Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Juslaine de Fátima Abreu Nogueira (Unespar)

Minicurrículo

    Doutora em Educação, com mestrado e licenciatura em Letras. Dedica-se aos Estudos do Discurso Cinematográfico, em conexões com a filosofia política pós-estruturalista. Docente no Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Pesquisadora do GILDA – Grupo Interdisciplinar em Linguagem, Diferença e Subjetivação (UFPR/CNPq). Coordena o Núcleo de Educação para as Relações de Gênero – Centro de Educação em Direitos Humanos (Unespar).

Ficha do Trabalho

Título

    CINEMATOGRAFAR COM JOVENS PARA ALÉM DO SATURADO: VOZES-EM-CONTÁGIO

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    Este trabalho traça uma reflexão sobre os resultados do Projeto Convide Imaginação que mobilizou a criação audiovisual com jovens e suas professoras no contexto da pandemia viral de 2020. A partir da proposição de cenas como disparadoras ao registro de imagens e sons no território doméstico e da comunidade local de jovens apartados do espaço escolar, o projeto buscou molduras que cinematografassem a dobra entre a saturação da vida e as possibilidades da vida vivível.

Resumo expandido

    Este trabalho traça uma reflexão sobre os resultados do Projeto Convide Imaginação, que propôs criações audiovisuais com a juventude periférica, contatando-a a partir de seu vínculo com o espaço escolar (Escola Estadual Santos Dumont, em Curitiba-PR) e cartografando algumas molduras pelas quais também podemos apreender a pandemia viral que assolou-nos desde 2020. O projeto, a partir de seu resultado artístico – um filme realizado com jovens estudantes e algumas professoras, montado com base na ideia de composição coletiva de arquivos domésticos -, intenciona contribuir para valorizar reapropriações de modos contra-hegemônicos do fazer cinema e do relacionar-se com as imagens e sons.
    O Convide Imaginação – como projeto de extensão (vinculado ao grupo de pesquisa GILDA/ UFPR-CNPq e ao Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Unespar) – nasceu de um pedido de cuidado vindo da educação básica à universidade: como ações com o cinema poderiam ser uma ponte entre a escola e os jovens? Como o cinema poderia colocar outros significados à vida pandemizada, ainda mais fragilizada e enclausurada pela impossibilidade de trocarmos o mesmo ar, de nos tocarmos, de cruzarmos nossos corpos? Portanto, é um projeto que, primariamente, reivindicou o cinema como prática de cuidado. Desse modo, constituiu uma forma de cuidar da escola e cuidar do mundo desde um afeto-comum: a juventude. Foi um projeto no qual encontraram-se mulheres educadoras que trabalham e encantam a vida com jovens, este tempo da vida que deve ousar a desobediência ao que dogmatizada e faz morrer. Tempo da vida para abrir-se com toda a potência ao social e ao cooperar. Por um lado, força humana para denunciar o mundo impossível, no sentido do intolerável à vida. Por outro lado, força humana para anunciar um mundo possível, a ser sonhado e construído coletivamente.
    Por isso, este projeto procurou afirmar e defender a escola na sua força-fragilidade, entendendo tanto o cinema quanto a escola como espaço-tempo em que podemos realizar uma atenção ao mundo, ao que acontece no mundo e ao que queremos fraturar no mundo, e como podemos imaginar, no instante-já, o mundo que queremos futurar. Tratou-se, enfim, de um projeto que pretendeu, de modo muito singelo, apoderar-se tanto do cinema quanto da escola como espaço-tempo de imaginação política com a juventude, entretecendo laços éticos-estéticos e, desde aí, enfrentando um propósito paradoxal: como, via a ocupação mesma das telas e cultivando os encontros virtuais possíveis com o audiovisual, desobedecer, com os jovens, este empachamento da vida telada, planificada, virtualizada e saturada de imagens e sons? Como gestar com a juventude, especialmente com a juventude cuja existência é submetida aos níveis mais desiguais e violentos da vida precária, uma ocupação do cinema que seja uma experiência outra de tempo-espaço feito resistência aos regimes audiovisuais contemporâneos incessantes, exaustivos, acelerados, descartáveis? Como o cinema pode ser, com a juventude, um ato de performatividade política que nos leve a radicalizar a experiência da coletividade, da interdependência e da coexistência, tensionando a sociedade do desempenho, do esgotamento, da autoria narcísica, do selfie, do capitalismo hipervigilante? Como produzir escapes dessa narcotização dos modos de ver/ser, como nos desconectarmos das metástases das telas via uma outra conexão e presença do/com o audiovisual?
    Assim, a partir da proposição de cenas como disparadoras ao registro de imagens e sons no território doméstico e da comunidade local de jovens apartados do espaço escolar, bem como a partir de arquivos audiovisuais que trazem à tona a vida-trabalho de suas professoras, o projeto resultou na montagem de um filme-composição deste percurso, trafegando entre o cinema documentário e o experimental.

Bibliografia

    BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

    BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

    FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

    FRESQUET, Adriana. Entrevista a Inés Dussel: “Sobre cine y educación”. Voces de la Educación, 5 (10), 2020, p. 132-152.

    HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. 2. ed. ampl.Petrópolis, Rj: Vozes, 2017.

    LARROSA, Jorge. Linguagem e Educação depois de Babel. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

    SIERRA, Jamil Cabral. Marcos da vida viável, marcas da vida vivível: o governamento da diversidade sexual e o desafio de uma ética/estética pós-identitária para teorização politico- educacional LGBT. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná. Curitiba: UFPR, 2013.