Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Kamyla Matias (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda em Cinema e Audiovisual na UFF, e graduada em Comunicação Social pela UFRN. Fundadora e diretora criativa da Do Corpo, Arte e Comunicação – produtora de imagem e comunicação intuitiva para profissionais da arte, da cultura e do corpo. Como pesquisadora do movimento, meu trabalho é pautado por processos multidisciplinares que nascem do audiovisual em diálogo com as artes do corpo, reverberando principalmente na videodança e outras intersecções em exploração.

Ficha do Trabalho

Título

    A Câmera-corpo e a Edição Coreográfica nas Videodanças de CI

Resumo

    A composição corpo, tempo e espaço para a tela gera ao longo da história do cinema e do audiovisual um fluxo interdisciplinar com a dança muito explorado, entre outros, pela cineasta ucraniana Maya Deren. Nos anos de 1940 e 1950, Deren inaugurou o chamado Choreocinema, junto com uma extensa produção teórica sobre o cinema experimental. Através da sua escrita vamos discutir a câmera-corpo e a edição coreográfica na produção de videodanças de Contato Improvisação (CI).

Resumo expandido

    A cineasta Maya Deren, ucraniana radicada em Nova York, produziu curtas metragens experimentais em filmes 16mm durante os anos de 1940 e 1950. Sua trajetória compreende sete filmes finalizados, que narram de diferentes formas seu interesse pelo movimento, do corpo e da câmera, e apresentam a sua forma particular de inserir tempo e espaço entre as imagens. Artisticamente intensa, Deren foi reconhecida como cineasta, fotógrafa, montadora, poeta, bailarina, e escreveu diversos textos, participou de dezenas de palestras, e produziu uma longa discussão acerca do cinema experimental, criativo e artístico. Segundo um dos primeiros críticos da Dança Moderna, John Martin (1946), Maya inaugurou o Choreocinema, precursor da videodança. Pesquisando uma colaboração fluida entre cinema e dança, Deren desenvolve sua própria linguagem a partir da experiência de envolver a câmera fotográfica no movimento do objeto em cena, e potencializa exponencialmente sua imagem num trabalho sensível e intenso de edição coreográfica. Sobre a luz dos estudos de seus escritos-manifestos sobre o que seria seu desejo de cinema, que convoca sobretudo o cinema como instrumento para a arte, nossa proposta é elaborar um pensamento acerca dos territórios da câmera-corpo e da edição coreográfica a partir da análise do corpo fílmico do Contact Dance International Film Festival – Festival de Cinema dedicado a filmes criados com base no Contato Improvisação (2013-2015-2017-2019). Mesmo a dança sendo o tema central desses trabalhos, observamos processos criativos muito particulares onde as relações de produção, câmera, roteiro, direção, edição, e todas as funções muito bem estabelecidas na produção do cinema de gênero, são profundamente influenciadas pelos conceitos do CI – não-hierarquia, constante adaptação ao contexto, equilíbrio entre tônus e relaxamento – e colaboram em contínua cocriação até sua conclusão. Também é possível observar uma atmosfera intimista nestas gravações, com poucas pessoas envolvidas, movendo afetos pessoais do momento presente, e criando a partir do que já estava dado pelo espaço-tempo. A grande maioria das videodanças de CI são realizadas muitas vezes apenas com a presença de uma câmera, poucos bailarinos, e uma edição simples que roteiriza a narrativa criada pela dança, que pode ter sido elaborada antes ou depois da filmagem, mas sempre apresentando um conteúdo improvisado e criativo. As questões que atravessam este trabalho ensaiam a criação de uma cartografia afetiva do corpo que filma e improvisa para a produção de uma subjetividade imagética. Quais são os espaços que uma câmera-corpo ocupa filmando uma dança de improviso? Onde estão suas fronteiras? O que uma dança de Contato Improvisação estabelece de organização espacial e temporal para uma câmera-corpo que difere de uma dança coreografada? Como uma câmera-corpo cria a partir de uma improvisação? São estas questões que tencionam esta pesquisa, e sustentam uma análise da experiência de criação da videodança de CI.

Bibliografia

    DEREN, Maya. El Universo Dereniano: Textos fundamentales de la cineasta Maya Deren. Traducción: Carolina Martínez López. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla. La Mancha, 2015.
    FAUCON, T. e SAN MARTIN, C. (Org.). Chorégraphier le film: Gestes, cadre, montage. Paris: Éditions Mimésis Filmiques, 2019.
    GIL, José. Movimento Total: O Corpo e A Dança. Tradução: Miguel Serras Pereira. Relógio D’Água, 2001.
    NELSON, Lisa. Before Your Eyes: seeds of a dance practice. Contact Quarterly’s Contact Improvisation Vol. 29, Número 1. Northampton MA: Contact Editions, 2004.
    NOVACK, Cynthia Jean. Sharing the Dance: Contact Improvisation and American culture. Wisconsin: The University of Wisconsin Press, 1990.
    PEARLMAN, K. R. Cutting Rhythms: Intuitive Film Editing. New York; London: Focal Press, an imprint of Taylor & Francis Group, 2016.
    SILVA, Hugo Leonardo da. Desabituação compartilhada: Contato Improvisação, jogo de dança e vertigem. Valença: Selo A Editora, 2014.