Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Leandro Rocha Saraiva (UFSCar)

Minicurrículo

    LEANDRO SARAIVA é roteirista e professor do Curso de Imagem e Som da UFSCAR. Escreveu roteiros para TV (Cidade dos Homens 9mm, Street Art), e para cinema (A fúria, de Ruy Guerra, e Nimuendajú, de Tânia Anaya – ambos em produção). Fez pesquisa de personagens em Peões (Eduardo Coutinho). Foi coordenador pedagógico do DOCTV, editor das revistas Sinopse e Retrato do Brasil. Publicou Manual de roteiro, ou Manuel, o primo pobre dos Manuais. É colaborador e conselheiro do Vídeo nas Aldeias.

Ficha do Trabalho

Título

    Tropa de Elite e Elite da Tropa: descrições esquemáticas

Seminário

    Cinema Comparado

Resumo

    A comunicação pretende apresentar um resumo esquemático das estruturas narrativas e do quadro de personagens de Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite II (2010), dirigidos por José Padilha, com roteiro dele e de Bráulo Mantovani, e o livro (em duas partes), Elite da Tropa (2006), de Luiz Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Batista.

Resumo expandido

    A comunicação pretende apresentar um resumo esquemático das estruturas narrativas e do quadro de personagens dos dois longas dirigidos por José Padilha – Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite II (2010) e o livro Elite da Tropa (2006), de Luiz Eduardo Soares, Rodrigo Pimentel e André Batista, com suas partes 1 e 2.

    Ainda que se possa perceber claramente uma semelhança de projeto, entre as partes um e dois do livro, e os dos filmes – o mergulho visceral na experiência do BOPE e o distanciamento dessa experiência, enquadrada na trama política da segurança pública do Rio de Janeiro, não se trata de adaptação, mas de aproximações de universo e de diálogo entre abordagens. Os roteiros para os dois filmes, foram escritos de modo autônomo, mas com declarada influência e diálogo com o livro em questão.

    A questão de fundo é análise do modo como cada uma destas obras, tendo como matéria o crime organizado, procede para “organizar um certo número de personagens segundo intuições adequadas da realidade social” (CANDIDO, p. 37). Se é que, de fato, o resultado é “adequado”: o que Antônio afirma, sobre Memórias de um sargento de milícias, aqui tomamos como indagação. Serão as obras em questão agudas “como percepção das relações humanas tomadas em seu conjunto”, tal como nosso crítico maior diz ser o caso do livro de Manoel Antônio de Almeida? Ou, ainda, comparativamente, em que grau o esquema de cada uma das quatro obras, organizado em função de seu quadro de personagens e relações entre eles, que se desdobra na estrutura narrativa, obtém ou não essa agudeza, capaz de flagrar aspectos estruturais da sociedade brasileira?

    Completando o esforço analítico, de redução estrutural das obras, subsidiariamente a esta proposta de definição de um quadro relacional de personagens, buscaremos caracterizar os modos de funcionamento do jogo de pontos de vista nas narrativas. E, ainda de forma bastante sintética, em função do objetivo comparatista, tentaremos uma caracterização das sequências de cada “trama”, em relação a sua “fábula” de base.

    Apesar da expressa inspiração em Dialética da Malandragem, esta comunicação não tem a pretensão de uma apreciação efetiva, nos trabalhos em análise.
    das possíveis homologias entre forma narrativa e forma social, no sentido mais profundo e acabado do clássico estudo de Candido. Nele, a descrição do quadro esquemático já está informada pelo princípio de fundo, que dá titulo ao ensaio. Aqui, de forma mais modesta e inicial, o principal interesse é a experimentação de um modo de descrição dos princípios narrativos das obras literárias e audiovisuais. A pergunta sobre a forma narrativa e forma social fica como horizonte, tendo consciência que ela exigiria um aprofundamento bem maior das obras em seus movimentos internos, para além destas descrições de esquemas ainda iniciais.

Bibliografia

    BORDWEL, David. Narration in the fiction film. Madison: University of Wisconsin Press, 1985.

    CANDIDO, Antonio. Dialética da malandragem. In: O discurso e a cidade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul Editora, 2015

    GENETTE, Gérard, Discurso da Narrativa, Lisboa, Vega, 1995.

    LUKACS, György. A polêmica entre Balzac e Stendhal. In: Ensaios sobre literatura. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1968.

    SCHWARZ, Roberto. Pressupostos, salvo engano, de “Dialética da malandragem”. In: Que horas são? Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

    TODOROV, T. Teoria da Literatura In: Textos dos formalistas russos. Lisboa, 1999.

    XAVIER, Ismail. Do texto ao filme: a trama, a cena e a construção do olhar no cinema. In: PELEGRINI, Tânia [et ali]. Literatura, cinema e televisão. São Paulo: Ed. Senac/Itaú Cultural, 2003.

    _____________________. O olhar e a voz: a narração multifocal do cinema e a cifra da História em São Bernardo. Literatura E Sociedade, 2(2), 126-138, 1997