Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Silvane Maltaca (PPG/CINEAV UNESPAR)

Minicurrículo

    Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Artes do Video da Universidade Estadual do Paraná (2020). Possui especialização em Produção Independente em Cinema e Video pela Faculdade de Artes do Paraná (2011). É graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2003). Membro da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência.

Ficha do Trabalho

Título

    REDES DE CRIAÇÃO E CONVERGÊNCIAS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE AGNÈS VARDA

Resumo

    Ao identificar fragmentos de declarações da cineasta franco-belga Agnès Varda em suas duas obras de caráter autobiográfico “Varda por Agnès (2019) e “As Praias de Agnès” (2008), podem ser evidenciados percursos de convergências do processo de criação e registros de uma manifestação artística em ação, onde se observa a tessitura de uma rede de ações onde a artista deixa transparecer recorrências significativas que possibilitam o estabelecimento de generalizações sobre o seu fazer criativo.

Resumo expandido

    A presente investigação se constitui em um recorte de uma pesquisa em construção acerca das convergências no processo de criação da cineasta franco-belga Agnès Varda, pela análise das duas obras de caráter autobiográfico “Varda por Agnès (2019) e “As Praias de Agnès” (2008), a partir das teorias que norteiam o conceito de cinema expandido.

    O filme “Varda por Agnés” (2019) se baseia em uma conferência realizada pela cineasta franco-belga para refletir sobre o processo de criação da artista e “As praias de Agnés”, realizado quase dez anos antes, trata sobre o mesmo objeto, mas com uma abordagem mais ensaística. Em ambas as obras, a cineasta deixa rastros que podem ser descritos e analisados, sugerindo pistas nas quais podemos refletir acerca do processo e significado do trabalho pelo prisma do pensamento convergente. “Três palavras são importantes para mim: inspiração, criação e compartilha. A inspiração é a razão pela qual se faz um filme; a criação é como fazemos o filme…(…); a terceira é compartilhar: não fazemos filmes para assisti-los sozinhos, fazemos para mostrá-los. No fundo, é preciso saber o motivo daquele trabalho.”(Varda por Agnès, 2019). Estas palavras trazidas por Varda na abertura de seu último filme autobiográfico podem ser analisadas como instâncias de reflexão, as quais se encontram vestígios de sentidos: o “inspirar”, trazendo as referências de um inventário imagético e de imagens-memória; a instância do “criar”, nos qual se explicita o processo de produção e a feitura de filmes e de instalações, e do que Agnès Varda denomina como cinescrita; e o “compartilhar”, observando como se dá o processo de deslocamento das obras de Agnès Varda das convencionais sala de exibição para as videoinstalações, evidenciando os modos como a artista divide experiências com espectadores e as exibe em diferentes dispositivos e espaços.

    A metodologia utilizada neste trabalho é a proposta pela autora Cecilia Sales (1998), ao identificar fragmentos de afirmações da artista nas obras autobiográficas tratadas aqui como documentos audiovisuais, e sobre os quais poderíamos considerar, a partir da perspectiva de Sales, como vestígios deixados por Varda ao explicitar generosamente o seu fazer criador, construindo os nexos onde se orientam os movimentos do olhar. “O interesse não esta na forma mas na transformação de uma forma em outra, por isso pode-se dizer que a obra entregue ao público é reintegrada na cadeia continua do percurso criador.”(SALES, pg 19, 1998). Trata-se do registro de manifestação artística em ação, o percurso de criação que se apresenta como uma rede de ações onde a artista deixa transparecer recorrências significativas que possibilitam o estabelecimento de generalizações sobre o fazer criativo, a caminho de uma teorização que, segundo Sales (2016) permite lançar luzes que possam caracterizar o processo de criação do artista. “A criação é como fazemos o filme. Quais os meios, qual a estrutura? Sozinha ou não, em cores ou não? A criação é o trabalho” (VARDA, 2019).

    Segundo Sales (1998), a criação pode ser caracterizada pelo movimento criador e pelo estabelecimento de relações entre diferentes linguagens. Ao discutir imagens, palavras, sons, gestos, entre outros aspectos, podemos fazer uso de uma perspectiva metodológica que evidencia as tessituras dos processos de criação como um todo. Ela também propõe um conceito de autoria de interação, uma autoria considerada distinguível, mas que não pode ser apartada dos diálogos com os outros, onde a questão de autoria se estabelece nas relações, ou seja, nas interações que sustentam as redes de criação. Este modelo é analisado em um contexto das discussões acerca do cinema autoral, a partir do ambiente onde se perfazem as interações, dos laços, das interconectividades, dos sentidos e relações, em um contexto de complexidade, onde a criação é vista como um processo de transformação.

Bibliografia

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