Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Wilton Garcia Sobrinho (Fatec)

Minicurrículo

    Artista visual, Professor da Fatec Itaquaquecetuba, Doutor em Comunicação pela ECA-USP e Pós-doutor pelo IA/Unicamp, e-mail: wilton.garcia@fatec.sp.gov.br

Ficha do Trabalho

Título

    Diversidade no filme Tatuagem: experimentações criativas

Resumo

    Este texto expõe uma leitura sobre a diversidade no filme brasileiro Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda. O enredo traz eloquentes desafios enunciativos que impactam controvérsias, contrastes e paradoxos, ao permear vestígios sensíveis da metalinguagem – uma encenação da encenação. Ou seja, a fantasia da fantasia. Os resultados dessa escrita ensaística estrategicamente apostam em experimentações poéticas do cinema nacional, ao provocar reflexões sobre o Brasil contemporâneo.

Resumo expandido

    A necessidade de renovação no cinema brasileiro atual traz desafios perenes como a diversidade. Abrir espaço para o protagonismo da diversidade em cena requer repensar sobre a estrutura narrativa de filmes nacionais que enunciam novos tempos, novas demandas, novas possibilidades. Ainda que, no Brasil, os enfrentamentos – políticos, ideológicos, identitários, socioculturais – estejam sendo recorrentes, inclusive contra o estado democrático de direito.
    Da forma ao conteúdo (e vice-versa), a produção cinematográfica vem se realinhando conforme as demandas socioculturais e tecnológicas dos diferentes tipos audiovisuais propostos pela cultura digital – algoritmo, bigdata, redes sociais, internet das coisas, telefone celular de última geração. O fluxo da informação, cada vez mais, perpassa outros caminhos, inimagináveis, propiciando aberturas na exposição de narrativas contundentes que desarranjam o sistema hegemônico. O eixo da diversidade, por isso, (re)edita a inscrição emergente da pluralidade de personagens, os/as quais se multiplicam em sua natureza enunciativa.
    Este texto expõe uma leitura sobre a diversidade no filme brasileiro Tatuagem (2013), de Hilton Lacerda, cuja exemplificação contribui para se pensar sobre valores, referentes e potências que tangenciam a subversão e a transgressão. O enredo traz eloquentes desafios enunciativos impactando controvérsias, contrastes e paradoxos, ao permear vestígios sensíveis da metalinguagem – uma encenação da encenação. Ou seja, a fantasia da fantasia para além de mera virtualização de qualquer ilusão inusitada.
    Nesse caso, versatilidade, flexibilidade e transversalidade são categorias discursivas aqui ressaltadas como parâmetros disformes e desviantes para se pensar acerca do corpo, da erótica e do desejo nessa película. Mais que isso, seria examinar a abordagem debochadas de nossa brasilidade, (re)veldas por camadas intersubjetivas do afeto entre os protagonistas – Clécio Wanderley (Irandhir Santos) e Fininha, o soldado Arlindo Araújo (Jesuita Barbosa).
    Dessa maneira, verifica-se a necessidade de encaminhar o debate sobre as experimentações poéticas que, estrategicamente, trazem insurgências de contradições, controvérsias e paradoxos a respeito da (re)dimensão diversidade GARCIA, 2020; SANTOS, 2014; TREVISAN, 2018). As extensões desse diversus estão impregnadas de produção subjetiva do audiovisual contemporâneo.
    O filme Tatuagem explora um ambiente permissivo da liberdade de gênero. Mais que arte, mais que teatro, a trupe Chão de Estrela cria um mundo de possibilidades. Inauguram um espaço coletivo de provocações performáticas para convidar o público a visitar e ultrapassar seus limites. São situações contundentes da diversidade como produção cultural carregada de dinâmicas estratégicas de uma performatividade singular. Cenas cinematográficas problematizam a política identitária (de afeto, corpo, erótica, desejo e fetiche) mediada pela diversidade.
    Como base conceitual, os estudos contemporâneos (MIGNOLO, 2007; MORIN, 2020) da diversidade no cinema (GARCIA, 2020; SANTOS, 2014; TREVISAN, 2018) propiciam uma dinâmica de atualização e inovação sob a produção de conhecimento e subjetividade. Com isso, o percurso metodológico, neste estudo, ancora-se em uma leitura crítico-reflexiva com três níveis: observar, descrever e discutir fragmentos dessa narrativa cinematográfica. Tais níveis arquitetam essa leitura, a fim de (re)equacionar algumas experimentações poéticas.
    Os resultados da diversidade aqui tratada provocam determinada produção de conhecimento no campo do cinema brasileiro. Novas diretrizes crítico-reflexivas emergem da própria linguagem cinematográfica em busca de novos aportes teóricos e conceituais.

Bibliografia

    MIGNOLO, W. D. Epistemic disobedience: the de-colonial option and the meaning of identity in politics. Gragoatá, n. 22, p. 11-41, 2007. Disponível em: file:///C:/Users/Wilton/Downloads/33191-111436-1-PB.pdf. Acesso em: 10 jul 2019.

    MORIN, E. Conhecimento, ignorância, mistério. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.

    GARCIA, W. Pra quem gosta um beijo: diversidade contemporânea no audiovisual brasileiro. São Paulo: Hagrado edições, 2020.

    SANTOS, R. PoÉtica da diferença: um olhar queer. São Paulo: Factash, 2014.

    TATUAGEM (Brasil, 90 min.). Dir., Rot.: Hilton Lacerda. Ass. Dir.: Marcelo Caetano. Prod: João Vieira Jr. e Ofir Figueiredo. Prod. Exec.: Nara Aragão. Dir. Fot.: Ivo Lopes Araújo. Mont.: Mair Tavares. Fig.: Chris Garrido. Mix som: Ricardo Cutz. Mon. Som: Waldir Xavier. El.: Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa, Rodrigo Garcia. Dist.: Imovision, 2013.

    TREVISAN, J. S. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2018.