Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Fahya Kury Cassins (UNISOCIESC)

Minicurrículo

    Graduada em Cinema e Vídeo (UNISUL) e em Filosofia (UFSC), mestra em História (UDESC). Professora do curso de Cinema e Audiovisual (UNISOCIESC), atua como roteirista, diretora e produtora em Santa Catarina. Atualmente pesquisa roteiros e processos de criação.

Ficha do Trabalho

Título

    Mudança de paradigma do roteiro: dos manuais ao processo criativo.

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Resumo

    O roteiro, dentro da produção audiovisual, já foi visto de diversas formas. Porém, no ensino dos cursos de cinema, tem sido comum focarem na assimilação da formatação e em seguir manuais de roteiros. Então, procura-se aqui desenvolver a concepção do ensino de roteiro como uma visão crítica dos manuais e mais focada nos processos criativos individuais e coletivos.

Resumo expandido

    O roteiro nunca foi sempre o mesmo na história do cinema. Os manuais, até pouco tempo atrás, dominavam o ensino nas escolas de cinema e “o vocábulo roteiro costuma ser unicamente vinculado a técnicas e formas de se contar ‘uma boa história’.” (GONÇALO, 2017, p 124). Ainda hoje, ao analisarmos as ementas de disciplinas curriculares, a base do ensino de roteiro está estreitamente baseada nos manuais e formas tradicionais clássicas de se contar a tal “boa história”. Contudo, percebe-se que se faz necessária uma mudança de paradigma ao ampliarmos os estudos de roteiro.
    Visto como uma estrutura que orientava a produção, o roteiro estava diretamente relacionado à técnica de filmagem e montagem, sem ter sua origem como antecedente às filmagens e como um processo em separado, o que viria a ocorrer com a “Nova Hollywood”, quando surge a figura do roteirista e até do autor-roteirista (GONÇALO, 2017, p. 126). Neste caminho, o roteiro vai adquirindo diferentes formas no meio de produção cinematográfica, estreitando a relação com os meios de produção industriais. Desta forma, também, os manuais buscam apresentar como contar uma boa história, dentro dos limites e formatos dos sucessos que a indústria pede, focando seu espaço no mercado e não no ensino em especial.
    Assim, os manuais parecem nos dizer que existe “a” melhor forma de contar “uma” história. Exclui-se como contar outras histórias, de outras formas, mesmo quando tratam de formatos de diferentes meios (roteiro para cinema, televisão, etc.). Ao trabalhar com o ensino de cinema e audiovisual, as próprias ementas dos cursos e bibliografias incitam à repetição destes modelos como, aparentemente, único caminho a ser seguido.
    Contudo, ao pesquisar teorias da adaptação e de processos criativos, entende-se que há outros caminhos que devem ser explorados. O palimpsesto, termo apresentado por Genette, é um ponto de partida para que cada roteirista ou aluno de cinema estudante de roteiro compreenda seu lugar no meio da criação, enquanto seres de escrita e reescrita de todas as referências e histórias que vamos somando em nós. A partir disso, Linda Hutcheon (2013) e Robert Stam (2003/2006) aprofundam termos e diferenças que constroem a percepção de cada um como criador num mundo de influências para adaptadores. Estes são alguns dos pontos que abrem as portas da busca pelo processo criativo de cada um, aliando as pesquisas da intermidialidade e do roteiro.
    Como exemplo, tem-se os projetos de desenvolvimento de roteiros, para longa-metragem e narrativas seriadas, que concorrem em editais públicos e de eventos de roteiros, nos quais é importante observar que não se vê mais o roteirista como um indivíduo isolado que escreve suas narrativas. Nestes projetos são valorizados quem produz, acompanhado de pesquisadores e produtores executivos, por exemplo, assim como mais roteiristas no que se convencionou chamar de salas de roteiristas. Esta visão é elucidativa de como se pratica a escrita do roteiro atualmente.
    A pesquisa analisa o ensino de roteiro, como os modos de escrita precisam enaltecer que cada projeto tem suas necessidades, tanto no contexto que está inserido, como nas intenções da relação com o público. O formato deve ser tensionado de acordo com os processos da produção dos roteiristas. Para identificar esses processos, é preciso angariar para análise os cadernos de notas, diários, publicações diversas, arquivos de voz e imagem, registros audiovisuais, as várias versões pelas quais passou o roteiro, etc. (SALLES, 2016). O que pretende-se apontar é que o processo criativo do roteirista implica em tomada de consciência, pois “Diante da complexidade dos aspectos envolvidos nesses processos de produção, algo que fica patente, ainda em um sentido bem geral, é a relevância de compreender as implicações das tomadas de decisão, critérios, baseados nos princípios direcionadores dos membros da equipe e, consequentemente, comandos.” (SALLES, 2016, p. 8).

Bibliografia

    FIGUEIREDO, V. L. F. de. Narrativas migrantes: literatura, roteiro e cinema. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: 7Letras, 2010.
    GENETTE, G. Palimpsestos: a literatura de segunda mão. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
    GONÇALO, Pablo. O cinema como refúgio da escrita: Roteiro e Paisagens em Peter Handke e Wim Wenders. São Paulo: Annablume, 2016.
    HUTCHEON, L. Uma teoria da adaptação. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.
    SALLES, Cecília Almeida. A complexidade dos processos de criação em equipe: Uma reflexão sobre a produção audiovisual. Universidade de São Paulo, 2016. [Relatório de Pós-doutorado].
    STAM, R. Do texto ao intertexto. IN: _______. Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus, 2003.
    ________. Teoria e prática da tradução: da fidelidade à intertextualidade. IN: Anelise R. Corseuil (Ed.). Revista Ilha do desterro, nº 51 – Jul/Dez, 2006 – Florianópolis, UFSC.