Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Laís Lima Pinho (ufscar)

Minicurrículo

    Laís Lima é pesquisadora, cineasta pela UFRB, mestre em imagem e som pela UFSCar e atua como diretora e editora independente, é membro da equipe do CachoeiraDoc e também curadora de festivais de cinema. Em 2020 foi premiada pelo governo do estado da Bahia para a produção do filme Bembé em tempo de Pandemia e também foi contemplada com o prêmio de exibição da lei Aldir Blanca da TVE (ba) para exibição do curta documentário Yabás.

Ficha do Trabalho

Título

    Êxodo Hollywoodiano

Resumo

    Trabalho e representação feminina na televisão são o foco deste trabalho. Popomos uma reflexão a respeito das batalhas diárias encaradas pelas mulheres operárias do audiovisual, mais especificamente o caso das mulheres do cinema Hollywoodiano que estão migrando para a televisão. E de como a televisão pode ser um espaço audiovisual mais aberto ou simpático para abrigar o trabalho feminino, dentro e fora da tela. Mas há um longo caminho deste processo de ocupação das mulheres nas séries de TV.

Resumo expandido

    No cinema e audiovisual, o cenário em relação à condição das mulheres no campo de trabalho, de alguma forma procurou isolá-las no lugar de objetificação. Não cabia às mulheres o espaço por detrás das câmeras mas sim diante delas, atendendo um desejo ou contemplação do público, Laura Mulvey (1983).
    É o caso do fenômeno das atrizes de Hollywood que têm em suas carreiras um período curto de tempo no lugar de “musas” ou “símbolos sexuais”, ou como colocaram no esquete do programa Inside Amy Schumer intitulado “The last F**kable Day”, as atrizes estadunidenses Amy Schumer, Julia Loius-Deyfrus, Patricia Arquette e Tina Fey, satirizam o comportamento da mídia estadunidense que conferem às atrizes o limite de tempo em que elas são “comíveis” à medida que os anos vão passando e o tempo vai agindo sobre seus corpos. Ainda de acordo com o esquete, ao longo de suas carreiras, as atrizes começam a receber papéis de mães ou mulheres que não são mais consideradas desejáveis, e isso reflete no figurino das personagens que elas interpretam e até no material de divulgação dos filmes, que passam a ter “grandes cozinhas” como assunto principal de um cartaz, por exemplo, do que o rosto das próprias atrizes. Ao deixarem de ser objetos de desejo e sedução, as mulheres são enquadradas em papéis dissociados do objeto de querer numa moldura imaculada onde, segundo a mídia, não mais desejáveis.
    Conforme pontuamos, consideramos a televisão um espaço mais aberto ao trabalho feminino, não que este seja mais fácil, mas podemos considerá-lo um terreno fértil, propício a dar excelentes frutos. As recentes produções encabeçadas por mulheres tem se tornado exemplo disso pelo sucesso de público alcançado, por atender demandas que até pouco tempo não tinham espaço no âmbito do cinema e audiovisual.
    Diante a dificuldade de poder contar suas próprias histórias sem correr o risco de perder o prazo de validade, muitas atrizes do cinema Hollywoodiano veem fazendo uma movimentação que chamamos aqui de êxodo Hollywoodiano, elas estão migrando para a televisão onde a possibilidade de contarem e interpretarem personagens “normais”, como mulheres com mais de 30, 40 anos é uma realidade.
    O empoderamento das mulheres, a partir da condição e estabilidade financeira, do estabelecimento e reconhecimento dos seus trabalhos agregado ao capital simbólico por elas acumulado lhes propicia caminhar por outras áreas dentro do cinema e audiovisual. Muitas atrizes têm se tornado diretoras e produtoras, o que facilita que elas realizem e financiem projetos nos quais acreditam.
    Reese Witherspoon vem encabeçando a movimentação das atrizes Hollywoodianas que têm transitado entre o cinema e a televisão. Em 2017 a atriz assinou a produção executiva da série Big Little Lies (2017-2019), exibida pela HBO. Junto com ela, também assina a produção da série a atriz Nicole Kidman. A série também contou com a presença da premiada atriz Meryl Streep em sua segunda temporada.
    Mas Reese não parou por aí, fundou a empresa Hello Sunshine e fez parcerias com a HBO, a atriz também está envolvida com outras produções televisivas de empresas de plataforma stream. Como é o caso das séries The Morning Show (2020), título da Apple Tv+ e Little Fires Everywhere (2020) produzida e exibida pela Amazon Prime Video. Nas séries, Reese além de protagonista é também produtora executiva.
    O engajamento dessas atrizes em tentar mudar a realidade das mulheres no campo do cinema e audiovisual possibilitando a outras mulheres o empoderamento e formação no ofício do audiovisual é um pequeno passo no curso de mudança da situação histórica das mulheres na área. A criação de rede de apoio e fortalecimento do trabalho feminino é o começo para a mudança na nossa cultura da qual falou a autora Chimamanda Ngozi Adiche (2015): “Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar a nossa cultura.”.

Bibliografia

    ADICHE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas / Chimamanda Ngozi Adiche; tradução Christina Baum. – 1º ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
    BARBERO, J. e REY, G. Os exercícios do ver. Hegemonia audiovisual e ficção televisiva. São Paulo: ed. Senac, 2001.
    JOST, François. Do que as series americanas são sintoma? / François Jost, traduzido por Elizabeth B. Duarte e Vanessa Curvello. – Porto Alegre: Sulina, 2012.
    MULVEY, L. Prazer visual e cinema narrativo In: XAVIER, Ismail. (org.) A Experiência do Cinema. Col. Arte e Cultura, no 5. Rio de de Janeiro: Edições Graal, 1983
    RHIMES, Shonda. O ano em que disse sim: Como dançar, ficar ao sol e ser a sua própria pessoa / Shonda Rhimes; tradução Mariana Kohnert. 1º ed. – Rio de Janeiro: Best Seller, 2016.