Ficha do Proponente
Proponente
- Joselaine Caroline (UFRGS)
Minicurrículo
- Doutoranda em Comunicação, na UFRGS, Mestre em Comunicação (Anhembi Morumbi), graduada em Letras (IPA). Pesquisadora do grupo de pesquisa Comunicação e Práticas culturais, e integrante do Obitel.
Ficha do Trabalho
Título
- Se não me vejo, não assisto: um estudo sobre consumo audiovisual negro
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Resumo
- O presente trabalho têm como objetivo investigar as práticas de consumo midiático de produtos de temática negra através da aplicação de um questionário, a fim de realizar um levantamento sobre as práticas de consumo de conteúdos e produtos que abordem as temáticas relacionadas à negritude.
Constatamos que a práticas de consumo de produtos audiovisuais negros ocorre em diversos setores e territórios, e resulta tanto da luta contra a invisibilidade, como no fortalecimento da negritude.
Resumo expandido
- O presente trabalho têm como objetivo investigar as práticas de consumo midiático de produtos de temática negra através da aplicação de um questionário. A aplicação do questionário foi realizada, e disponibilizada online por 3 dias no mês de março de 2021, e buscou realizar um levantamento sobre as práticas de consumo midiático de conteúdos e produtos que abordem as temáticas relacionadas à negritude. Isso se deu porque “as produções, representações cinematográficas e filmes vão além do espetáculo e entretenimento, muitas vezes elas dialogam diretamente com discursos políticos e hegemônicos” (CAROLINE e SEIXAS, 2020). Considerando que, as pessoas negras são muitas vezes estigmatizadas, estereotipadas e/ou silenciadas nas mídias, vemos que os tensionamentos acerca da produção, consumo e recepção fomentam práticas de consumo cultural e midiático, ao mesmo tempo em que pressionam os meios de comunicação a repensarem suas configurações e narrativas.
A ampla maioria dos respondentes é residente do estado do Rio Grande do Sul, 63% da cidade de Porto Alegre/RS e 37% de outras cidades, incluindo uma pessoa no exterior. Em relação a autodeclaração racial, 59% se autodeclararam preta (o), 30% branca (o), 10% parda (o), 1% indígena e 1% amarela (o). Ainda, 64% eram do gênero feminino, 34% masculino e 1% não-binário.
Perguntamos se estas pessoas perceberam alguma diferença/mudança em relação ao consumo de conteúdos e produtos com temática racial, 43% respondeu que passou a consumir mais nos últimos 5 anos, 15% passou a consumir mais no último ano, 15% sempre buscou consumir conteúdos e produtos com o intuito de fortalecer a cultura negra, 8% sempre consumiu produtos que fizessem refletir sobre o tema, 11% disse não fazer diferença racial durante as práticas de consumo, 7% acha que não há nenhuma diferença e 1% não vê nenhuma diferença.
Para 97 pessoas é extremamente provável ou provável que elas assistam a um filme porque há pessoas negras na capa; 32 delas transitaram entre provável e neutralidade, e 9 delas acham que isso é indiferente. E, 67% das pessoas afirmaram que o filme favorito delas apresentam temáticas negras ou personagens negras, enquanto 33% afirmaram que não.
No questionário, 72 pessoas afirmaram que frequentemente procuram assistir filmes com temáticas da negritude ou que tenham pessoas negras no elenco; 26 delas acham que essa procura depende muito do humor delas no dia; 21 não consideram isso um critério; 13 não procuram com muita frequência; 3 disseram que até tentam assistir, mas sempre acabam escolhendo outra temática; e 3 não procuram.
Devido ao método utilizado não foi possível constatar precisamente se o consumo destes indivíduos mudou por causa do aumento expressivo do tema nas mídias, mas no cruzamento dos dados, foi possível perceber que o despertar da consciência negra é um processo recente, mas que está atuando de forma efetiva nas práticas de consumo dos respondentes. Através desta pesquisa percebemos que o fenômeno acerca das práticas de consumo de produtos audiovisuais negros ocorre em diversos setores e territórios, e opera tanto no âmbito da luta contra a invisibilidade, como no fortalecimento da negritude. Ainda, foi possível diagnosticar que o consumo negro, assim como afirmam Lamont e Molnár (2001) é um meio de realizar e afirmar distinção coletiva (incluindo orgulho racial), principalmente para si mesmo e rebater estereótipos.
O cinema e o audiovisual reproduzem discursos e interesses de classes dominantes (CAROLINE E SEIXAS, 2020), assim como os filmes. Entretanto os produtos midiáticos de temáticas negra surgem como uma alternativa para combater a invisibilidade negra, tanto no âmbito da produção, como na de consumo, de acordo com Pinheiro (2019) aparecem como uma alternativa contra-hegemônica para combater a pouca representatividade.
Bibliografia
- CAROLINE, Joselaine; SEIXAS, Gabriela. Apontamentos sobre o Cinema Negro: um gênero em construção. In: Outras Pontes: abordagens e objetos emergentes no cinema e no audiovisual. Org. Marina Cavalcanti Tedesco e Márcio Brito Neto. – 1. ed. – Rio de Janeiro : NAU Editora, 2020.
LAMONT, M.; MOLNÁR, V. How blacks use consumption to shape their collective identity. Journal of Consumer Culture, London, v. 2, n. 1, p. 31-45, 2001.
PINHEIRO, Jonas de Jesus. Alma preta e afirmativa: experiências contemporâneas de mídias negras na luta contra o racismo. (Dissertação de Mestrado) Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Cachoeira, 2019.