Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Lívia Perez de Paula (USP)

Minicurrículo

    Feminista, mediamaker e doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais na ECA-USP, onde desenvolve pesquisa sobre audiovisualidades brasileiras de autoria feminina. Foi pesquisadora visitante na Universidade da Califórnia, Santa Cruz (EUA), em 2020. É também diretora de Lampião da esquina(2016) e Quem matou Eloá?(2015), e produtora de CARNE (2019) e Uma paciência selvagem me trouxe até aqui (2021).

Ficha do Trabalho

Título

    Em busca do filme perdido: Les Antillais (1967) de Norma Bahia Pontes

Seminário

    Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva

Resumo

    Os Antilhenses/Les Antillais (1967) é o primeiro curta-metragem de Norma Bahia Pontes, ensaísta, cineasta e videomaker que esteve próxima ao Cinema Novo na década de 1960 e foi pioneira no vídeo feminista estadunidense nos anos 1970. Além de explicitar o processo de busca, localização, restauro e digitalização da cópia do filme, proponho uma reflexão de Os Antilhenses/Les Antillais a partir da tomada de consciência anti-colonial e de sua linguagem com inspiração estilística no cinema verdade.

Resumo expandido

    Em 1970, Alex Viany redigiu um catálogo dirigido à imprensa estrangeira elencando nomes “das mais destacadas personalidades do movimento do Cinema Novo” (VIANY, 1970). Entre uma centena de nomes de diretores e críticos, a publicação da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro trazia o nome de uma única mulher: Norma Bahia Pontes. Embora tivesse publicado artigos e ensaios sobre Cinema, Bahia Pontes foi lembrada com mais destaque pelos curtas-metragens que havia realizado Les Antillais (1966) em Paris, e Bahia Camará (1968), no Brasil.
    Após sugerir a rearticulação da trajetória da ensaísta, cineasta e videomaker Norma Bahia Pontes em Perez (2021), nesta comunicação, proponho uma análise de seu primeiro curta-metragem, Os Antilhenses/Les Antillais (1967, dir. Norma Bahia Pontes, 15’), dirigido em Paris, quando a diretora realizava um estágio no Comité du Film Ethnographique no Musée de L’Homme sob orientação de Jean Rouch.
    Após meses de buscas em arquivos brasileiros, franceses e italianos, uma cópia do filme em 16mm pôde ser recuperada, restaurada e digitalizada durante minha pesquisa de doutorado. Os Antilhenses/Les Antillais foi localizado na casa de Rita Moreira, ex companheira de Bahia Pontes, acomodado dentro de uma lata na qual havia uma única e misteriosa inscrição “Continuous Woman”.
    Filmado na França entre 1966/1967, o filme foi realizado em 16mm, branco e preto com som direto e com objetivo de “acompanhar o nascimento e o caminho de uma tomada de consciência condicionada por um conflito colonial. De um lado, as Antilhas (Guadalupe e Martinica), e do outro, a França” (BAHIA PONTES, 1967). Para tanto, a diretora entrevista cinco antilhenses emigrados que expõem as consequências materiais e subjetivas da relação colonial mas também “representam algum dos sinais da formação de uma consciência nacional antilhense”.
    Na ficha do filme no Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira, a diretora fez questão de registrar que “questões políticas e financeiras” a impediram de finalizar o filme conforme o projeto inicial que “visava demonstrar de forma mais ampla como era a situação das Antilhas como colônia francesa, as consequências desse modelo político, declarações oficiais de grupos políticos antilhenses e do governo da França, e testemunhos dos antilhenses em Paris”.
    Em outras duas ocasiões, quando da exibição do filme no Brasil, a diretora informou que “problemas diversos” a impediram de realizar o filme como tinha planejado e de finalizá-lo da maneira que gostaria, mas que mesmo assim, decidiu preservá-lo e exibi-lo “para trazer visibilidade e promover debate da tão importante questão das Antilhas francesas” . Não se elucida, no entanto, quais seriam estes problemas especificamente.
    O filme teve provavelmente sua estreia em 1967 no Festival Internacional de Documentário de Leipizig cuja lista de convidados registra presença de Norma como realizadora em 1967, e também foi exibido no Festival dei Popoli em 1968, fora da competição, dentro de um programa temático de filmes sobre imigração intitulada Marginalità ed integrazione nei processi di immigrazione (Marginalidade e integração no processo de imigração).
    Nesta comunicação pretendo analisar o contexto de realização do filme, sintetizando a estrutura narrativa e a participação das personagens e seus deslocamentos, a partir das escolhas da diretora, notadamente aquelas em abordar a imigração a partir da tomada de consciência anti-colonial, e no sopro estilístico do cinema verdade.

Bibliografia

    BAHIA PONTES, Norma. Cinema e Realidade Social in COSTA, Flávio Moreira da (org.). Cinema Moderno, Cinema Novo. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1966.
    _____________________. Jean Rouch e o Cinema Verdade. Leitura. Rio de Janeiro. nº 77, nov-dez 1963, p. 34.
    _____________________. Cinema como processo de conscientização da realidade brasileira. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro. n. 6. Ano II, p.85-89, dez.1963.
    FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
    _____________. Alienação e Liberdade. Escritos Psiquiátricos. São Paulo: UBU, 2020.
    MINH-HA, Trinh T., et al. Outside In Inside Out.” Frauen Und Film, nº 60, 1997, p. 75–86.
    Perez, Lívia. Do Cinema Novo ao vídeo lésbico feminista: a trajetória de Norma Bahia Pontes” Rebeca v. 9, 2021: 20-45. Disponível em: https://rebeca.socine.org.br/1/article/view/692/427
    VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. São Paulo: Ubu, 2020.
    VIANY, Alex. Quem é quem no cinema novo brasileiro. Rio de Janeiro: