Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Roberta Filgueiras Mathias (UFF)

Minicurrículo

    Antropóloga, Especializada em Arte e Filosofia e Mestre em Filosofia na área de Filosofia do Cinema. Desde 2014, é pesquisadora na área de Antropologia Urbana estudando periferias e culturas latino-americanas. Doutoranda no PPGCINE/UFF. Integrante do grupo de pesquisa Cidades-Núcleo de Pesquisa Urbana/UERJ. Foi professora convidada e orientadora no Curso de Especialização em Fotografia e Imagem – Pós-graduação do IUPERJ – Universidade Cândido Mendes RJ de 2016 a 2019. Associada ABA e SOCINE.

Ficha do Trabalho

Título

    Aportes para novas miradas: O cinema de César González

Seminário

    Cinemas pós-coloniais e periféricos

Resumo

    A obra do diretor e literato César González centra-se em dois polos: sua experiência na Villa Carlos Gardel, localizada em região periférica de Buenos Aires e sua formação em filosofia. Transitando pelos dois universos, González cria narrativas visuais fortes em seus audiovisuais que são propositivos de uma perspectiva política e estética combativa. Assim, trago o que o próprio chama de trilogia villera para discutir essa disputa de discurso que é, acima de tudo, cultural e territorial

Resumo expandido

    A proposta dessa comunicação é apresentar e analisar algumas características da obra de César González, cineasta que venho estudando em meu processo de doutoramento. Sua obra, em primeiro momento, chamou minha atenção por seu caráter duro e ao mesmo tempo denso. Morador de Villa Carlos Gardel, localizada no distrito de Moron, conurbano bonaerense , passou a cursar a carreira de filosofia ainda na prisão e viu o cinema crescer como possibilidade de proposição estética de um território.
    Aqui, pretendo analisar o que o próprio nomeia como trilogia villera que conta com Diagnóstico Esperanza (2013), Qué puede un cuerpo (2014) e Athenas (2019). Embora a temática territorial perpasse toda sua obra, que faz também questão de dizer ser um “cinema villero”, trago esses três filmes como centro de minha análise acompanhando o recorte feito pelo próprio diretor para evidenciar perceptíveis mudanças ao longo do tempo tanto em linguagem quanto em técnica, mas ressaltar a permanência de questões que enfocam a disputa pelo território físico, discursivo e imagético.
    A Villa Carlos Gardel teve urbanização finalizada em 2010 e passou a ser considerada barrio. Essa denominação, acompanhada de uma demarcação, não é ingenuamente ignorada pelo cineasta. A proposta por um cinema villero pode ser considerada como disputa não somente metodológica, pois também o é, mas principalmente uma visão das arenas culturais, ou seja, dos territórios urbanos como em disputa cultural constante predominantes nas cidades latino-americanas (GORELIK,2016, página 2). Ao reestruturar o conceito cunhado por Richard Morse, para pensar as cidades latino-americanas contemporâneas, o sociólogo argentino pensa nos movimentos específicos que são (re)inaugurados nas diversas reformulações pelas quais passamos e nos poderes que as orbitam.
    Assim, trazer a obra de González para ser discutida nesse seminário temático é apresentar o diálogo entre cinema e território a partir de uma visão periférica atravessados pelas perspectivas contra hegemônicas que podemos encontrar nos autores citados na bibliografia dos próprios pesquisadores organizadores, pois o corpo de González e de seus protagonistas/companheiros de obra são latino-americano, periféricos e marrones, tendo sua ascendência indígena também como marca colonial. Para deixar mais evidentes minhas referências compartilhadas, a ideia de desobediência epistêmica (PALERMO) e reavivação (WALSH) são centrais nesse cinema insurgente que utiliza as teorias coloniais apreendidas na academia formal, mas as transmuta em componente villero.
    O entendimento de fazer parte de uma engrenagem sistêmica secular, faz o cinema de González seguir para espaços conhecidos em seu cotidiano, mas que agora serão explorados de outra forma, tendência que podemos notar em seu cinema mais recente.

Bibliografia

    GORELIK, Andrian y PEIXOTO, Fernanda Arêas Ciudades sudamericanas como arenas culturales: Artes y Medios, Barrios de elite y Villas Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2016
    WALSH, Catherine. Pedagogías decoloniales. Prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Tomo I. Quito: Ediciones Abya-Yala, 2013.
    PALERMO, Zulma. Desobediencia epistémica y opción decolonial. Cadernos de estudos culturais, Campo Grande, MS, v. 5, p. 237-194, jan./jun, 2013.
    MELENDI, Maria Angelica Estratégias da Arte em uma Era de Catastrofes. Rio de Janeiro: Editora Cobogó,2017
    OSZLAK, Oscar Merecer la ciudad: los pobres y el derecho al espacio urbano Buenos Aires: Eduntraf, Editorial de la Universidad Nacional de Tres de Febrero, 2017
    HILL COLLINS, Patricia; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2021
    MBEMBE, Achille Necropolítica
    HAESBAERT, Rogério Território e descolonialidade: sobre o giro (multi)territorial/de(s)colonial na “América Latina”