Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Filomena Gregori (Unicamp)

Minicurrículo

    Professora Livre-Docente do Departamento de Antropologia (UNICAMP, 2010), possui graduação em Ciências Sociais (UNICAMP,1981), doutorado em Antropologia Social (USP, 1997), estudos de pós-doutorado no Departament of Anthropology (UNIVERSITY OF CALIFORNIA, Berkeley, 2001) e programa de visiting scholar na Columbia University (Nova Iorque, 2016). É autora, entre outras publicações, dos livros: Prazeres Perigosos – Erotismo, Gênero e Limites da Sexualidade. São Paulo: Cia das Letras 2016.

Ficha do Trabalho

Título

    Passagem para a cidade

Mesa

    Dossiê Erotismo, literatura e cinema em “A dama do lotação”

Resumo

    “A dama do lotação”, o filme, traz cenas que inspiram a pensar criticamente sobre uma certa neutralização, nos dias atuais, das utopias transgressoras dos anos 70. Suas imagens, matéria e sons desafiam formas contemporâneas de erotismo e parte das limitações com que elas se expressam, sobretudo, se levarmos em conta a criação, nas últimas décadas, de um mercado erótico politicamente correto atento, sobretudo, à saúde, à segurança e à autoestima.

Resumo expandido

    Análise do filme sugere problematização produtiva questões postas pelos estudos de gênero para a análise de uma versão potente dos prazeres femininos. Essa ideia é vigorosa para pensar a rentabilidade das transgressões no marco do erotismo: não se trata apenas de postular que o sujeito não é composto por fronteiras estáveis – e nessa medida, relacional –, mas de pensar o movimento dinâmico entre normas, escolhas e mudanças. O propósito não reside em contestar a evidência das normas ou ainda de tornar obsoleta uma noção como autonomia. Significa apenas não aceitar as normas como destino inescapável, como uma natureza, e autonomia como autodeterminação. Pensar sobre gênero e sexualidade – a partir de experiências e referências eróticas – torna inescapável tratar das normas, âmbito que nos constitui sem que possamos inteiramente escolher, mas que paradoxalmente nos fornece o recurso e o repertório para as escolhas que temos e fazemos.
    Além disso, ao lidar com a sexualidade nas suas expressões eróticas, estamos diante de experiências que mobilizam fantasias e fantasmas: situações, referências, imagens, fragmentos de memória e sensações que, mesmo sendo gestados em torno e no campo das normas, apontam para além delas. As fantasias não são o oposto da realidade e suas dinâmicas e expressões constituem uma realidade própria. Elas nos interessam porque, segundo Butler, nos colocam diante dos limites da realidade ou daquilo que implica o seu “exterior constitutivo”. Ou as fantasias são elementos constitutivos da realidade – em chave relacional indicam anseios de alteridade?
    Assim, as fantasias e os fetiches, tal qual estão tão veementemente presentes em cenas de “A dama do lotação”, são relevantes para a reflexão porque expõem a contingência das normas. Esse esforço é relevante para pensar, de um lado, a realidade, ou, em outros termos, para indagar sobre a relatividade das normas que são definidas socialmente como constituindo o real; de outro lado, a contingência abre para uma investigação sobre as mudanças, até mesmo para a superação de certas desigualdades implicadas em marcadores de diferença, como gênero e sexualidade. Esses marcadores, antes de poderem ser considerados estáveis ou definitivos, podem ser tomados como termos abertos à imaginação e à contestação.

Bibliografia

    Barthes, R. Sade, Fourier, Loiola (Lisboa: Edições 70, 1979)
    ————— Mitologias, (São Paulo: Difel, 5.Edição, 1982