Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Patricia de Queiroz Carneiro Dourado (PUC-SP/CIAC-UAlg)

Minicurrículo

    Doutoranda e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, com doutorado sanduíche no Centro de Investigação em Artes e Comunicação – CIAC, da Universidade do Algarve, com bolsa PDSE da Capes. Membro do Grupo de Pesquisa em Processos de Criação da PUC-SP. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Ceará, com bolsa-arte na modalidade Cinema pelo Instituto de Cultura e Artes – ICA/UFC. Roteirista com experiência em roteiros de ficção, séries de animação, documentários e educação digital.

Ficha do Trabalho

Título

    O roteiro no cinema pós-industrial: “Antônio um dois três”

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Resumo

    A comunicação aborda as práticas de roteiro do filme Antônio um dois três de Leonardo Mouramateus no contexto do cinema pós-industrial, diante da relação entre o modo de produção e as estratégias dramatúrgicas, em intenso diálogo com os atores e a equipe, na construção do roteiro ao longo de todo o processo de criação do filme, sem o isolamento de etapas, e na relação com o pensamento composicional do coreógrafo João Fiadeiro no que se refere à ferramenta de Composição em Tempo Real.

Resumo expandido

    No e-mail em que Leonardo Mouramateus enviou a versão escrita do roteiro de Antônio um dois três para estudo, advertiu, no entanto, que não se tratava de um roteiro prévio ao filme, mas de uma compilação de textos que foram se transformando ao longo da criação do filme, rodado em três momentos distintos. Antônio um dois três (2017) teve não só as filmagens divididas em três momentos temporalmente diferentes, entre os anos de 2014, 2015 e 2016, mas também sua dramaturgia seguiu a costura em três partes.

    Cada uma das partes de Antônio um dois três funciona como dimensões para o filme, como possibilidades de vida, que, embora independentes, seguem entrelaçadas por diversos recursos dramatúrgicos. Mouramateus (2020) conta que em muitos momentos as locações de uma parte já não estavam mais disponíveis na outra, e essa mudança de paisagem era absorvida pela narrativa e repercutia também no modo do personagem interagir com os ambientes.

    Por diversas vezes, Mouramateus citou a ferramenta de Composição em Tempo Real, proposta pelo coreógrafo e bailarino português João Fiadeiro, como uma ferramenta importante para pensar o processo de composição dos seus filmes, especialmente no que se refere, entre outras questões, à atenção ao tempo real, a trabalhar com o que está disponível (ética da suficiência) e à sensibilidade para as condições iniciais, que o cineasta identifica como sendo, para si, uma das funções do roteiro: “O roteiro é uma espécie de primeiro movimento, uma descrição das condições iniciais para que algo possa ‘acontecer’ em frente à câmera, mesmo que seja algo que sequer esteja escrito” (2020, s/p).

    Cezar Migliorin, em “Por um cinema pós-industrial: notas para um debate” publicado na revista Cinética, em 2011, fala do que poderíamos chamar de um cinema pós-industrial, e aponta para o que identifica na contemporaneidade como “abundância” de ferramentas para a composição de filmes, diferentemente do cinema industrial que, segundo ele, pauta-se principalmente pela “escassez” da ferramenta, que apenas poucos detém.

    Leonardo Mouramateus, na carta-dissertação Antônio zero (2017), em que comenta o processo de criação do filme Antônio um dois três (2017), destaca algumas especificidades do modo de fazer cinema que permeiam as práticas contemporâneas e com as quais se identifica, e cita o ensaio de Migliorin, que aqui retomamos para falar das práticas de roteiro na relação com os modos de produção.

    Cecília Salles, no livro Processos de criação em grupo: diálogos (2017) destaca a importância dos modos de produção para a construção da obra que se deseja realizar, assim como o inverso também é verdadeiro: a obra no contexto da criação em grupo ergue-se da matéria das relações entre os sujeitos que a realizam. Isso, no entanto, pode se dar sob diferentes formas de organização, com maior ou menor grau de flexibilização e hierarquia.

    Nesta comunicação, iremos comentar alguns momentos do processo de criação de Antônio um dois três sob a ótica da relação entre as práticas de roteiro e o modo de produção do filme. Para isso, destacamos três aspectos específicos: o roteiro pensado durante todo o processo de criação do filme, sem o isolamento em etapas; a interação com os atores e a equipe; e o diálogo com a ferramenta de Composição em Tempo Real do coreógrafo e bailarino português João Fiadeiro para pensar a composição do roteiro.

    Este estudo tem o aporte teórico e metodológico da teoria crítica dos processos de criação proposta por Cecília Salles, conforme desenvolvida no Grupo de Pesquisa em Processos de Criação da PUC-SP.

Bibliografia

    FIADEIRO, João; BIGÉ, Romain. Se não sabes porque é que pergunta. Revista Científica/FAP – Revista de Pesquisa em Artes, v. 17, n. 2, jul./dez. 2017. Disponível em: http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/revistacientifica/article/download/2092/1396
    FIADEIRO, João; VOMERO, Maria Fernanda. Entrevista performática com João Fiadeiro. VII Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, 2020. Disponível em: https://mitsp.org/2020/entrevista-performatica-com-joao-fiadeiro/
    MIGLIORIN, Cezar. Por um cinema pós-industrial: notas para um debate, Cinética, 2011. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/cinemaposindustrial.htm
    MOURAMATEUS, Leonardo. Entrevista. Arquivo pessoal. 2020.
    ______. Antônio zero. Dissertação de mestrado (Mestrado em Arte Multimédia) – Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa. Lisboa, 2017.
    SALLES, Cecília. Processos de criação em grupo: diálogos. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2017.