Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    JOUBERT DE ALBUQUERQUE ARRAIS (UFCA)

Minicurrículo

    Pesquisador interdisciplinar, artista da dança, crítico de dança. Doutor em Comunicação e Semiótica (PUCSP). Mestre em Dança (UFBA). Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo (UFC). Professor Adjunto do Instituto Interdisciplinar de Sociedade, Cultura e Arte, da Universidade Federal do Cariri – IISCA/UFCA (Campus Juazeiro do Norte). Professor colaborador do PPPGDanca/UFBA. Membro-fundador da Associação Nacional de Pesquisadores em Dança/ANDA. Membro da SOCINE desde 2012. www.enquantodancas.net.

Ficha do Trabalho

Título

    OUTROS VIDEODANÇARES: EXPERIMENTAÇÕES ENTRE O FÍLMICO E O COREOGRÁFICO

Resumo

    Diante do legado do cinema experimental e do pré-cinema, artistas contemporâneos da dança vem configurando relevantes experimentações entre o fílmico e o coreográfico. Perguntamo-nos: de que videodançares podemos falar com dizeres outros sobre os corpos em crise e o curto-circuito das representações? Que pistas e ocorrências estéticas podem ser visibilizadas como estratégias de politização e de interseccionalidade do corpo artista com a criação e curadoria contemporâneas de vídeo e dança?

Resumo expandido

    Há um legado histórico de experimentações de corpo, imagem e movimento que alicerçam qualquer discussão do que hoje chamamos de videodança e que se situa, contextualmente, no cinema experimental. Com esse legado, interessa-nos discutir a dimensão estético-afetiva de artistas contemporâneos da dança, quando estes vem configurando relevantes experimentos na relação híbrida entre cinema, vídeo e dança, com conceituações e debates entre o fílmico e o coreográfico (ARRAIS, 2017; MICHAUD, 2014; ALVES, 2013; SANTANA, 2006; MACHADO, 1997).
    Sabemos, em certa medida, que o corpo em movimento, antes mesmo do cinema ser cinema, foi marcado pelo fisiologista Etienne-Jules Marey, inventor do cronofotógrafo e do fuzil fotográfico, dois ancestrais da câmera cinematográfica, utilizados inicialmente para projetar imagens, e assim, dissecar e decompor movimentos animais. Já para o movimento que se organiza como dança, sua presença na práxis do cinema experimental é histórica e difundida pelo conceito de Coreocinema, atribuído aos filmes da coreógrafa e dançarina Maya Deren na década de 1940. Do dançar para câmera ao dançar para a tela, na década de 70, temos a brasileira videoartista Analivia Cordeiro, uma de suas pioneiras no mundo com Dance Computer, obra experimental gênese do que hoje conhecemos como estética do/da videodança.
    Diante desse legado, algumas perguntas nos mobilizam: de que videodançares (DE OLIVEIRA, 2009) falamos, ou podemos falar, com dizeres outros, em termos da performatividade de corpos em crise e do curto-circuito das representações (GREINER, 2010)? Que pistas e ocorrências estéticas, em tempos de convergências midiáticas e distopias tecnológicas, podem ser visibilizadas como estratégias de politização e de interseccionalidade do corpo artista (AKOTIRENE, 2018; RANCIÈRE, 2005)? Como possibilitar visibilidades outras de experimentos e experimentações criativas e curatoriais entre cinema, vídeo e dança com a criação artística contemporânea de dança no Brasil?
    Destacamos, numa categorização conceitual possível, alguns exemplos de videodançares: 1) Filmes Coreográficos: as pesquisas de movimento Acummulations (1971) e Watermotor (1978), da coreógrafa Trisha Brown, com colaboração de Merce Cunninghan e John Cage; 2) Cenas Coreodançadas/Coreofílmicas: audições seletivas nos filmes mainstream Flashdance (1983), Billy Elliot (2000) e Cisne Negro (2011); e, ainda, a célebre performance de um homem negro caiçara em O Porto de Santos (1978), documentário nacional de Aloysio Raulino (1947-2013); 3) Danças Filmadas: registros de performance A cadeirinha e eu (2014); Engarrafadas (2019) e Anatomia das coisas encalhadas (2013), da coreógrafa Silvia Moura (CE); e 4) Danças Videodocumentais: a pesquisa Erranças (2015), da bailarina Gabriela Santana e do videomaker Tonlin Cheng (PE); a compilação de vídeos de ensaios Caderno de Artista com Eduardo Fukushima (2020), do dançarino Eduardo Fukushima e do editor/sonoplasta Chico Leibholz (SP); e os vídeos-depoimentos Oralidanças – compartilha de processo (2021), da Cia Balé Baião (CE).
    Referenciamo-nos, ainda, em duas obras expandidas de videodança: o curta-metragem coreográfico documental NoirBlue – deslocamentos de uma dança (2017), da bailarina e coreógrafa da imagem Ana Pi (Brasil/França), com estreia no Centro Georges Pompidou em Paris; e o curta-metragem Sensações Contrárias (2007), de Amadeu Alban, Jorge Alencar e Matheus Rocha (Salvador/BA), premiado como melhor vídeo experimental no Festival de Gramado (2007).
    A saber, esta comunicação e algumas das obras citadas compõem a proposta VIDEODANÇARES, submetida ao projeto Telas Abertas 2021, através da Escola Pública de Audiovisual, direcionada ao Cineclube da Vila das Artes, da Prefeitura de Fortaleza (CE). Nesta curadoria experimental, propomos tensionar o corpo que dança em suas videografias e cinematografias a partir de distopias, passagens, resiliências e movências com a dança coreográfica, dramatúrgica, improvisada e performática.

Bibliografia

    AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? (Feminismos Plurais). Belo Horizonte: Letramento, 2018.
    ALVES, Liliane Luz. VIDEODANÇAS NO CEARÁ: uma análise das tensões políticas entre local e global. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – PUCSP, São Paulo, 2013.
    ARRAIS, Joubert de Albuquerque. Danças Filmadas: Coreografia e Comunicação Audiovisual. Anais do XXI Encontro da Socine. João Pessoa, 2017.
    DE OLIVEIRA, Ana Carolina Moura (Ana Pi). Videodançar – um verbo possível. Monografia (Graduação em Dança) – Escola de Dança, UFBA, Salvador, 2009.
    GREINER, Christine. O corpo em crise. Novas pistas e o curto-circuito das representações. São Paulo: Annablume, 2010.
    MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & pós-cinemas. São Paulo: Papirus, 1997.
    MICHAUD, Philippe-Alain. Filme: por uma teoria expandida do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
    SANTANA, Ivani. Dança na Cultura Digital. Salvador: EDUFBA, 2006.
    RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: Estética e Política. São Paulo: Ed. 34, 2005.