Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    mauricio rodrigues pinto (UFMT)

Minicurrículo

    Mauricio Pinto é formado em Radialismo pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM) da mesma instituição.
    Dirigiu o curta “PANDORGA (2016)” e o documentário “Guardinha (2014)”. É responsável pelo roteiro e co-direção do telefilme documental “MISSIVAS (2018)”, selecionado no PRODAV05 de 2015.
    É membro fundador e secretário da MTCine e também fundador do Coletivo de Cinema Negro de Mato Grosso QUARITÊRÊ.

Ficha do Trabalho

Título

    “A Cilada com Cinco Morenos”: Pérola Negra do Cinema Matogrossense

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Resumo

    Propomos analisar a representação de pessoas negras no filme “A Cilada com Cinco Morenos” (Luiz Borges, 1996), na frente e por trás das câmeras. Para isso, partimos da abordagem interseccional e das definições de cinema negro de Orlando Senna (1979) e de Júlio C. dos Santos (2013) para refletir sobre o que é (ou seria) um cinema matogrossense que expresse traços identitários da negritude cuiabana.

Resumo expandido

    Imprimir as paisagens da baixada cuiabana, região em torno da capital matogrossense, bem como os modos e jeitos de quem ali vive, parecem pontos essenciais do filme de curta-metragem “A Cilada com Cinco Morenos” (1996), de Luiz Borges. O filme é um dos cinco curtas realizados na década de 1990 no estado de Mato Grosso através de uma lei estadual de incentivo à cultura e o único dirigido por uma pessoa negra. Fato esse que pode indicar a razão de que, embora todos os cinco curtas tragam suas marcas de regionalidade, é somente neste filme que a narrativa ocorre ao redor de uma expressão cultural representante da herança negra matogrossense, a saber, o rasqueado, no filme representado pelo grupo musical Os Cinco Morenos.
    O objetivo deste trabalho é, portanto, analisar o filme “A Cilada com Cinco Morenos” à partir de uma visada interseccional (GONZÁLEZ, 1984), isto é, elencando o gênero, a raça e a classe social tanto de sua equipe criadora (diretor, roteirista e produção) como dos personagens representados em tela. É também objetivo, a partir das definições de Orlando Senna (1979) e Júlio Cezar dos Santos (2013), explicitar porque o curta de Luiz Borges é o primeiro filme representante do Cinema Negro de Mato Grosso.
    Senna diz que para que se imprima um “discurso negro” no cinema é necessário que o próprio negro faça parte das tomadas de decisões cinematográficas (SENNA, 1979, p. 226).De tal sorte que podemos compreender o Cinema Negro como o cinema protagonizado pelos negros, na criação e atuação da obra fílmica. Júlio Cezar dos Santos o Cinema Negro “se dá através da quantidade e qualidade de participação de realizadores e criadores, negros e negras, que produzem cinema em todas as suas formas” (2013, p. 102).É possível notar então que uma narrativa que represente a realidade da materialidade do povo negro e a subjetividade do seu olhar sobre sua existência, só poderá efetivamente ser observada num filme produzido por ele mesmo.
    Ao olharmos esta produção há que se atentar para a especificidade deste objeto. Neste sentido, a crítica das mulheres negras ao feminismo universal criou um importante método de análise social, que “requer a necessidade de interseccionar eixos e categorias sociais e de análise – de poder-saber-ser – a fim de melhor compreender e combater diferentes formas de opressão sofridas por distintos corpos, sobre os quais se sobrepõem inúmeras carências” (TOLENTINO, 2019, p. 77).
    Ao nos voltarmos para este filme com um olhar internacionalista, para além das técnicas aplicadas, poderemos depreender que, ao representar traços culturais e identitários da negritude cuiabana, Luiz Borges pretendia mais do que a simples representação da cultura local. Os aspectos regionalistas aqui não provêm de um conservadorismo paralisante, senão de uma necessidade de resistir ao apagamento estrutural e histórico. Traço esse que podemos perceber na fala de Sr Jayme que ao comentar a escolha do nome “Cinco Morenos” diz: “Me perguntaram por que que é cinco morenos se nós somos todos pretos. Aí eu disse que foi por consideração de quem registrou”. O tom de humor de quem conta a história suaviza a triste memória.
    Parte dessa representação fílmica reflete a realidade histórica de Cuiabá, que tem a segunda maior população negra do Brasil entre as capitais, mas que com a chegada das ondas de ocupação sulistas a partir dos anos 1930, mais intensamente a partir dos 1970, tem sua identidade fragilizada, colocada como cenário de outras narrativas. Importa para nós, portanto, na a analise proposta do filme “A Cilada com Cinco Morenos”, refletir sobre o que é (ou seria) um cinema (de fato) negro matogrossense que expresse os traços identitários da negritude cuiabana.

Bibliografia

    BIBLIOGRAFIA

    GONZALEZ, L. Racismo e Sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpoc, São Paulo, s/ vol, n. 2, p. 223-244, 1984.
    SANTOS. Julio César dos; BERARDO. Rosa Maria. A quem interessa um “cinema negro”? Revista da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), [S.l.], v. 5, n. 9, p. 98-106, nov./fev. 2013. ISSN 2177-2770.
    SENNA, O. Preto e branco ou colorido: o negro e o Cinema Brasileiro. Revista Cultura Vozes, Rio de Janeiro, v. LXXIII, n. 3., p. 211–26, 1979.
    TOLENTINO, J. Lélia Gonzalez: uma filósofa brasileira abalando as estruturas. Revista Em Construção, Rio de Janeiro, v. 5, n. 5, p. 73-83, 2019.

    FILMOGRAFIA
    A CILADA com Cinco Morenos. Direção: Luiz Borges, MT, 1999, (15m), 35mm. color