cinema e para a educação.
    Neste ponto recorreremos aos trabalhos de Virgínia Kastrup sobre a aprendizagem inventiva. Partindo dos trabalhos de Maturana e Varela sobre enação e do pensamento de Deleuze e Guatarri sobre subjetividade, a autora vai pensar a aprendizagem não como solução de problema ou representação / recognição, mas como criação de problema e problematização. Ao aproximarmos a infância e a educação dessas compreensões dos processos de desenvolvimento por enação e dos processos de subjetivação e da aprendizagem inventiva, podemos falar de um aprender a ser criança nos movimentos de invenção de si e do mundo. E a arte cinematográfica pode servir de agente desta invenção ao se engendrar com a infância na escola e nos movimentos de ver e fazer cinema. A própria autora faz uma aproximação desse tipo de aprendizagem com a aprendizagem do artista.
    Sendo o filme de ficção mais antigo da história do cinema brasileiro, Os óculos do vovô nos coloca diante da infância do cinema e da infância no cinema. Começaremos pela segunda para continuar a argumentação sobre aprender a infância. Aos nos apresentar um menino traquina, sua relação com a mãe na fuga ao castigo, sua relação com o avô ao recorrer a ele como refúgio, a prometida peça que pregaria no avô ao pintar seus óculos e fazê-lo crer estar cego (algo que sabemos que acontecerá pela sinopse do filme, mas que não vemos por não ter sobrevivido ao tempo), o filme nos permite experimentar outros corpos, modos, afetos e cuidados identificáveis à infância. Modos que, se abrirmos a atenção, a sensibilidade e nos concentrarmos no filme, podem servir de disparadores de problematização frente aos modelos, expectativas e representações que temos atualmente da infância. Essa viagem no tempo pode servir de breakdown e fazer divergir nossas percepções, afetos, pensamentos e memórias sobre a infância. Podemos parar de olhar recognitivamente para infância e permitir inventá-la, e com isso permitir às crianças a aprendizagem de aprender a ser criança e inventar suas infâncias outras.
    No que diz respeito à infância do cinema, estar atento aos ângulos, as tomadas, aos planos, tanto os originais, quanto aqueles que se criam pela montagem de restos sobreviventes, os quais nos apresentam de fato um original do filme e não o original do filme. É esse jogo que combina e conjuga originalidade e invenção, origem e desdobramentos, passados e futuros que a oficina de que trata este artigo pretendeu mobilizar. Ela foi realizada de modo remoto como parte das atividades do X Colóquio de Filosofia e Educação da UERJ, com participações síncronas e assíncronas, e intitulada Os óculos do vovô: vanguarda de uma infância traquinas.

Bibliografia

    FRESQUET, Adriana. Ver-rever-transver: una aproximación a los motivos visuales del cine y al plano comentado, entre otros modos de ver cine en la escuela. Saberes y Prácticas. Revista de Filosofia e Educação. Mendoza: Universidad Nacional de Cuyo, no prelo. Dossier Cinema e Educação (LARROSA, Jorge; GUZMAN, Liliana e BENASAYAG, Ariel (orgs.) Vol. 5, Num. 2 (p. 1-19), 2020.
    KASTRUP, Virgínia. Aprendizagem da atenção na cognição inventiva In: Psicología & sociedade; 16 (3): 7-16; set/dez, 2004.
    _______________ Aprendizagem, arte e invenção In: Psicologia em estudo, Maringá, v. 6, n. 1, p. 17-27, jan-jun, 2001.
    MORETTIN, Eduardo. Os óculos do vovô (Francisco Santos, 1913): anotações de um historiador. Em: Museologia & Interdisciplinaridade. Vol 8, nº 15 Jan/Jul de 2019.

    Referencias filmográficas
    Os óculos do vovô. (Dir. Francisco Santos, Pelotas, 1913)
    As memorias do Vovô (Dir. Cintia Langie, Pelotas, 2013).