Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Luís Alberto Rocha Melo (UFJF)

Minicurrículo

    Luís Alberto Rocha Melo é professor do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da UFJF. Coordenador do Grupo de Pesquisa Historiografia Audiovisual. Dirigiu, entre outros trabalhos, o longa “Um homem e seu pecado” (2016) e o curta “5 X Sérgio” (2020). É um dos autores do livro em dois volumes “Nova história do cinema brasileiro”, organizado por Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarzman (São Paulo: SESC, 2018).

Ficha do Trabalho

Título

    Ilustrações historiográficas: “90 anos de cinema”, a série e o livro

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Resumo

    Esta proposta objetiva discutir três aspectos do discurso historiográfico da série de TV e do livro intitulados “90 anos de cinema, uma aventura brasileira” (1988): 1) o seu recorte temporal, que abrange os anos de 1898 a 1964; 2) o papel dos acervos fílmicos na construção desse discurso historiográfico; e 3) a presença da televisão, que surge com grande destaque na série, mas é praticamente ausente no livro – apesar de ser o próprio livro fruto de uma série de televisão.

Resumo expandido

    Os debates acadêmicos em torno dos aspectos metodológicos e ideológicos que caracterizam a chamada “historiografia clássica” do cinema brasileiro (BERNARDET, 1995) costumam levar em consideração os textos fundadores de Alex Viany, “Introdução ao cinema brasileiro” (1959), e de Paulo Emilio Sales Gomes, “Panorama do cinema brasileiro: 1896/1966” (1966). Eventualmente, como exemplos de contraponto ou continuidade, discutem-se ensaios como “Revisão crítica do cinema brasileiro”, publicado em 1963 por Glauber Rocha, ou uma obra coletiva como “História do cinema brasileiro”, organizada em 1987 por Fernão Ramos. Contudo, outros textos e estudiosos que também buscaram estabelecer, dentro dos padrões “clássicos”, novos recortes para uma história panorâmica do cinema brasileiro, ainda estão a merecer uma análise mais atenta. Para citar alguns exemplos, temos os capítulos “Cinema brasileiro: o período silencioso” e “Cinema brasileiro 1930/1960” – o primeiro escrito por Maria Rita Galvão e o segundo coescrito por Galvão e Carlos Roberto de Souza (1987) –; o livro “Nossa aventura na tela”, de Carlos Roberto de Souza (1998); e o texto “Um século do cinema brasileiro”, de Hernani Heffner (1998). Outro gênero pouco estudado pelos que se interessam pela historiografia do cinema brasileiro são as “histórias ilustradas”, que abrangem livros de autores tão diversos quanto Jurandyr Noronha (1987), Salvyano Cavalcanti de Paiva (1989) ou José Carlos Monteiro (1997) – para não falar do próprio “70 anos de cinema brasileiro” (GOMES, GONZAGA, 1966), fartamente ilustrado por fotos com legendas informativas, ambas a cargo de Adhemar Gonzaga.
    A meio caminho do texto ensaístico e da história ilustrada, o livro “90 anos de cinema, uma aventura brasileira”, de Helena Salem (1988), é outro caso de uma narrativa panorâmica pouco considerada no conjunto da bibliografia sobre o cinema no Brasil. De acordo com a própria autora, o livro era “um desdobramento natural da série homônima para televisão que a Metavídeo realizou e a Rede Manchete veiculou”, nos meses de junho e julho de 1988. Tanto a série quanto o livro foram realizados a partir dos incentivos da recém-criada Lei Sarney. Livro e série fizeram parte dos eventos comemorativos dos 90 anos do cinema brasileiro, que incluíram festivais, mostras e retrospectivas em cinemas e espaços culturais. Dois anos depois, as atividades cinematográficas no país sofreriam um de seus mais duros golpes, com o fechamento da Embrafilme pelo governo de Fernando Collor de Mello, em 1990.
    O objetivo desta proposta é discutir três aspectos do discurso historiográfico construído pelos dois produtos derivados do projeto “90 anos de cinema, uma aventura brasileira” – a série da Metavídeo e o livro de Helena Salem. Em primeiro lugar, abordaremos seu recorte temporal, que abrange a história do cinema brasileiro de 1898 a 1964 – deixando de fora não apenas a segunda fase do Cinema Novo, como o surgimento da Embrafilme, o Cinema Marginal, a pornochanchada e a nova geração de cineastas que começou a filmar nos anos 1980 –, construindo, assim, uma história canônica e teleológica, que tem no Cinema Novo o marco essencial da produção nacional. O segundo aspecto a ser discutido é o papel das instituições que constituem a “memória cinematográfica” nacional (cinematecas e acervos fílmicos) na elaboração desse recorte e na própria construção do discurso historiográfico presente na série e no livro. A utilização de filmes e fotografias apresenta problemas de ordem metodológica bastante diversos daqueles que impactam o trabalho de pesquisa calcado exclusivamente em documentos textuais. Por fim, o terceiro aspecto a ser abordado pela comunicação diz respeito à presença da televisão na narrativa histórica da série e do livro. Tendo grande destaque no segundo segmento do Programa 5 da série (“De olho na TV”), a televisão é praticamente ausente no livro de Helena Salem – apesar de, curiosamente, ser o próprio livro fruto de uma série de televisão.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro. São Paulo: Annablume, 1995.
    GALVÃO, Maria Rita e SOUZA, Carlos R. de. “Cinema brasileiro: o período silencioso”; “Cinema brasileiro: 1930/1960”. In: COSTA, João B. da (org). Cinema brasileiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian/Cinemateca Portuguesa, 1987.
    GOMES, Paulo Emilio Sales e GONZAGA, Adhemar. 70 anos de cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1966.
    HEFFNER, Hernani. Um século do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: SESC/Funarte/CTAv/Riofilme, 1998.
    SALEM, Helena. 90 anos de cinema: uma aventura brasileira. Rio de Janeiro: Sogeral/Nova Fronteira, 1988.
    SOUZA, Carlos Roberto de. Nossa aventura na tela. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1998.
    RAMOS, Fernão (org.). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Ed., 1987.
    ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
    VIANY, Alex. Introdução ao cinema brasileiro. Rio de Janeiro: INL, 1959.