Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Jardim (UFMG)

Minicurrículo

    Gustavo Jardim é educador e realizador audiovisual. Diretor do filme “A Noite Através”, lançado em 2020, entre outros curtas e média-metragens disponíveis online. Desenvolve programas artístico-pedagógicos em escolas públicas e em territórios de resistência cultural. Mestre em Cinema e Educação pela FAE/UFMG. Doutorando em Comunicação Social pela FAFICH/UFMG, em parceria com a Universidade de Chicago. É integrante do grupo de pesquisa Poéticas da Experiência (UFMG), do programa Coletivo de Cinem

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema transdisciplinar nas escolas: desafiar a singularidade

Resumo

    A comunicação visa abordar uma relação entre as práticas transdisciplinares (ligadas ao tempo presente) por meio do cinema e a produção de singularidades. A singularidade pode vista no lugar de uma especificidade, compreendendo os espaços de vida e as contingências dos encontros, mas também, de forma paralela, pode ser pensada como o imprevisível, como uma reorganização que se dá na linguagem, como aquilo cujas regras são determinadas pela própria experiência.

Resumo expandido

    Observamos na prática educacional, as nuances da produção de singularidades em projetos de filmes e partir de cinematografias, em programas que promovem parcerias entre artistas, alunos e professores. Da mesma forma, refletimos sobre o pensamento crítico a postura educacional que se convoca explorando suas dimensões nestes processos formativos.

    O cinema só passa a ser visto como um meio de emancipação e luta política depois que é experimentado como tal, do contrário pode-se passar uma vida pensando que as imagens não seriam mais do que histórias sendo contadas nas telas para entreter o público. Nos últimos anos, temos nos dedicado a pensar – junto a diversos grupos, escolas, artistas e professores – formas de inserção do cinema na vida e nas práticas criativas com os estudantes. A realização de filmes em diferentes contextos nos ensinou sobre formas de abordagem e algumas medidas de trocas possíveis neste universo inexaurível de possibilidades. Porém, uma questão se fez sensível e sua abordagem científica se mostrou necessária para que continuássemos o trabalho. A inquietação que nos tocou primeiramente está ligada a uma tônica de padronização no ensino, cultivada como herança e até como virtude, tanto do ponto de vista econômico quanto na sustentação de uma pirâmide histórica e filosófica que estrutura nosso sistema educacional. Este cenário está fundado nas formas de organização e exclusão promovidas por algo que pode ser tratado como liberalismo econômico, mas preferimos nomear como mercantilização das democracias, ocorrendo especialmente no sul global, sobretudo ligado à penetração da tecnologia privada na vida social. A educação, neste contexto, toma para si o acúmulo de conhecimento e a inovação tecnológica como seu princípio de sucesso; e assim, vira as costas cada vez mais para as singularidades produzidas nos encontros e a circulação dos afetos na produção fílmica.

    Frente a este quadro, o esforço de nossa pesquisa tem sido o de colher e tratar, no campo das práticas e das teorias, sementes potentes para o cultivo do cinema na educação, pautado por um processo de aprendizado que se dá a partir de uma relação crítica e intrínseca com o espaço e com a natureza dos encontros. Para que um plantio seja bem feito é necessário que a terra seja considerada em primeiro lugar, não apenas o solo orgânico, mas também aquele que é arado na linguagem, com as lâminas das experiências simbólicas que afiamos ao longo de nossas relações com o mundo. Acreditando que o cinema modula em sua prática as formas do pensamento e as relações dos corpos, como imaginar seu uso para a liberação de linguagens nutridas pelas singularidades, ou seja, pelos questionamentos inerentes ao espaço-tempo como o próprio princípio do conhecimento?

    Com base nestas premissas e perguntas vamos analisar experiências do cinema no seu uso transdisciplinar, em grupos culturais e contextos escolares. Partimos essencialmente da realização de filmes com alunos nos seus contextos específicos para pensar as relações e as potências entre a educação e a singularidade. O desenvolvimento do projeto de um filme aparece como uma criação colaborativa no sentido de uma ação política, ou seja, ligada à liberdade dos grupos de discutir e inventar uma linguagem própria, emaranhada com os espaços de vida, articulada a uma pedagogia ligada ao espaço-tempo. A pesquisa tem nos conduzido a uma região cinematográfica que nos esforçaremos por cartografar na medida das análises dos processos e na qual supomos encontrar uma base de experiências fílmicas que levam à ativação das questões locais rearticuladas pelas singularidades que se dão no mundo e na linguagem.

Bibliografia

    DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido. São Paulo; Perspectiva, 2015.

    ORLANDI, L. B. L. Deleuze- entre caos e pensamento. In: AMORIM, A. C.; GALLO, S.; OLIVEIRA JR., W. M. (Org.). Conexões: Deleuze e imagem e pensamento. Petrópolis, 2011.

    VIEIRA, Cíntia e KASPER, Kátia. Diferença como abertura de mundos possíveis: aprendizagem e alteridade. Educação e Filosofia Uberlândia, v. 28, n. 56, p. 711-728, jul./dez. 2014.