Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Erick Felinto de Oliveira (UERJ)

Minicurrículo

    Erick Felinto é pesquisador do CNPq e Professor Titular da UERJ, onde realiza pesquisas sobre cinema e cibercultura. É autor dos livros A Religião das Máquinas: Ensaios sobre o Imaginário da Cibercultura (Sulina), O Explorador de Abismos: Vilém Flusser e o Pós-Humanismo (Paulus) e A Imagem Espectral: Comunicação, Cinema e Fantasmagoria Tecnológica (Ateliê Editorial), entre outros.

Ficha do Trabalho

Título

    Espetáculos Noturnos: do Fantástico como Ambiência Cinematográfica

Seminário

    Cinema Comparado

Resumo

    Noção exaustivamente explorada no domínio dos estudos literários, o fantástico ainda se manifesta como categoria híbrida e difícil de precisar. Tomando como exemplo e estudo de caso os esquecidos filmes de Marcel Carné, “Les Visiteurs du Soir” (1942), e de Wojciech Has, “Rekopis znaleziony w Saragossie” (1965), pretende-se investigar o estatuto das “imagens fantásticas” no cinema e na literatura, ao desvelar suas conexões com as ideias do espanto (taumaséin) e da perplexidade filosófica.

Resumo expandido

    Noção exaustivamente explorada no domínio dos estudos literários, o fantástico ainda se manifesta como categoria híbrida e difícil de precisar. Não obstante as diversas tentativas de assimilá-lo ao instrumental das teorias da narrativa (Todorov, Viegnes), o fantástico insiste em escapar a toda espécie de sistematização exaustiva, ao modo de outros termos sugestivos com os quais entretém íntimas relações, como “imaginário”, “maravilhoso”, “extraordinário” ou “estranho” (Unheimlich). No cinema, o fantástico emerge como força constitutiva, porém continuamente reprimida pela maioria dos discursos que buscam dar conta de sua história. O objetivo deste trabalho é pensar as possíveis relações que o fantástico mantém com a dimensão do pensamento reflexive e da criação de conceitos. Em outras palavras, trata-se de pensar o fantástico como dispositivo fomentador de uma dimensão filosófica na experiência cinematográfica. Tomando como exemplo e estudo de caso os esquecidos filmes de Marcel Carné, “Les Visiteurs du Soir” (1942), cujo roteiro foi escrito pelo poeta Jacques Prevert, e de Wojciech Has, “Rekopis znaleziony w Saragossie”(1965), pretende-se analisar o estatuto das “imagens fantásticas” no cinema e na literatura, esclarecendo suas conexões com as ideias clássicas do espanto (taumaséin) e a perplexidade filosófica. A proposta central do trabalho é caracterizar o fantástico não como um claro demarcador de gênero, mas sim como uma “ambiência” engendrada pelos recursos possibilitados pelo aparato cinematográfico. No filme de Carné, o fantástico produz no espectador inicialmente uma afecção da ordem do sensível (seus efeitos e imagens engendram “sensações” fantásticas), para em seguida conduzi-lo a uma dimensão reflexiva na qual se propõe questões de ordem moral, existencial e teológica. O mesmo se passa com o trabalho de Wojciech Has. Ambos os filmes serão, assim, caracterizados como obras singulares, na qual identificamos exemplarmente o poder das imagens cinematográficas para encenar as ligações, raramente evidentes, entre as dimensões do maravilhoso (caracterizado tradicionalmente como paixão “corporal”) e o reflexivo. Nesse processo, buscar-se-á também situar os filmes em suas relações com o domínio literário (O roteiro de “Visitantes da Noite” foi escrito pelo poeta Jacques Prévert com alguma inspiração no texto medieval de Les Très Riches Heures du duc de Berry, ao passo que “Rekopis znaleziony w Saragossie” foi diretamente baseado no livro de Jan Potocki, Manuscrit trouvé à Saragosse, marco da literatura fantástica europeia).

Bibliografia

    LUCAS, Gozalo de. Vida secreta de las sombras: imágenes del fantástico en el cine francés. Barcelona: Paidós, 2001.

    MACHADO, Arlindo. Pré-Cinemas & Pós-Cinemas. São Paulo: Papirus, 1997.

    BÉGOUT, Bruce. Le Concept d’Ambiance. Paris: Seuil, 2020.

    MÜNSTERBERG, Hugo. The Film: a Psychological Study. New York: Dover, 2004 (1˚ ed: 1916).

    WERNER, Marina. Phantasmagoria: Spirit Visions, Metaphors, and Media into the Twenty-First Century. Oxford: Oxford University Press, 2006.

    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Stimmungen Lesen: Über eine verdeckte Wirklichkeit der Literatur. München: Carl Hanser, 2011.

    GUNNING, Tom. “Phanton Images and Modern Manifestations: Spirit Photography, Magic Theater, Trick Films, and Photography’s Uncanny”, em PETRO, Patrice (ed.). Fugitive Images: from Photography to Video. Bloomington: Indiana University Press, 1995.

    TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1992.