Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Yasmin Lopes Müller (UDESC)

Minicurrículo

    Arquiteta e Urbanista formada pela Udesc em 2019 e mestranda em Planejamento Territorial pelo PPGPlan-UDESC (2020-2022). Atuou como bolsista de iniciação científica na pesquisa “Corpo Espacial do Cinema: uma cartografia das antigas salas de cinema de rua de Santa Catarina” (2016-2020) e atualmente desenvolve o projeto de mestrado “O cinema ao longo do Vale do Rio Itajaí (SC): espaços de cultura e desenvolvimento regional”.

Coautor

    Renata Rogowski Pozzo (UDESC)

Ficha do Trabalho

Título

    SALAS DE CINEMA NO VALE DO ITAJAÍ (SC): CULTURA E DESENVOLVIMENTO

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    A pesquisa busca compreender a geografia histórica da rede de exibição cinematográfica no Vale do Itajaí (SC) em associação com o processo de desenvolvimento regional. A região registra a primeira exibição cinematográfica e a rede de salas de rua mais expressiva do estado. Argumenta-se que essa precocidade associa-se a características da imigração e que sua expressividade deve-se às salas constituírem um vetor de investimento do capital inicialmente comercial e posteriormente industrial.

Resumo expandido

    Cinco anos após o mito de origem do cinema pelos irmão Lumière, em 11 de agosto de 1900, longe do continente europeu e já em terras brasileiras, Blumenau recebe sua primeira exibição de películas de filmes, sendo a primeira registrada em todo estado de Santa Catarina. Como explicar que uma atividade como o cinema, tipicamente ligada ao universo moderno, urbano e industrial, tenha chegado tão remotamente a uma região de tão recente desenvolvimento? No século XIX, o continente europeu, e a Alemanha em especial, vive o auge da transição para a modernidade capitalista, em termos de realizações na esfera industrial e urbana. Os imigrantes do Vale do Itajaí vindos principalmente da atual Alemanha – a qual até a unificação, em 1871, era composta por cidades-estados – não eram agricultores; majoritariamente praticavam pequenos ofícios como oleiros, técnicos industriais, comerciantes, artesãos têxteis e perderam lugar em decorrência da revolução industrial. A maioria dos imigrantes que aqui desembarcaram se viram obrigados a iniciarem atividades agrícolas por conta das leis do governo imperial para concessão de terras. Com o desenvolvimento das localidades do Vale do Itajaí, estes imigrantes tiveram a oportunidade de voltar a trabalhar com seus reais ofícios. Estes projetos comerciais e industriais se tornaram extremamente prósperos na região de Blumenau, que passou a ser uma das principais regiões econômicas de Santa Catarina por sua iniciativa tecnológica. Desta forma, é notável o caráter urbano que teve a colonização alemã no estado. Com esse caráter urbano e técnico da imigração, junto ao incentivo à cultura como forma de adaptação às novas terras, foram criadas as condições para a vinda do cinema para a região 5 anos após sua invenção. Não apenas o cinema chega precocemente ao vale, como torna-se um elemento de sustentação e expansão econômica da região, especialmente do ponto de vista da exibição cinematográfica, ou seja, das salas de cinema. Após a fase das exibições em espaços culturais (como antigos Salões e Teatros), durante o século XX o vale do Itajaí conformou uma rede exibidora que contou com salas icônicas como o Cine Busch de Blumenau, o Cine Palace de Rio do Sul, os vários Cine Mogk, dentre outros, frutos do investimento de prósperos comerciantes e industriais. Trata-se, de fato, da rede exibidora de maior envergadura no território catarinense, com 56 salas de cinema identificadas dentro de um universo de 200 estabelecimentos de rua presentes em Santa Catarina ao longo do século XX. Neste sentido, a problemática da pesquisa pode ser expressa em duas perguntas, já que compreende duas dimensões (gênese e desenvolvimento): Como explicar a precocidade e o protagonismo do setor exibidor cinematográfico no Vale do Itajaí? Como o setor exibidor participa do processo de desenvolvimento regional do Vale do Itajaí? Como hipótese, analisamos que estas questões se relacionam ao fato de que os imigrantes alemães estiveram desde a origem ligados ao universo urbano e que, ao mesmo tempo, o cinema foi utilizado ativamente como forma de adaptação destes às novas terras. A partir dessa origem, o desenvolvimento do setor cinematográfico acompanha o desenvolvimento regional do Vale do Itajaí, representando um vetor de investimento do capital inicialmente comercial e posteriormente industrial.

Bibliografia

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    MULLER, Yasmin Lopes Muller; POZZO, Renata Rogowski. Cartografias do cinema: o protagonismo de Blumenau no contexto catarinense. XV Simpurb – Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Salvador, 2017.
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