Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiza Cristina Lusvarghi (Unicamp)

Minicurrículo

    Luiza Lusvarghi é jornalista, pesquisadora e doutora pela ECA USP com estudos sobre novos formatos da produção de cinema e audiovisual no Brasil. Faz parte da Abraccine, e integra os grupos Elviras e +Mais Mulheres e Genecine (Unicamp). Autora de “O Crime como Gênero na Ficção Audiovisual da América Latina” (2018), e coorganizadora de “Mulheres Atrás das Câmeras – Cronologia das Cineastas Brasileiras de 1930 a 2018” (2019), finalista do Jabuti 2020.

Ficha do Trabalho

Título

    Tata Amaral: feminilidades e subjetividades políticas em dramas urbano

Resumo

    Tata Amaral estreia com o longa-metragem Um Céu de Estrelas (1997), que narra o cotidiano da vida nos subúrbios de São Paulo na década de 1980, dentro da Retomada do Cinema Brasileiro. O objetivo desta comunicação é compreender qual o impacto da formação política e da questão da identidade sexual da cineasta com a sua obra e de que forma essa obra contribui para o desenvolvimento do drama no cinema e na televisão brasileiros contemporâneos, classificados geralmente como filmes de crítica social.

Resumo expandido

    Tata Amaral surgiu como cineasta durante o movimento que se tornou conhecido como Retomada do Cinema Brasileiro na década de 1990. Seu primeiro longa-metragem, Um Céu de Estrelas (1996), filme que descrevia os subúrbios de São Paulo, Capital, na era pós-ditadura militar e sua estreia foi aclamada pela crítica como uma das mais promissoras daquele momento. A cinematografia de Amaral, desde a sua estreia, foi centrada em dramas urbanos que narram os conflitos sociais de personagens excluídos e trágicos, sua dificuldade de inserção, de reconhecimento e de pertencimento, de conseguir realizar seus desejos numa sociedade que como um espelho reverso lhes devolve apenas uma autoimagem totalmente fragmentada e esvaziada de sentido. Seus personagens refletem o conceito de Jameson (1992) de construir a narrativa como prática coletiva que cria soluções imaginárias ou formais para conflitos e desejos que a realidade não tem como resolver. Portanto, o ato estético é em si mesmo ideológico, e não requer a enunciação de discursos de contrainformação ou bandeiras políticas para cumprir com essa função.
    A principal característica de seu trabalho é a capacidade de construir personagens densos, que presentificam a sua condição, sem conseguir jamais refletir criticamente sobre essa realidade, e nessa via crucis se destacam as personagens femininas contemporâneas e seus dilemas, que constituem uma grande preocupação em sua obra. Amaral tem como parceiros frequentes o escritor e roteirista Fernando Bonassi, e o professor, ensaísta – e agora ator – Jean-Claude Bernadet. A película Um Céu de Estrelas foi baseada no romance homônimo do escritor Fernando Bonassi, publicado em 1991, com um casal de protagonistas como ele e ela. Amaral empreendeu um esforço na adaptação, pois a história do livro é contada do ponto de vista de um homem. “No livro funcionava muito bem essa mulher opaca, vista pela ótica desse homem, que é um pouco deformada”. Surgiu então a discussão sobre a possibilidade de escrever tragédias atuais sem “ter de ser aquela estrutura grega, do passado, das comunidades agrárias, matriarcais, em choque com a polis masculina. Essa coabitação inviável. E aí a gente trabalhava muito sobre a estrutura dramatúrgica”. Ao concluir o primeiro filme, ela decidiu que queria continuar investigando a tragédia na dramaturgia contemporânea. Bernadet escreveu o argumento do Através da janela para Tata, a partir de uma cena da atriz Laura Cardoso com o ator Luís Melo, no papel do fanático líder camponês Joaquim, mãe e filho, na peça Vereda da Salvação, de Jorge de Andrade, dirigida por Antunes Filho. O filme Através da Janela fala de uma mãe que transformou o filho no homem da sua vida e passa a reproduzir a relação submissa da mulher na sociedade patriarcal nesse convívio.
    Seu primeiro trabalho ficcional envolvendo a televisão e o cinema foi o projeto transmídia Antônia (2006), parceria com o Grupo Globo, em parceria com a produtora 02, desenvolvido pelo Núcleo de Dramaturgia de Guel Arraes.
    O projeto era constituído por Antônia, o filme; Antônia, a série, (2006-2007),; Brasilândia, série documental; Antônia, videoclipe, Making off, sobre os bastidores da série; Antonios, documentário sobre o cotidiano dos avôs das protagonistas, Dicionário de Emília , série de cinco episódios, e o aplicativo Na Balada (Je.
    Antônia, para Amaral, representa a conclusão de uma trilogia sobre as mulheres composta ainda por Um Céu de Estrelas e Através da Janela. No entanto, em produções posteriores, como Hoje (2011) e Sequestro Relâmpago (2018), ela retoma as personagens femininas e seus conflitos. O objetivo desta comunicação é compreender qual o impacto da formação política e da questão da identidade de gênero da cineasta com a sua obra, e de que forma essa obra contribui para o desenvolvimento do gênero drama no cinema e na televisão do Brasil, em que a noção de autorismo herdada da nouvelle vague predomina e filmes com esses temas são classificados como crítica social

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria?, Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 1, n. 33, p. 21-34, jan/jun, 2008.
    BARBOSA, Neusa. Tata Amaral. Muito mais do que uma boa moça in Mulheres Atrás das Câmeras. As cineastas brasileiras de 1930 a 2018 (2019), LUSVARGHI, Luiza e SILVA, Camila Vieira (Org.). São Paulo: Editora Estação Liberdade.
    JAMESON, Fredric. The Political Unconscious – Narrative as a Socially Simbolic Act. Ithaca, New York, Cornell University Press, 1992.
    JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph. 2009.
    LUSVARGHI, Luiza. Interview with Tata Amaral by Zoom. 9 Oct 2020.
    MULVEY, L. Prazer Visual e Cinema Narrativo in XAVIER, Ismail. A experiência do cinema. Rio de Janeiro, São Paulo: Paz e Terra, 2018.
    NEALE, Steve (ed. 2000). Genre and Hollywood. New York: Routledge, 2000.
    WILLIAMS, Raymond. Drama em Cena. São Paulo: Cosac & Naify; 1ª edição, 2010.