Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Isabel Alencar de Castro (ESPM-POA)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação Social, PUCRS, 2017. Mestre em Artes, ECA-USP, 1994. Bacharel em Artes Plásticas, UFRGS, 1982. Professora na ESPM-POA de História da Arte e Desenho, 2007-2020. Autora de “Estética da Aproximação: análise de imagens em três minisséries de Luiz Fernando carvalho. Curitiba: Appris, 2020.

Ficha do Trabalho

Título

    Sobre a Estética da Aproximação

Mesa

    Casa Grande e Que horas ela volta? em três olhares diferentes

Resumo

    A mesa trata sobre dois filmes brasileiros recentes: Casa Grande (2015), de Fellipe Barbosa e Que horas ela volta? (2015), de Ana Muylaert. Em ambos, a ação se passa em bairros nobres de duas capitais brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente. Reflexões estéticas, questionamentos sociais e gênero, estão presentes em ambos os filmes, revelando desejos, contradições e desafios de personagens em um país complexo como é o Brasil.

Resumo expandido

    O olhar sobre esses dois filmes, Casa Grande e Que horas ela volta?, é uma reflexão estética, através da análise de cenas. Assim, parto da impressão que tive ao vê-las pela primeira vez, ampliando suas camadas de leitura. Além de uma escolha como localização, estes lugares têm reverberados não somente sentidos sociais, como também estéticos. É uma associação entre imagens em movimento e pintura, entre o campo da Comunicação e das Artes Visuais. Antes de tudo vale esclarecer que não é uma tradução literal de formas, em que tenha que aparecer elementos da mesma cor numa e outra imagens comparadas. É, sim, uma associação de imagens em movimento e uma pintura estática pela “simetria de procedimentos visuais”, que o diretor e o pintor lançam mão.
    Para tanto, inicio essa breve argumentação com uma afirmação de Alain Badiou (2002, p. 104) que diz: “[O cinema] é o mais-um das seis outras artes”, referindo-se à impureza de linguagens atribuída ao audiovisual. Ele defendia que não era a soma resultante de música + texto + imagem, por exemplo, e sim, uma arte à parte que sintetizava as relações entre as muitas outras.
    Unido ao filósofo francês, coloco Hans U. Gumbrecht (2014, p. 32) e o conceito de Stimmung, traduzido para o português como ambiência (porém não muito aceito por todos, por isso mantenho o termo original). O Stimmung não é apreendido pela lógica, somente pela realidade afetiva e que a sua presença é sentida por “ambientes com substância física, que nos tocam ‘como se de dentro’”. O pensador segue esclarecendo que o Stimmung é uma epifania, como uma presença, como uma atmosfera, porém, ao se perceber a presença, também temos a ausência, desta que não pode ser apreendida (GUMBRECHT, 2014, pp. 15-16).
    Ao ver as cenas eleitas dos filmes em questão in continuum, pude sintetizá-las em uma imagem única com uma ligação profunda com a sequência visualizada, e ao mesmo tempo, vivenciar o movimento da cena pintada na tela como um continuum. “No entrelaçamento dessas produções, é possível inferir uma ação construtiva comum, que eu chamo de procedimento visual tanto na cena como na imagem associada e assim, nesse movimento pendular de uma a outra e vice-e-versa, estabelece-se a “Estética da Aproximação (CASTRO, 220, p. 106).
    As duas cenas se desenrolam na piscina das casas e à noite. Do filme “Casa Grande” (2015), de Fellipe Barbosa, escolhi a primeira cena em que se desenrolam os créditos. O pai, Hugo, está relaxando na Jacuzzi ao lado de piscina, bebendo uísque e ouvindo música em alto volume e a associo à tela do pintor francês Paul Delaroche, intitulada “Napoleão abdicando em Fontainebleau”, do ano de 1845.
    Do outro filme, “Que horas ela volta?” (2015), de Anna Muylaert, elegi a de Val, a doméstica da casa, que se dirige à escada da piscina e desce em direção à água rasa. E a tela correspondente é do artista britânico David Hockney, com o título de “Retrato de um artista (piscina com duas figuras)”, de 1972.

Bibliografia

    BADIOU, A. Pequeno manual de inestética. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
    BONETTI, A. L. Gênero, poder e feminismos: as arapiracas pernambucanas e os sentidos de gênero da política feminista. Labrys, Études Féministes, 2012.
    CASTRO, I. A. Estética da Aproximação. Curitiba: Appris, 2020.
    COELHO, M. C. O valor das intenções – dádiva, emoção e identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
    CRENSHAW, K. W. A interseccionalidade na discriminação de raça e gênero. In: VV.AA. Cruzamento: raça e gênero. Brasília: Unifem, 2002.
    DAMATTA, R. A casa e a rua – espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.
    GUMBRECHT, H. U. Atmosfera, ambiência, Stimmung. Rio de Janeiro: Contraponto: Editora PUC Rio, 2014.
    VEIGA DA SILVA, M. Saberes para a profissão, sujeitos possíveis: um olhar sobre a formação universitária dos jornalistas e as implicações dos regimes de poder-saber nas possibilidade encontro com a alteridade. Tese. UFRGS, 2015.