Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Lopes (UFF (PPGCINE))

Minicurrículo

    Formado em Cinema pela UFF e com especialização em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM, Felipe Lopes trabalhou por mais de cinco anos na SEC-RJ, tendo sido Superintendente de Audiovisual. Coordenou a Première Brasil no Festival do Rio, atuou como Gerente de Programação e Marketing da ArtHouse Distribuição. Desde maio de 2019, está na Vitrine Filmes atuando como diretor da distribuidora e teve como principais lançamentos Bacurau, A Vida Invisível, O Farol e Druk. Atual presidente da ANDAI.

Ficha do Trabalho

Título

    Reality Show: Narrativas de Survivor e Big Brother Brasil

Resumo

    O reality show é um gênero televisivo onde a produção de sentido para o espectador e a encenação dos atos ocorrem com um pressuposto discurso de realidade, mas performados a partir de códigos da ficção.

    O painel abordará construção de narrativas no Big Brother Brasil e Survivor em 2020 a partir de três eixos:
    – as narrativas transmidiáticas oficiais dos canais de televisão;
    – a percepção do público e criação de conteúdos e narrativas pelos espectadores;
    – a performance de si dos participantes.

Resumo expandido

    O reality show é um gênero televisivo onde a produção de sentido para o espectador e a encenação dos atos ocorrem com um pressuposto discurso de realidade. Este painel apresentará uma análise de como diferentes elementos narrativos são utilizados para a construção de arcos dramáticos de duas diferentes obras deste gênero.

    Como objeto de estudo, serão comparados os realities competitivos que se destacam por sua longevidade no ar – ambos com quase duas décadas contínuas nas grades da TV – e por seu forte engajamento de público: “Survivor” e “Big Brother Brasil”. Com o recorte das edições exibidas no ano de 2020, será apresentada uma análise com base no momento histórico onde estas se inscrevem, numa sociedade hiperconectada, onde a intimidade é exposta publicamente.

    Produtores, espectadores e participantes dos realities constroem suas narrativas de formas complementares e com novas subjetividades e disputas sociais, incluindo questões de gênero e raça. O trabalho relaciona as construções de narrativas oficiais dos programas e outras transmidiáticas produzidas pelo público, pautado pelo conceito inteligência coletiva na perspectiva das mídias em convergência, e pelos jogadores, alçados ao status de celebridade e performando suas experiências não só nas telas dos programas, mas também em suas redes sociais.

    Passados mais de duas décadas do surgimento de Survivor e Big Brother, observa-se que a manutenção de ambos os formatos como conteúdos audiovisuais de sucesso na televisão e com um impacto tão grande na audiência ocorre a partir de processos que não podem ser analisados estritamente ao poder de produção dos canais de televisão. Com a convergência nos meios de comunicação e mudanças nas relações de mediação, na virada da década de 2020, observa-se um cenário em que a participação dos espectadores nas redes sociais criam não só espaço de disputa com os produtores do programa que incorporam pautas atuais no âmbito dos problemas de gênero e raça, colocando em questão o ideal padronizado da figura do “vencedor”, que era ainda reiterada no início do século XXI. Na história da televisão, sempre houve mediação, mas nota-se uma mudança na mediação e nas relações de poder. Ressalta-se que, em um mundo audiovisual multiplataforma, “a convergência refere-se a um processo, não a um ponto final” (Jenkins, 2009: 43).

    Enquanto formato, os dois programas apresentam diferenças nos modelos de produção e em narrativas que trazem referências das séries americanas no Survivor e nas telenovelas brasileiras no Big Brother Brasil. Entretanto, há um objetivo na produção propriamente dita da realização de conteúdos seriados com forte apelo emocional no espectador, incorporando marcas nos intervalos comerciais e merchandising e utilizando os números do engajamento e a mediação realizada pelos expectadores com um uso capitalista, com maior lucro. Paradoxalmente, o espectador se torna mais ativo na construção de narrativa e suas interpretações são apropriadas pelo programa, e este mesmo programa traz mais lucro para os canais quando estes conquistam a audiência. Ou seja, há concomitantemente uma maior força do público perante o conteúdo produzido e nas reivindicações de suas pautas sociais, como gênero e raça, e também uma estratégia comercial de engajamento, para que este público crie uma relação de pertencimento e uma percepção de influenciador na obra.

    Não podemos encontrar um padrão único na construção de narrativas no reality show e que o discurso de que há uma manipulação ou poder exclusivo na edição oficial exibida pelos canais de televisão é uma forma limitada e que subjulga a capacidade do público de também exercer seu poder, não sendo passivo nas relações de mediações dentro do campo da cultura de massa, nos termos de Martin Barbero (1987). Observamos novas subjetividades na sociedade contemporânea hiperconectada e com influência dos espectadores nas redes sociais, ampliando o espaço de discussões e disputas nas questões de gênero e de raça

Bibliografia

    BARBERO, Jesus Martin. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

    BENJAMIN, Walter; Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8. ed. rev. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet, revisão técnica de M. Seligmann-Silva. São Paulo: Brasiliense, 2012.

    ECO, Umberto. TV: la transparencia perdida. La estrategia de la ilusión, p. 200-223, 1986.

    ENNE, Ana Lucia. As narrativas da torcida #clanessa: representação, identificação, projeção e mediação como conceitos-chave nas dispustas discursivas em torno do BBB14. In: X ENECULT, 2014, Salvador. X ENECULT. Salvador: ENECULT, 2014. v. 0. p. 1-15.

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Tradução de R. Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2009.

    KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru: EDUSC, 2001.

    MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999

    SCOLARI, Carlos Alberto. Narrativas transmedia: cuando todos los medios cuentan. 2013.