Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Iomana Rocha de Araújo Silva (UFPE)

Minicurrículo

    Professora do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE/ CAA, doutora e mestre em comunicação pela UFPE, desenvolve pesquisa ligada ao cinema brasileiro contemporâneo e à direção de arte. Desenvolve trabalhos práticos na área de direção e produção de arte para cinema desde 2007. É pesquisadora do Núcleo de Investigação em direção de arte Audiovisual – NIDAA (CNPq).

Ficha do Trabalho

Título

    O brega e o artifício na direção de arte de filmes pernambucanos

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Resumo

    Este trabalho observa os filmes Amor, plástico e barulho e Estás vendo coisas. Nestes filmes aponto uma forte presença da estética brega, em uma visualidade ao mesmo tempo marcada pelo naturalismo e pelo artifício. São filmes cuja direção de arte explora o kitsch e as relações dos espaços com os corpos. Observo a potencialização e reconfiguração de signos populares, associados a uma sofisticada plasticidade, comprovando o artifício como fenômeno estético tão importante quanto a narrativa.

Resumo expandido

    O filme Amor, plástico e barulho (Renata Pinheiro, 2013) é um musical que imerge no universo da música brega recifense, seus personagens e histórias se desenrolam impregnados de uma sensibilidade própria deste rico recorte social e cultural. Na narrativa acompanhamos uma diva da música brega em decadência, atravessando questões existenciais por conta da ascensão de uma colega mais jovem. O contraste entre estas personagens reflete melancolicamente uma dolorosa relação das divas com o tempo, com a perda da juventude, com a mecanicidade da indústria cultural. Este filme, com direção de arte de Thales Junqueira e Dani Vilela e figurino de Joana Gatis, mescla esteticamente uma tendência naturalista à uma estética do artifício, tenta refletir o contexto periférico recifense ao mesmo tempo construindo cenas plásticas e oníricas que exploram elementos próprios da “estética brega”. A apropriação de referências da cultura pop internacional, a presença marcante do kitsch, o protagonismo dos corpos, próprio desta cultura brega, são alguns dos elementos que atravessam esta estética e inspira a direção de arte deste filme. Existe uma plasticidade sofisticada no processo de construção das imagens de Amor, plástico e barulho, que se usa dos elementos naturalistas, mas potencializa e reconfigura seus signos. Com uma proposta estética que dialoga diretamente com este filme observo também o curta Estás vendo coisas (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, 2017), uma produção pernambucana que transborda as formas tradicionais do cinema. Trata-se de um filme produzido para a 32º Bienal de Arte de São Paulo, na qual era projetado em um ambiente instalativo juntamente com fotos da artista. Após a Bienal, o filme se insere no circuito do cinema, sendo exibido em festivais importantes como Berlim e Janela de Cinema. O filme apresenta o universo brega de Recife por meio de um olhar ao mesmo tempo documental e onírico, com participação direta de figuras reais do contexto brega e fortes influências do gênero musical e dos clipes. O filme, com direção de arte de Benjamin de Burca e Thiago Leal, acompanha dois personagens que se deslocam entre seus empregos comuns (cabeleireiro/ bombeira) e suas vidas junto ao universo de shows das bandas que participam. Por meio de imagens marcadas pelo artifício, o musical é filmado no interior de uma casa noturna, trabalhada cenograficamente com elementos da estética brega recifense, transformados de modo a criar um universo imersivo no qual os dois personagens performatizam. A peculiar estética brega recifense é descontextualizada e apropriada pelo universo da arte contemporânea. Bárbara Wagner e Benjamin de Burca pensam a construção das imagens voltadas para uma plasticidade própria das artes visuais, principalmente no que diz respeito à temporalidade das imagens e da composição visual da cena, a disposição plástica dos objetos e corpos, explorando a estética do artifício associada ao universo estético do Brega recifense. Partindo desses filmes, busco observar as propostas estéticas da direção de arte, explorando seus cenários, figurinos, inspirações, evidenciando um caminho que perpassa por variações de uma estética naturalista, mas também enfatizam o artifício. A direção de arte desses filmes propõe uma linguagem mais alegórica, mais lúdica, marcada pela coexistência paradoxal do naturalismo e do artifício, uma mescla que provoca um efeito visual interessante e imersivo. Apontando e enfatizando nesses filmes a presença do artifício, busco comprovar o artifício como fenômeno estético tão importante quanto a narrativa.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 2008.
    ANCHIETA, José de. Cenograficamente: Da cenografia ao figurino. São Paulo: Edições SESC, 2015
    BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Editora Perspectiva, 2012
    HAMBURGER, Vera. Arte em cena: A direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Edições SESC, 2014.
    LOPES, Denilson. Afetos. Estudos queer e artifício na América Latina, E-compós, Brasília, v.19, n.2, maio/ago. 2016.
    SOARES, Thiago. Ninguém é perfeito e a vida é assim: a música brega em Pernambuco. Recife: Outros Criticos, 2017.
    VALENTE, Antonio. Il cinema e la costruzione dell’artificio. Pisa: Edizioni ETS, 2017.
    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Cosac e Naify,2012