Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Rosana Cordeiro Parede (UAM)

Minicurrículo

    Graduada em Rádio e Tv pela Universidade Metodista de São Paulo (2000), realizou pós-graduação em comunicação e semiótica (2014). Mestre em Comunicação com a dissertação “A série Stranger Things e a Nostalgia dos anos 1980”, doutoranda em Comunicação e docente do curso de Rádio, TV e Internet e Cinema e Audiovisual da Universidade Anhembi Morumbi.

Ficha do Trabalho

Título

    Stranger Things e a nostalgia dos anos 1980

Resumo

    A comunicação pretende apontar o uso de elementos nostálgicos encontrados em Stranger Things, observando os vários elementos imagéticos, sonoros, narrativos e estilísticos utilizados na criação atmosférica com estética inspirada em muitas obras e referências dos anos 1980. Para tanto utilizou-se conceitos e teoria sobre composição da atmosfera fílmica, desenvolvidas por Inês Gil e Linda Hutcheon sobre nostalgia e pós-modernidade; entre outros assuntos e autores.

Resumo expandido

    A narrativa de Stranger Things se passa no ano de 1983 e apresenta uma história de aventura e suspense inspirada em muitas obras audiovisuais da década de 1980 evidenciando, além dessas obras, a cultura da época dom a finalidade de submergir o espectador e de trazer para os novos tempos traços de uma cultura pop e massiva ainda não esquecida.
    O cinema da década de 1980 trouxe como característica obras que apresentam jovens e adolescentes à frente de soluções de crimes, mantendo-os como protagonistas dessas histórias e heróis das narrativas. O pesquisador Thomas Doherty destaca que essa juvenilização do conteúdo e do público cinematográfico, que é hoje a realidade operativa da indústria hollywoodiana, iniciou-se nas décadas de 1930 e 1940, que, com o surgimento da televisão (década de 1920), forçou os cineastas a restringirem seu foco e atraírem um público com renda e tempo livre necessários para realimentar essa indústria (DOHERTY, 2002, p. 02).
    Experimentamos um estágio de transição entre os tempos. A modernidade da qual saímos é negadora, a supermodernidade é integradora. Vivemos uma época de reintegração do passado, onde o culto ao presente se manifesta com força aumentada (LIPOVETSKY, 2004, p. 57-58).
    A questão espaço-tempo é repetidamente abordada em obras de distintas épocas, utilizando-se de elementos nostálgicos em suas composições, consolidando seu sucesso através de uma fórmula que revela a necessidade do consumo de um passado referencial baseado em elementos audiovisuais. Com os avanços tecnológicos, o retorno ao passado se tornou tecnicamente “viável”, transformando o tempo em um espaço retornável e fazendo com que a nostalgia permita ao indivíduo o retorno a certos momentos do passado. Mas como definir a nostalgia?
    Hutcheon (2000, p. 191) relata que entre os séculos XVII e XVIII a nostalgia era vista como “desordem da imaginação”, mas no século XIX a palavra começou a perder seu significado puramente médico. No século XX a palavra começou a atrair o interesse de psiquiatras e a nostalgia passou a ter uma condição menos física e mais psicológica. Em 1978, Immanuel Kant notou que as pessoas que voltavam para casa ficavam decepcionadas pois não buscavam a volta para um lugar e sim para um tempo de sua juventude.
    Dessa forma, nostalgia pode levar não necessariamente a um lugar confortável da juventude a ser revisitado, mas sim à própria juventude, a própria infância, às próprias histórias, que são acessadas quando o indivíduo se vê submetido a uma narrativa que lhe remete a esses tempos.
    Um espaço “que foi apropriado pela imaginação não pode permanecer como um espaço indiferente, sujeito às medidas e estimativas do pesquisador”, assim como não pode ser representado de modo exclusivo como “espaço afetivo” dos psicólogos. As lembranças são imóveis e, quanto mais seguramente fixadas no espaço, tanto mais sólidas são (HARVEY, 2008, p. 200).
    A composição de um ambiente rico em elementos de uma época passada possibilita a imersão do espectador na história, e a atmosfera criada “manifesta-se como um fenômeno sensível ou afetivo e rege as relações do homem com seu meio” (GIL, 2005, p. 141).
    A atmosfera fílmica trabalhada com o intuito de envolver quem assiste tem a capacidade de exprimir o “não figurável” que pode ter uma presença fundamental no espaço representativo da imagem. O cinema tem seus próprios meios técnicos de expressão de espaço-tempo, que permitem uma produção de atmosfera específica (GIL, 2005, p. 143).
    A série apresenta um território conhecido a uma parte de seus espectadores (entre 30 e 40 anos) e consequentemente o interesse pela história é estimulado a cada referência identificada no seriado. Essa sensação se transporta para a nova geração de espectadores (entre 15 e 30 anos), que conta com uma história de suspense baseada em obras a que provavelmente seus pais assistiram, gerando curiosidade e busca dessas histórias para compreenderem essas referências.

Bibliografia

    DOHERTY, Thomas. Teenagers and teenpics: the juvenilization of American movies in the 1950’s. Temple University Press, 2002.
    GIL, Inês. A atmosfera como figura fílmica. In: III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO, 2005, Covilhã. Anais eletrônicos. Estéticas e Tecnologias da Imagem – Volume I, 2005. Disponível em: . Acesso em: 19 jun. 2016.
    GIL, Inês. Atmosfera fílmica como consciência. Caleidoscópio, n. 2, 2011. Disponível em: . Acesso em: 19 jun. 2016.
    HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
    HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
    HUTCHEON, Linda. Irony, Nostalgia, and the Postmodern. In: Methods for the Study or Literature as Cultural Memory, Studies in Comparative Literature, n. 30, p. 189-207, 2000.
    LIPOVETSY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.