Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Miriam de Souza Rossini (UFRGS)

Minicurrículo

    Pesquisadora de Cinema Brasileiro. Doutora em História (UFRGS) e Mestre em Cinema (USP). Professora Associada do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da UFRGS. Coordenadora Grupo de Pesquisa Processos Audiovisuais – UFRGS/CNPq.

Ficha do Trabalho

Título

    O cinema de baixo orçamento no Brasil como urgência do tempo

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Resumo

    Partindo de filmes gaúchos de baixo orçamento, produzidos pós-2010 e em diferentes formatos, a apresentação pretende problematizar a produção de baixo orçamento nacional, como um projeto político-estético mais ligada à urgência do tempo e à crescente exclusão e desigualdade social, do que a uma vontade de experimentação de linguagem audiovisual. Ao mesmo tempo, essa urgência capta os rastros de um passado cinematográfico, atualizado em novos sujeitos representados e nas temáticas abordadas.

Resumo expandido

    Partindo de filmes de baixo orçamento, produzidos no Rio Grande do Sul pós-2010 e em diferentes formatos, esta apresentação pretende aprofundar a discussão desenvolvida no projeto de pesquisa Cinema Brasileiro e a Economia da Dádiva: o baixo orçamento como projeto político estético, financiado pelo CNPq, e com isso analisar, além das escolhas temático-narrativas, a forma dos filmes. O projeto é desenvolvido junto ao Grupo de Pesquisa Processos Audiovisuais, registrado no CNPq.
    Observa-se que, no Brasil, o cinema ocupa um lugar de luta política, por diferentes identidades, representações, visibilidades. Mais do que o culto, há uma urgência por partilha de questões que não encontram voz em outras formas hegemônicas de comunicação. Desse modo, o baixo orçamento como expressão de um cinema independente, de margens, de garagem, de guerrilha, do pós-industrial (entre outras tantas denominações possíveis) se constitui num modelo para tensionar as práticas de representação. Como hipótese inicial, pensamos que sua ampliação no Brasil está mais ligada a uma crescente exclusão e desigualdade social do que a uma vontade de experimentação de linguagem audiovisual. Talvez por isso a temática costume atrair mais debates do que a forma do filme. Ao mesmo tempo, esse cinema do presente se vincula ao passado da nossa cinematografia, a partir de onde observamos os rastros do passado e do pertencimento a uma história que em geral se traduz como luta política no campo do simbólico.
    O ano de 2010 tem aparecido como uma espécie de divisor de águas em artigos e pesquisas recentes sobre o cinema brasileiro, e não é por acaso. Pensando a partir de Benjamim (1996) e suas teses sobre a história, poderíamos dizer que 2010 nos permite ler a contrapelo a história do cinema brasileiro, pois muitas das questões de fundo da nossa cinematografia começam a ganhar nova roupagem neste momento em que as mudanças tecnológicas, que foram sendo estabelecidas em pouco mais de vinte anos, estão bem delineadas. E além de alterar as práticas de produção, as mudanças alteraram também as práticas de distribuição, exibição e consumo. Algo que que se mostrou fundamental neste contexto de pandemia, em que todos fomos empurrados para o online.
    A partir de 2010, portanto, não se discute mais se o cinema é apenas em película ou se em digital também serve; se ver um filme é sinônimo de assisti-lo em uma sala de cinema, ou se assisti-lo no streaming também conta. Afinal, se levarmos em conta os públicos em uma sala de cinema e em plataformas online, vamos ver a diferença nos números. E teremos que redefinir o que se entende, ou não, por “sucesso de bilheteria”.
    Entretanto, na pesquisa o que observamos foi que o baixo orçamento se consolidou como um tipo de prática produtiva, mas não a única, devido a sua forma de apreender, pela rapidez produtiva que propicia, a urgência do tempo e das questões do presente. Trazemos, assim, as seguintes questões: será que essa urgência, hoje, diz mais sobre os desdobramentos existenciais do sujeito inserido em contextos sociais diversos do que sobre as demandas do próprio cinema? Será que a violência e a exclusão social são ainda perceptíveis como rastros de um passado cinematográfico, ou foram atualizadas em novos sujeitos representados e nas temáticas abordadas? O cinema feito no Rio Grande do Sul, pós-2010, enquanto cinema periférico e contraditório entre práticas e discursos, será o objeto para testar essas questões. Digo Tafarel, Bruno Polidoro, Gilson Vargas, Thais Fernandes, Cintia Langie e Davi Pretto são alguns dos diretores cujos trabalhos usaremos.

Bibliografia

    BECKER, Howard. Mundos da arte. Lisboa: Livros da Horizonte: 2010.
    BENJAMIM, Walter. Magia e técnica. Arte e política. 7ed. 10ª. reimpressão. São Paulo: Brasiliense, 1996 (obras escolhidas, vol. 1).
    IKEDA, Marcelo. O novíssimo cinema brasileiro. Cinéma d´Amerique Latina, n.20, 2012, p. 136-149. Disponível em: https://cinelatino.revues.org/597
    ROSSINI, Miriam de Souza; OLIVEIRA, Vanessa K. Labre; NILSSEN, Bibiana, ALMEIDA, Guilherme Fumeo. Tendências do Cinema Brasileiro Contemporâneo. Modelos de produção e de representação. Sessões do Imaginário, Porto Alegre, Famecos/PUCRS, v.21, n.35, 2016, p.2-11. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/view/24689
    RUY, Karine dos Santos. Um longa na cabeça e (bem) menos de R$ 1 milhão na conta: estudo sobre a produção e a circulação do cinema de baixo orçamento no Rio Grande do Sul. 2016. 259f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Faculdade de Comunicação Social, PUCRS, Porto Alegre, 2016.