Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Carolina Soares Pires (USP)

Minicurrículo

    Carolina Soares é pesquisadora e crítica de cinema. Realiza pesquisas em audiovisual, com foco na relação entre literatura e cinema/TV, adaptação e cinema brasileiro. É Mestra em Meios e processos audiovisuais pela ECA-USP e doutoranda no mesmo programa. É também realizadora e educadora em audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Cubas e Casmurro-a adaptação da narrativa autoconsciente não-confiável

Resumo

    Análise das adaptações para cinema e TV dos romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1889) com base nos conceitos de narrativa autoconsciente e não-confiável, tendo como referencial teórico os estudos de narratologia e adaptação, sobretudo os de Booth, Chatman, Stam e Johnson. Articula-se uma análise comparativa dessas adaptações para traçar um quadro do diálogo do cinema e da TV com os dois romances, tendo como eixo principal a estrutura narrativa.

Resumo expandido

    O presente trabalho inscreve-se no campo de investigação da adaptação da literatura para o audiovisual e, por conseguinte, do modo como se relacionam o cinema e a televisão com a literatura, por meio da análise de adaptações cinematográficas e televisivas, tendo como objetivo explorar os aspectos narrativos da adaptação audiovisual, especialmente as questões específicas da narrativa autoconsciente e não-confiável. Para tanto, são abordadas as inter-relações entre obras audiovisuais adaptadas para cinema e para televisão de dois textos literários cujas narrativas podem ser classificadas como autoconscientes e não-confiáveis: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1889). A pesquisa abrange as adaptações para o cinema e para a televisão desses dois romances de Machado de Assis. São analisados os filmes Brás Cubas (1985), de Júlio Bressane e Memórias póstumas (2001), de André Klotzel, assim como o filme Capitu (1968), de Paulo César Saraceni, e a minissérie Capitu (2008), da Rede Globo, dirigida por Luiz Fernando Carvalho, tendo como referencial teórico os estudos de narratologia e adaptação, sobretudo os de Booth, Chatman, Stam e Johnson.
    Sob o ponto de vista da narratologia, investiga-se como são construídas e estruturadas narrativamente as adaptações dessas narrativas autoconscientes e não-confiáveis. São observados os elementos constitutivos e os processos de construção narrativa dessas adaptações, as influências e as interfaces dessas obras, assim como outras relações intertextuais relevantes para a análise. Por meio da análise fílmica e do estudo comparativo, investiga-se o percurso da construção narrativa das adaptações e suas implicações na obra resultante. Tomando por base a noção de que a construção narrativa dessas adaptações é influenciada pela forma, busca-se: compreender como se dá essa relação no âmbito da narrativa autoconsciente e não-confiável; identificar particularidades da interlocução dessas adaptações com os textos de origem e analisar a construção narrativa dessas adaptações audiovisuais.
    Os dois romances selecionados representam notadamente referência de narrativa autoconsciente e não-confiável: o relato dos fatos, em ambas as obras, é mediado pela própria personagem, que exibe essa mediação e cuja confiabilidade é questionável. Essa não-confiabilidade é revelada ao leitor implícito por meio da ironia e da construção narrativa que desautoriza o discurso dessas personagens e deixa ver que existe um processo de autofalsificação orquestrado pelo narrador-personagem. Traçar um paralelo entre as obras literárias, haja vista as similitudes na construção narrativa de ambas, possibilita aprofundar aspectos da análise das adaptações, que exibem estéticas e estilos diversos e constroem relações diferentes com as fontes, convergindo na análise comparativa dessas adaptações para traçar um quadro do diálogo do cinema e da TV com ambos os romances.
    A análise do diálogo entre as obras audiovisuais e os respectivos textos literários explora como escolhas de estilo, mise-en-scène, montagem e o tom geral da representação constroem determinada relação com o texto de origem; como se dá esse diálogo intertextual; como se dá a relação entre obra e espectador nessas adaptações; como e se se reproduz, na relação entre adaptação audiovisual e espectador, relação semelhante à que se estabelece entre narrador e leitor nos romances e por que motivo. Articulando essas análises, investiga-se como essas adaptações se relacionam entre si; quais eixos têm em comum; quais suas similaridades; que diferenças e particularidades existem e em que posição cada uma se localiza na construção geral de um diálogo entre o audiovisual e essas duas obras literárias.
    O horizonte deste trabalho é oferecer uma contribuição para o melhor entendimento das relações entre literatura e audiovisual sob o prisma da narratologia, por meio da análise do fruto por excelência da relação entre essas duas artes: a adaptação.

Bibliografia

    CALDWELL, Helen. O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.
    CHATMAN, Seymour. Coming to Terms: The Rhetoric of Narrative in Fiction and Film. Ithaca: Cornell University Press, 1990.
    _____. Story and discourse: narrative structure in fiction and film. Ithaca, NY: Cornell U.P., 1978.
    GLEDSON, John. Machado de Assis: impostura e realismo – uma reinterpretação de Dom Casmurro.São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
    JOHNSON, Randal. Literatura e cinema. Macunaíma: do modernismo na literatura ao cinema novo. São Paulo: T. A. Queiroz, 1982.
    SCHWARZ, Roberto. “A poesia envenenada de Dom Casmurro”. Novos Estudos CEBRAP, n. 29, p. 85-97, março, 1991.
    ____. Um mestre na periferia do capitalismo. Editora 34, 2012
    STAM, Robert. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
    ______. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. Ilha do Desterro, Florianópolis, n. 51, p.19-53, jul/dez, 2006