Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    GEÓRGIA CYNARA COELHO DE SOUZA (UEG)

Minicurrículo

    Geórgia Cynara é doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG, 2012), especialista em Cinema e Educação pelo Instituto de Filosofia e Teologia de Goiás (2010) e graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela UFG (2005), atua nas áreas de Comunicação, Música, Audiovisual e Educação. É jornalista, musicista (violino/bandolim), compositora, docente titular dos cursos de Bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e do Programa de Pós-Graduação em Performances Culturais da UFG.

Ficha do Trabalho

Título

    Criação de trilhas por Inteligência Artificial e bibliotecas digitais

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Resumo

    Implicações estéticas e profissionais do uso de Inteligência Artificial (IA) e bibliotecas na composição musical para audiovisual. Amparado em pesquisas bibliográficas sobre som e música no audiovisual, reportagens e entrevistas com compositores que lidam com IA e/ou bibliotecas em seu cotidiano (Pierrobom, 2021; Ludwig, 2018; Domene, 2018), refletimos sobre a composição musical menos como resultado de um “ímpeto criativo de autor” e mais como uma complexa curadoria de sonoridades disponíveis.

Resumo expandido

    Por meio de Inteligência Artificial (IA) e em instantes, é possível criar trilhas musicais para audiovisual em aplicativos on-line. A aparente simplicidade dos processos comunicada ao usuário – “selecione o gênero e a duração; IA faz sua música; ajuste; baixe e use no seu projeto” (Amper Music) – esconde uma complexa rede de combinações de sons pré-gravados em alta qualidade, realizados por softwares após o aprendizado de padrões, e disponível para qualquer pessoa com acesso à internet e a um cartão de crédito.
    O controle de ritmo, instrumentação, clima e duração, bem como a facilidade de uma trilha livre de direitos autorais, licenciada global e eternamente para o uso do consumidor, são vendidos a produtores audiovisuais sob o argumento da customização em um prazo mínimo, em que poucas decisões fazem emergir uma música livre de disputas e desgastes relacionais e, em tese, adequada a determinado produto.
    Uma trilha composta por IA geraria, então, uma considerável economia de tempo e recursos. Mais de 20 anos após as DAWs (Digital Audio Workstations), instrumentos virtuais e MIDI (Musical Instrumental Digital Interface) se tornarem alternativas à contratação de músicos, equipamentos e estúdios, e após as bibliotecas digitais on-line permitirem, via licenciamento, o uso de uma trilha musical não endereçada a uma obra audiovisual específica: para se realizar uma trilha musical hoje, basta estar conectado. O custo estético desta facilidade parece ser o reforço de convenções musicais, gravadas em determinado padrão, naturalizadas em gêneros mais ou menos arbitrários, disponíveis nessas plataformas. Assim, trabalhamos com a hipótese de que a Inteligência Artificial, ao ser utilizada em trilhas para audiovisual, atuaria como uma “curadora automática” de sons disponíveis e a serviço da conveniência de uma estrutura de produção cuja velocidade se aproxima do tempo real, reforçando códigos canônicos da música para imagem.
    Ampliando a ideia de curadoria na composição de trilhas, a IA seria o processo curatorial com menos intervenção humana na combinação de sonoridades. Tal intervenção aumenta, juntamente com a necessidade de tempo e recursos, quando se opta pelas bibliotecas de “trilha branca”. O ápice da ação humana na criação de uma trilha – a música original – parece, então, um pouco mais distante em conteúdos de internet e televisão, e continua mais evidente no cinema, em que um compositor segue sendo convidado a criar uma música para um filme, graças à sua notoriedade artística, versatilidade, facilidade de negociação e provável parceria longeva com o diretor – o que, por sua vez, sugere uma ideia de autoria datada do século XIX e cuja romantização parece ruir quando estes três níveis de curadoria sonora – IA, bibliotecas musicais e música original – começam a se misturar.
    Este estudo busca investigar, comparativamente ao uso de bibliotecas musicais digitais ou “production music” (Adams et al, 2017), as consequências do uso de Inteligência Artificial nos processos de composição musical para audiovisual, tanto em âmbito estético quanto profissional. Buscamos compreender como essas tecnologias podem afetar tanto o ofício e as relações do compositor e do supervisor musical com outros profissionais que tomam decisões dentro de um projeto audiovisual, quanto os processos de criação, por meio da aprendizagem e reforço de padrões, ou mesmo recombinações e possibilidades de ruptura ou “deformação”, via ação humana.
    Tendo como principais parâmetros a acessibilidade tecnológica, orçamento, prazo, demandas narrativas e fluxos de trabalho e, como fundamentação, pesquisa bibliográfica sobre som e música no audiovisual, reportagens e entrevistas com compositores que utilizam IA e/ou lidam com bibliotecas digitais em seu cotidiano (Pierrobom, 2021; Ludwig, 2018; Domene, 2018) -, busca-se evidenciar a composição musical menos como resultado de um “ímpeto criativo de autor” e mais como uma complexa curadoria de sonoridades disponíveis.

Bibliografia

    ADAMS, R.; HNATIUK, D.; WEISS, D. Music Supervision: The Complete Guide To Selecting Music for Movies + TV + Games + New Media. New York: Schirmer Trade Books, 2017.
    DOMENE, Maurício. Maurício Domene: depoimento [nov. 2018]. São Paulo, 2018.
    INTELIGÊNCIA artificial na música: o fim do compositor? Abramus (sem data). Disponível em: . Acesso em: 28 abr 2021.
    LUDWIG, Julian. Julian Ludwig: depoimento [out. 2018]. São Paulo, 2018.
    MATOS, E. A arte de compor música para o cinema. Brasília: Senac, 2014.
    OLIVEIRA, M. P. As Transformações do Mercado Musical e as Plataformas de Crowdfunding e Licenciamento Musical. Revista Sonora, Campinas, v. 6, n. 12, p. 1-16, 2017. Disponível em: https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/sonora/article/download/740/972 . Acesso em: 17 mar 2019.
    PIERROBOM, Eduardo. Eduardo Pierrobom: depoimento [abr. 2021]. São Paulo, 2021.