Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriel Costa Correia (UNICAMP)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor Assistente na Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) .

Ficha do Trabalho

Título

    Dario Argento e Bong Joon-ho: uma leitura existencialista

Resumo

    Esta apresentação tecerá alguns comentários sobre a obra de dois realizadores, Bong Joon-ho e Dario Argento, que abordam o cinema de gênero de formas distintas, porém igualmente complexas e reflexivas em sua representação do homem e suas angústias e conflitos com o mundo que o cerca em uma perspectiva que pode ser lida como existencial.

Resumo expandido

    Esta apresentação tecerá alguns comentários sobre a obra de dois realizadores, Bong Joon-ho e Dario Argento, que abordam o cinema de gênero de formas distintas, porém igualmente complexas e reflexivas em sua representação do homem e suas angústias e conflitos com o mundo que o cerca em uma perspectiva que pode ser lida como existencial. Bong Joon-ho, cineasta sul-coreano, desenvolve em sua filmografia uma relação complexa de adesão e desconstrução com o cinema de gênero. A comédia derivada do absurdo está presente em todos seus filmes e o constante movimento de aproximação e desconstrução com um gênero principal é outra marca comum. Porém, é na absoluta recusa de seus personagens protagonistas na adesão ao que Sartre chama de ‘má-fé’ e Camus de ‘salto’ ou ‘suicídio filosófico’ – a adesão a algum sistema de valores e ideias que justifiquem o injustificável e expliquem o inexplicável da condição humana – que se encontra um viés para uma leitura existencialista da obra de Joon-ho. A mãe, o detetive, a menina que salva a criatura, a família invasora, todos se recusam a aceitar de maneira passiva o absurdo existencial e as limitações que a sociedade impõe a suas liberdades, criando mundos paralelos onde habitam e realizam suas ações. As regras e convenções sociais nos filmes de Joon-ho são peças em um jogo que seus personagens utilizam conforme suas necessidades de momento e suas visões de mundo. Sartre diz que “o homem nada mais é do que o seu projeto; só existe na medida em que se realiza; não é nada além do conjunto de seus atos, nada mais que sua vida” (2014). No cinema de Bong Joon-ho os personagens estão colocados como projetos de si mesmos a todo momento, e isso se traduz em enredo, desenvolvimento de personagens, mise-en-scène e no modo como seus filmes se relacionam com os gêneros, uma vez que a escolha deliberada de construir e desconstruir narrativas de gênero em seus filmes pode ser entendida também como uma forma de afirmação estética do cineasta em relação ao seu projeto de si enquanto realizador cinematográfico que atua em um meio que é ao mesmo tempo produto e arte, indústria e artesanato.
    Dario Argento tem, por outro lado, uma relação de adesão completa e irrestrita ao cinema de gênero. Sua filmografia contempla obras extremamente ricas e complexas no modo como narrativa, mise-en-scène e gênero são articulados. O subgênero mais explorado por Argento é o giallo, gênero cinematográfico cujas bases foram codificadas nos anos 1960 por Mario Bava e ampliadas e desenvolvidas por diretores como Lucio Fulci, Sergio Martino e Argento. No giallo, há sempre a figura do assassino envolto em mistério sem uma motivação aparente (e existe algo que justifique o assassinato?); há alguém que investiga sem ser detetive de fato (quando muito há um “diletante” que auxilia o detetive); as relações de causa e efeito se perdem ou são confusas ou ilógicas; a atmosfera é onírica e as resoluções não são importantes, perdendo-se no meio do espetáculo visual proporcionado pela mise-en-scène rebuscada e inovadora (em especial, nos filmes de Argento). Camus defende que devemos recusar a legitimação do assassinato em protesto contra a morte – a origem e o fim do absurdo existencial -, os filmes de Argento colocam o assassinato em primeiro plano incitando a reflexão ao colocar o espectador diante dessa incômoda confrontação a todo momento. O absurdo nos filmes de Argento é resultado do deslocamento operado pelo diretor na condução da mise-en-scène ao ilustrar mortes e violações de corpos de formas variadas, belas, extremas e muitas vezes hiper-realistas, no sentido do exagero que transcende a forma de representação para além da naturalista, chegando quase ao onírico, surrealista, psicodélico. Para Argento o horror não deixa de ser absurdo, na realidade o absurdo é evidenciado e ressaltado em seus filmes, mas mesmo no absurdo podemos encontrar a beleza. A morte exerce esse fascínio que é ao mesmo tempo angústia e medo, liberdade e prisão.

Bibliografia

    CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. Rio de Janeiro: Editora Record, 2020.
    CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Bestbolso, 2020.
    CARROL, Noel. A Filosofia do Horror ou Paradoxos do Coração. Campinas: Papirus, 1999.
    SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. Petrópolis: Editora Vozes, 2014.