Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriel Linhares Falcão (UFF)

Minicurrículo

    Gabriel Linhares Falcão é mestrando no PPGCine UFF, pesquisa “Cinema Experimental e Realismos: Uma investigação a partir dos escritos de Éric Rohmer e Jacques Rivette à crítica cinematográfica do experimental”. Participou do Estado Crítrico do IV FRONTEIRA – Festival Internacional do Filme Documentário e Experimental. Tem experiência nas áreas de direção, crítica cinematográfica e programação. Mantém o blog de cinema Belo é o sentimento (https://beloeosentimento.home.blog).

Ficha do Trabalho

Título

    VANGUARDA REALISTA: PRIMEIRAS DIVERGÊNCIAS DA CAHIERS DU CINÈMA

Resumo

    Na edição nº 10 da revista Cahiers du Cinèma, foi apresentado um pequeno dossiê intitulado “Opinions sur l’avant-garde”. O termo vanguarda foi colidido, limitada e prolificamente, com a teoria realista que vinha sendo elaborada pelos franceses naquele momento. Analisaremos textos das primeiras edições escritos por realizadores experimentais e vanguardistas e apontar paradoxos, interesses e limitações que contribuíam de alguma forma para consolidação de uma sonhada “vanguarda realista”.

Resumo expandido

    Na edição número 10 da revista Cahiers du Cinèma, publicada em março de 1952, foi apresentado um pequeno dossiê intitulado “Opinions sur l’avant-garde” com textos de, em ordem de aparição, Hans Richter, André Bazin, Michel Mayoux e Maurice Schérer (Éric Rohmer). O termo vanguarda, que já é naturalmente digno de discussão, foi colidido, limitada e prolificamente, com a teoria realista que vinha sendo elaborada pelos franceses naquele momento. Paradoxalmente, as divergências de opiniões apresentadas afastavam o “avant-garde” do essencialismo cinematográfico independente, permitindo a relação entre a “liberdade à frente” da vanguarda com o realismo (e, consequentemente, outras formas de arte a ele atreladas – teatro, literatura, pintura), em contrapartida, restringindo aos limites do essencialismo realista.
    O texto de Richter, como apontado na nota introdutória de “L’avant-garde Nouvelle” de André Bazin, foi publicado com interesse duplo. Por um lado, havia a admiração pelo diretor como um dos únicos que permanecia fiel à premissa não comercial e não utilitária da vanguarda. Por outro lado, interessava a precisão de suas posições estéticas em definir “uma concepção do Avant-Garde, certamente evoluída, mas consistente com o que era em 1920-30” (BAZIN, 1952).
    Em 1968, Annette Michelson, apontou que nos anos 1920 existia uma comunidade de aspirações das vanguardas em que se respeitava a heterogeneidade de formas e experimentações, e que esta perdera forças com a chegada do cinema sonoro e a sedimentação do realismo e da indústria. Já Bazin, parece apresentar uma postura hegeliana, em que o realismo e a vanguarda tenderiam a uma síntese no “moderno”. Apesar de suas preferências formais pelo plano-sequência e a profundidade de campo, a máxima que embasou a diversidade formal e as divergências de visões – ainda que delimitadas – nos anos seguintes da Cahiers du Cinèma foi: “Chamaremos, portanto, realista todo sistema de expressão, todo procedimento de relato propenso a fazer aparecer mais realidade na tela” (BAZIN, 1991; pág. 244). A atenção ao “procedimento” permitiu Rohmer e Rivette, assim como outros críticos, a se desvincularem do cinema como linguagem, o primeiro dando atenção a ontologia como essência e o segundo recusando a ideia de linguagem definitivamente. Posteriormente, a aparição de realidade na tela tenderia mais para a qualidade dramática da suspensão da descrença – para o tensionamento entre real e tela – que para a realidade documentada em si.
    “Un Art Original Le Film” de Ritcher, de muitas maneiras contribui para o realismo impossível baziniano estimulando-o e questionando-o. Logo no início, o autor expõe: “O principal problema do cinema que foi inventado para reproduzir, paradoxalmente, está no triunfo da reprodução” (RICHTER, 1952). O naturalismo por si só, ou a reprodução pela reprodução, não interessava também à Bazin, era reconhecida sua impossibilidade.
    Cinco edições atrás (Nº 5), haviam publicado o texto “Modestie et art du fim” de Kenneth Anger, ex-assistente de Henri Langlois. Novamente, logo no início, outra afirmação parece contribuir para o realismo, em especial o realismo técnico e suas potências documentais modernas: ““Capturar o imediato” é sem dúvida a condição mais essencial da criação artística.” (ANGER, 1951)
    Poucos textos ao longo das primeiras edições da Cahiers du Cinèma foram dedicados a vanguarda e ao experimental, e estas exceções cooperavam de alguma forma aos interesses editoriais da época. Sergei Eisenstein e Abel Gance foram os mais publicados, mas naquele instante já estavam realizando filmes mais próximos do realismo.
    Esta apresentação propõe-se a analisar os textos das primeiras edições escritos por realizadores experimentais e vanguardistas, apontando paradoxos, interesses e limitações que contribuíam de alguma forma para consolidação desta “vanguarda realista” – que dialogava com a “nova vanguarda” idealizada por Astruc – que tinha como excelência Jean Renoir e seu O Rio Sagrado.

Bibliografia

    ANGER, Kenneth. Modestie et art du film, 1951 (In: Cahiers du Cinèma Nº 05, setembro de 1951; tradução: Gabriel Linhares Falcão)

    ASTRUC, Alexandre, Nascimento de uma nova vanguarda: a Caméra-Stylo, 1948 (In: http://www.focorevistadecinema.com.br/FOCO4/stylo.htm )

    BAZIN, André. L’avant-garde nouvelle, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952; tradução: Gabriel Linhares Falcão)

    BAZIN, André. O cinema. Ensaios. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991.

    MICHELSON, Annette. O Filme e a Aspiração Radical, 1968 (In: http://www.focorevistadecinema.com.br/FOCO8-9/michelsonradicaldv.htm )

    RICHTER, Hans. Un art original: le film, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952; tradução: Gabriel Linhares Falcão)
    MAYOUX, Michel. Trois créatures, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952)

    SCHÉRER, Maurice. Isou ou les choses telles qu’elles sont, 1952 (In: Cahiers du Cinèma Nº 10, março de 1952)