Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Milena Leite Paiva (UNICAMP)

Minicurrículo

    Milena Leite Paiva é diretora de arte e designer visual. Graduada em Design pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestre em Multimeios e doutora em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Ficha do Trabalho

Título

    O pensamento da cor na direção de arte audiovisual

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Resumo

    Este artigo apresenta os resultados de uma investigação conceitual e metodológica acerca da inserção da cor nos processos da direção de arte audiovisual e do seu papel na estruturação da visualidade, buscando mapear o pensamento da cor nas etapas de um projeto de arte a partir de três perspectivas: teórica, metodológica e prática. Dos autores acessados no estudo da direção de arte destacamos Butruce (2005), Hamburger (2014) e Block (2010), e no estudo das cores, Guimarães (2000).

Resumo expandido

    Em uma obra audiovisual, as cores cumprem um importante papel de construir, diferenciar e interrelacionar formas, texturas e superfícies, estruturar as relações de figura-fundo nos planos e se projetar da materialidade da cena para a visualidade imagética. Definimos como pensamento da cor na direção de arte audiovisual à subjetividade que permeia a concepção das cores em um projeto de arte e os seus desdobramentos na estética da imagem. No presente artigo, apresentamos os resultados de um mapeamento deste processo de criação cromática, a partir de três perspectivas: teórica, metodológica e prática.

    Para a abordagem teórica do campo da direção de arte, entre os autores acessados destacamos Butruce (2005), Hamburger (2014) e Block (2010), e para o estudo das cores, utilizamos principalmente Guimarães (2000). Deste percurso investigativo, construímos três conceitos que estruturam o trajeto da cor desde a sua concepção na materialidade da cena até a sua configuração na superfície da imagem audiovisual: os conceitos de cor material, de forma-cor e de cor diegética.

    A cor material demarca as cores refletidas pelos elementos materiais da cena. Sendo a cor um percepto e, portanto, sem uma existência material, o conceito pretende assinalar o contexto cromático investigado – a materialidade cênica no set de filmagem – no qual os meios expressivos da cor – tais como tintas e pigmentos, tecidos, papéis, objetos, etc – são compostos por substâncias químicas capazes de refletir as cores, o que cria a ilusão de que a cor é inerente às superfícies materiais.

    Já o conceito da cor diegética nasce da hipótese de que se há espaços, tempos e sons diegéticos, há também cores diegéticas. A definição de diegese empregado neste estudo é o descrito por Aumont (1993) que a define como “um mundo fictício que tem leis próprias”. Ao colocar nesses termos, o autor favorece uma visão tridimensional e material do que seria uma diegese, o que evidencia e amplia o papel da direção de arte na criação do universo diegético. As cores diegéticas seriam as cores que estruturam a imagética audiovisual a partir do cromatismo espacial e material deste mundo ficcional, assim como do aspecto visual das personagens que nele transitam.

    Neste sentido, a cor material seria a camada base da cor diegética e a sua concepção demandaria uma intensa carga conceitual. A depender da sua força expressiva, a cor material pode se expandir na visualidade, tornando-se uma forma-cor, uma simbiose visual que destaca os contornos formais da matéria a partir da expressividade cromática e potencializa os discursos narrativo visuais construídos pelas cores diegéticas. Visando ilustrar tais conceitos, traçamos uma análise do espaço da cor na visualidade da telenovela Meu Pedacinho de Chão (2014), de concepção e direção artística de Luiz Fernando Carvalho e veiculada pela Rede Globo de Televisão; um obra que traz a cor material como um elemento de protagonismo na estética visual das imagens.

    Com base nesta sistematização teórica, definimos a criação de paleta de cores como um dos principais processos cromáticos da direção de arte. Neste sentido, na perspectiva metodológica da pesquisa, nos referenciamos na bibliografia acessada e em uma experimentação laboratorial de métodos para estruturar uma metodologia de criação de paletas de cores, a partir da qual construímos um projeto de paletas de cores para uma obra audiovisual.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993.
    BLOCK, Bruce A. A narrativa visual: criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais. Tradução: Cláudia Mello Belhassof. São Paulo: Elsevier, 2010.
    BUTRUCE, Débora Lúcia Vieira. A Direção de arte e imagem cinematográfica. Sua inserção no processo de criação no cinema brasileiro dos anos 1990. 2005. 227f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Imagem e Informação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
    GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. A construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores. São Paulo: Annablume, 2000.
    HAMBURGER, Vera. Arte em cena: a direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Editora Senac São Paulo; Edições Sesc São Paulo, 2014.

    Imagem em Movimento
    MEU PEDACINHO DE CHÃO. Direção de Luiz Fernando Carvalho. Rio de Janeiro: Rede Globo 2014.