Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Giordano Dexheimer Gil (UFRGS)

Minicurrículo

    Cineasta e historiador da arte, nascido em Porto Alegre, possui graduação em Comunicação Social – Realização Audiovisual pela UNISINOS, com especialidades em Cinema nas áreas de Direção, Roteiro, Produção, Direção de Arte e Direção de Fotografia. Também possui formação como historiador da arte, graduado pelo curso de Bacharelado em História da Arte, pela UFRGS, e Mestre em História, Teoria e Crítica de Arte, também pela UFRGS, onde atualmente cursa o doutorado no mesmo campo.

Ficha do Trabalho

Título

    Grimórios em Movimento: A Arte de Méliès à Luz de Outros Fantasmas

Resumo

    A presente pesquisa tem como objetivo pensar o cinema de George Méliès, na virada do século XIX para o século XX, como um prisma através do qual refratam-se sete espectros da modernidade (o mágico, o fantasma, o duplo, o diabo, o sonhar, a máquina voadora, o trem), ou seja, elementos recorrentes em seus filmes que desdobravam questões caras àquele período, e que se ressignificam de diferentes maneiras à luz da contemporaneidade.

Resumo expandido

    A proposta aqui é entender o cinema de Méliès como um prisma. Iluminado tanto pelo pensamento racionalista iluminista do Século das Luzes, quanto pelas áreas de sombras deixadas na arte e na cultura popular do Século XIX, sua obra refrata todo um espectro temático que, com a devida atenção, percebemos que ainda atinge questões essenciais da contemporaneidade. A metáfora óptica da refração, que invocamos com certa frequência, permite que, à exemplo da convenção das sete cores do espectro cromático, estabeleçamos uma delimitação do número sete, no que diz respeito aos elementos recorrentes percebidos nos mais de 170 filmes assistidos para essa pesquisa, e através dos quais pensaremos as questões do moderno, e por isso mesmo, os chamaremos de espectros de modernidade.

    São eles:

    I) O Mágico – através do qual pensamos a questão da individualidade do sujeito moderno, e a pulsão da auto-ficção contida em toda arte performática.

    II) O Fantasma – espectro que nos direciona para a discussão da materialidade.

    III) O Duplo – que invoca questões de autoscopia e o paradoxal sentimento de identidade e alteridade que percebemos principalmente a partir da reprodutibilidade técnica da imagem.

    IV) O Diabo – elemento que, mesmo quando surge com função lúdica, nos joga de volta na dúvida barroca entre divino e profano.

    V) O Sonhar – a prática onírica, que ganha outros contornos tanto pelo advento da psicanálise quanto pelo cinema, identificado com tanta frequência pela teoria como tendo muito em comum com a produção psíquica do sonho.

    VI) A Máquina Voadora – sinédoque da visão utópica de progresso, que rapidamente é convertida em distopia no século XX.

    VII) O Trem – topoi da modernidade que, para sempre, estará ligado ao nascimento do cinema, e que partilha com o cinematógrafo a possibilidade de tensionar o problema do movimento.

    É perceptível, a partir desse elenco, que essa pesquisa não foge à minha pulsão enciclopédica uma vez que invoco a estratégia da lista como medologia central, além de utilizá-la como permissão para uma certa liberdade ensaística quanto à forma a partir de cada um desses espectros, para perceber neles aquilo que Didi-Huberman chama de movimentos sedimentados ou cristalizados na imagem, que nos obrigam a pensar nos filmes de Méliès como momentos energéticos e dinâmicos. Algo semelhante ao que Siegfried Kracauer (1899 – 1966) também propõe a partir do cinema alemão dos anos 20: ele entende que um corpo de produções cinematográficas talvez seja a mídia perfeita para refletir o espírito do tempo, tanto por serem obras coletivas, quanto por serem destinados ao coletivo: “Ao gravar o mundo visível, não importa se a realidade vigente ou um processo imaginário, os filmes proporcionam as chaves de processos mentais ocultos” (KRACAUER, 1988, p. 17-20).

Bibliografia

    ANDRIOPOULOS, Stefan. Aparições Espectrais: O Idealismo Alemão, o Romance Gótico e a Mídia Óptica. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014.

    ANDRIOPOULOS, Stefan. Possuídos: Crimes Hipnóticos, ficção corporativa e a invenção do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014.

    BENJAMIN, Walter. A Modernidade e os Modernos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000

    CRARY, Jonathan. Técnicas do Observador: Visão e Modernidade no Século XIX. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2012.

    CRARY, Jonathan. 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Ubu Editora, 2016.

    DIDI-HUBERMANN, Georges. A Imagem Sobrevivente: História da Arte e Tempo dos Fantasmas segundo Aby Warburg. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2013

    KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988

    MICHAUD, Phillippe-Alain. Filme: Por uma Teoria Expandida do Cinema. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014.