Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcus Vinicius Azevedo de Mesquita (UnB)

Minicurrículo

    Mestrando em Artes Visuais e bacharel em audiovisual, pela Universidade de Brasília – UnB. Atua em diferentes áreas da produção cinematográfica, dentre outras realizações, co-roteirizou e co-dirigiu o curta-metragem Afronte, premiado em diferentes festivais de cinema e o longa Rumo, em fase de finalização. Produtor da Mostra Competitiva de Cinema Negro – Adélia Sampaio e do documentário Filhas de Lavadeiras e um dos curadores do Festival Universitário de Brasília em 2019.

Ficha do Trabalho

Título

    A imagética decolonial de corpos negros LGBT+ no cinema negro

Seminário

    Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.

Resumo

    Este artigo busca compreender a maneira como o curta-metragem NEGRUM3 (2018), constrói um discurso decolonial acerca das vivências de negros LGBTQ+, ao desenvolver narrativas cinematográficas sobre as experiências de diferentes jovens da cidade de São Paulo. Adotaremos como perspectiva metodológica o exame dos elementos que compõem a linguagem cinematográfica, para compreender como o filme desenvolve narrativas que relacionam corporeidade e experiência negra como forma de resistência.

Resumo expandido

    Os estudos sobre a história do cinema brasileiro demonstram que determinados grupos foram representados de forma estereotipada e relegados a papéis de subalternidade. Pode-se afirmar que negros e LGBTQ+ têm sido representados pelos meios de comunicação por meio de um conjunto de estereótipos que se amalgamaram ao imaginário social e constituem mecanismo de manutenção das estruturas de poder que compõem a sociedade brasileiro em que predomina o racismo disfarçado ou “por denegação” (Gonzalez, 2018).
    Observa-se, porém, o crescimento de novas produções que mudam, nos últimos anos, as perspectivas segundo as quais se apresentam personagens negros LGBT+. Essas produções fazem parte de um grupo que se constitui a partir dos questionamentos dos movimentos sociais e da maior visibilidade que as pautas reivindicadas por eles adquirem atualmente.
    Assumo o Cinema Negro como a possibilidade de remodelar a forma como grupos que interseccionam diferentes opressões, como raça e sexualidade, são representados nas produções cinematográficas brasileiras; pois permite compreendê-lo, não apenas como uma produção de cinema com a temática negra, mas como um cinema produzido por negros, com temáticas sobre a população negra.
    Sendo assim, esse artigo propõe uma análise do filme NEGRUM3 (2018), do diretor Diego Paulino, que se coaduna a um discurso decolonial, para construir novos referentes simbólicos em uma “luta pela criação de um mundo onde muitos mundos possam existir, e onde, portanto, diferentes concepções de tempo, espaço e subjetividades possam coexistir e também se relacionar produtivamente” (Maldonado-Torres, 2019, p. 36).
    A decolonialidade constitui-se como um projeto político e acadêmico que busca sistematizar o processo histórico da colonialidade do poder, do ser e do saber, ou seja, “uma lógica global de desumanização que é capaz de existir até mesmo na ausência de colônias formais” (Maldonado-Torres, p. 36, 2019) e propõe construir estratégias para transformar a realidade das populações afrodiaspóricas. Esse projeto constitui-se a partir da centralidade da raça como um elemento estruturante das relações desenvolvidas no mundo moderno.
    A decolonialidade pressupõe a luta por uma outra estrutura social em que diferentes concepções de mundo, de tempos, de espaços e de subjetividades possam coexistir, bem como relacionar-se (Maldonado-Torres, 2019). Destaca-se na epistemologia decolonial que todo conhecimento produzido é corporalmente e coletivamente localizado. O resultado é o rompimento com o modelo de gênero, sexo e raça do colonizador, que durante muito tempo, direcionou as suas performances na busca de se inserir nesse padrão de normalidade imposto pelo colonialismo. Essa atitude decolonial, conforme explica Maldonado-Torres, faz o sujeito emergir “como um pensador, um criador/artista, um ativista” (p.46, 2019), um corpo questionador, que busca zonas de contato para compreender diferentes experiências de vida.
    A produção artística tem um papel preponderante nesse giro decolonial, por congregar na experiência estética corpo e mente. O filme NEGRUM3 elabora, por meio de imagens, um discurso que busca uma ruptura epistemológica e social com a presença negra na produção de conhecimento e cultura. Observa-se que o diretor reinterpreta as suas vivências por meio de seu filme, ao mesmo tempo em que contribui para a reformulação do imaginário acerca de corpos negros LGBTQ+.
    Para compreender como o discurso é construído no curta, realizaremos uma análise fílmica. De acordo com Aumont e Marie (2004), faz-se necessário considerar o filme como uma obra artística autônoma, que estabelece formações textuais, que fundamentam os seus significados em estruturas narrativas, por meio de aparatos visuais e sonoros. Adotaremos como perspectiva metodológica a análise dos elementos que compõem a linguagem cinematográfica. Todos esses elementos serão analisados para compreender as matrizes discursivas desenvolvidas pelo filme.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques, e MICHEL, Marie. A análise do filme. Lisboa: Edições texto & grafia, 2004.
    ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. São Paulo: Senac, 2000.
    CARVALHO, Noel dos Santos. Introdução. In: De, Jeferson. Dogma Feijoada: O cinema negro brasileiro. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura – Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 2005.
    GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro e a intelectualidade negra descolonizando os currículos. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Autêntica, Belo Horizonte, 2019.
    GONZÁLEZ, Lélia. Primavera para as Rosas Negras. Rio de Janeiro: Diáspora Negra, 2018
    LACERDA JÚNIOR, Luiz Francisco Buarque de. Cinema gay brasileiro: políticas de representação e além. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2015.
    NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Editora Perspectiva SA, 2016.