Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Lueluí Aparecida de Andrade (Unesp – Bauru)

Minicurrículo

    Lueluí de Andrade é doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Unesp-Bauru (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação). A pesquisa para tese doutoral tem o título provisório “Produtos de mídia na confluência de linguagens: análise crítica da ‘poiesis’ à recepção”. E-mail: lueluih@yahoo.com Lattes em: http://lattes.cnpq.br/4122765900602370

Ficha do Trabalho

Título

    Comparando “La Jetée” e derivados, “Interestelar” e “Organismo”

Resumo

    Apresentamos breve análise comparada das obras “La Jetée” (1962, dir. Chris Marker, fotomontagem), “Twelve Monkeys” (1996, dir. Terry Gilliam), série televisiva “12 Macacos” (2015-2018, canal Syfy), “Interestelar” (2014, dir. Christopher Nolan) e a peça de tradução intersemiótica (a partir do livro-poema de Décio Pignatari “Organismo”), em fotografia estática, no filme “Cinema Falado” (1986, dir. Caetano Veloso), com base em categorias teóricas formuladas para o audiovisual e para a imagem fixa.

Resumo expandido

    A presente proposição insere-se na pesquisa para tese doutoral no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Midiática da Universidade Estadual Paulista – Unesp-Bauru, para a prospecção analítica, com base, entre outras instâncias, no trânsito entre linguagens, conjugando os estudos de cinema e imagem e da tradução intersemiótica.
    A análise comparada de obras constitui uma das etapas da pesquisa. Parte do ‘corpus’ é composto pelas obras audiovisuais “La Jetée” (França, 1962, dir. Chris Marker, fotomontagem), “Twelve Monkeys” (EUA, 1996, dir. Terry Gilliam), da qual derivou a série televisiva “12 Macacos” (EUA, 2015-2018, canal Syfy), e “Interestelar” (EUA, 2014, dir. Christopher Nolan) e pela peça de tradução intersemiótica a partir do livro-poema de Décio Pignatari “Organismo”, no filme “Cinema Falado” (Brasil, 1986, dir. Caetano Veloso), composta de fotos estáticas. As quatro primeiras obras têm a mesma premissa. A última guarda interlocução direta com a primeira no âmbito da linguagem (utilização da fotografia fixa no cinema) e dialoga com a literatura.
    “Twelve Monkeys”, “12 Macacos” e “Interestelar” configuram-se em larga medida como transposição para o cinema de indústria (de grandes orçamentos e de entretenimento), de uma obra considerada “cinema de autor” ou “cinema de arte”, “La Jetée”, a qual, a partir de ter como substrato a fotografia still, inovou na montagem, o que se comunica com a produção de sentido resultante. Pode-se considerar que certas facilitações e didatismos fazem as derivações perderem força e apuro, inclusive na forma.
    A proposta global para o estudo que realizamos visando ao doutoramento abrange confrontar categorias de análise já estabelecidas por diversos teóricos para a imagem estática (Jacques Aumont, Ernest Gombrich, José Luiz Aidar Prado, David Bordwell, Roland Barthes, Todorov, Jacques Ranciére, André Bazin, Philippe Dubois, Michel Foucault, Jean-Jacques Courtine, Susan Sontag, Boris Kossoy, Pierre Bourdieu, Edward Said, Axel Honneth, Chistine Greiner, Edward Saper e John Whorf, Paul Ricoeur, Jean Baudrillard, Slavoj Žižek, Antônio Quinet, Marcuse, Georges Didi-Huberman, e Propp), para o estudo da imagem (fotografia) bem como nos conceitos desenvolvidos pelos teóricos da tradução intersemiótica (em especial Julio Plaza e Haroldo de Campos), testando-as para o audiovisual.
    O ponto de partida é o cotejo das duas obras lançadas em momentos sócio-históricos diversos: “La Jetée”, filme icônico da ‘nouvelle vague’ francesa, de 28 minutos, produzido em 1962 por Chris Marker, e a transcriação do poema “Organismo” (Décio Pignatari, 1960, livro-poema), inserta na única produção audiovisual do artista Caetano Veloso, realizada em 1986, que têm como convergência o uso de fotografia fixa, estática, still para fazer audiovisual. Na primeira, o movimento é interno às fotografias. Na transcriação do poema, fotos são encadeadas, de modo a ecoarem os primórdios das explorações pré-cinema ou anteriores ao chamado primeiro cinema, quando dispositivos dispunham fotografias ou desenhos em sequência, produzindo a ilusão do movimento. O tema é sexo e o movimento dos corpos fica então ausente-e-presente. Sua transposição para o cinema deu-se no filme mencionado, feita também com base em fotografia estática, em sequência que acompanha o tempo do poema, que é o tempo do seu tema, o sexo com orgasmo; mas já nascera “cinematográfico”, já que se trata de um livro-poema em que cada página mostra um enquadramento, cada vez em ‘zoom in’ mais intenso, até explodir num ‘close-up’.
    Para aplicação das categorias de análise formuladas para imagens, convocamos contribuições ainda de outros autores, como Arlindo Machado e Thomas Elsaesser, Gilles Deleuze e Henri Bergson, bem como de realizadoras e realizadores que pensaram o cinema na confluência com a fotografia, no fazer, em escritos e em entrevistas, como Agnès Varda e o próprio Chris Marker.

Bibliografia

    BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Trad. Julio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2015
    _________. Lo obvio y lo obtuso: imágenes, gestos y voces. Barcelona : Paidós, 1986
    BAZIN, André. O que é cinema? São Paulo: CosacNaify, 2014
    BELLOUR, Raymond. Entre imagens: foto, cinema, vídeo. Campinas, SP: Papirus, 1997
    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo: cinema 2. Brasiliense, 2005
    MARZAL FELICI, José Javier. La poética del “punctum” en El Muelle, de Chris Marker. Revista L´Atalante, n 12, julio-deciembre 2011, p. 54. Disponível em . Acesso 03 mai 2021
    MACHADO, Arlindo. A ilusão especular. São Paulo: Brasiliense, 1984
    PLAZA, Julio. Tradução intersemiótica. São Paulo : Perspectiva, 1987
    SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004
    TUR, Antònia Escandell. Chris Marker y La Jetée, la fotografía después del cine. Editorial Jekyll&Jill, 2013