Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Ivone Gomes de Brito (UTP)

Minicurrículo

    Mestra em Comunicação e Linguagens pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens, linha de pesquisa Estudos de Cinema e Audiovisual, pela Universidade Tuiuti do Paraná e doutoranda pelo mesmo programa. Atualmente pesquisa o cinema de Walter Hugo Khouri produzido entre os anos de 1972 e 1978.

Ficha do Trabalho

Título

    A poética do sagrado no cinema de Walter Hugo Khouri

Resumo

    O propósito deste trabalho é investigar relações entre imagens fílmicas e a construção do sagrado nos filmes As deusas (1972), O anjo da noite (1974), O desejo (1975) e As filhas do fogo (1978), de Walter Hugo Khouri. A hipótese é que as narrativas khourianas exploram as complexas mediações entre o homem cultural e o homem natural, o que implica a mobilização de instrumental teórico que discute as problemáticas da imagem cinematográfica e os conceitos relacionados ao espaço e tempo sagrados.

Resumo expandido

    Propõe-se investigar relações entre imagens fílmicas e a construção do sagrado em filmes de Khouri produzidos na década de 1970. A busca dos personagens khourianos pela plenitude do ser culmina em experiências com os mistérios do sagrado. Camargo (2015, p. 70) afirma que, com o declínio do sagrado na contemporaneidade, “[…] o homem se vê na urgência de encontrar outros meios para lidar com os apelos de sua origem na noite dos tempos […]”. É por meio da natureza, das artes, dos espaços auráticos e do sexo, que os personagens de Khouri buscam enfrentar as consequências do declínio do sagrado na contemporaneidade. O sagrado define-se como “uma realidade que não pertence ao nosso mundo” (ELIADE, 1992, p. 13). De acordo com Camargo (2015, p. 71) “O sagrado não se compreende, mas se sente e se prova”. A esfera do sagrado está relacionada aos mistérios do inconsciente, às bases instintivas do ser humano, às pulsões, à loucura, à insensatez, aos sonhos misteriosos e ao caos da origem. Os personagens de Khouri estão condicionados às forças obscuras do inconsciente. Formula-se a hipótese de que as narrativas khourianas exploram as complexas mediações entre o homem cultural e o homem natural, o que implica discutir as problemáticas da imagem cinematográfica e os conceitos relacionados ao sagrado, ao Espaço Sagrado e ao Tempo Sagrado. O encontro dos personagens de Khouri com o sagrado se dá a partir da construção de espaços sagrados, ambientes internos cercados por objetos auráticos e obras de arte ou ambientes externos naturais distantes do mundo profano. Corpos e lugares parecem projetar dimensões obscuras do sagrado. Eliade (1992, p. 17) argumenta que o Espaço Sagrado não é homogêneo e define-se como um local onde prevalece uma “superabundância de realidade”. Nesses espaços o homem encontraria o real, em oposição às ilusões do Espaço Profano. O Espaço Sagrado seria um “espaço de comunicações com o transcendente”, um local onde “o mundo profano é transcendido”, o que tornaria possível “a passagem, de ordem ontológica, de um modo de ser a outro” (ELIADE, 1992, p. 36). Os personagens khourianos, notadamente femininos, adentram o terreno do sagrado a partir de experiências estranhas, ameaçadoras ou libertadoras com o ambiente, cujos efeitos são numinosos. Eles trocam olhares obsessivos, lançam estes mesmos olhares aos objetos ou animais, são visados por estes últimos, agem instintivamente, desesperam-se, libertam-se ou buscam uma conciliação com a natureza. A trilha sonora, a trilha musical, o silêncio, a expressão nos rostos, a água, árvores, jardins, animais e a temporalidade têm papeis fundamentais na construção cinematográfica do sagrado em filmes de Khouri. Eliade (1992, p. 38-40) diz que o Tempo Sagrado não possuiria homogeneidade ou continuidade, sendo “indefinidamente recuperável, repetível, circular, espécie de eterno presente mítico”. Sobre a temporalidade no cinema, Deleuze (2005, p. 61) afirma que a imagem-lembrança entra em circuito com imagens virtuais “vindas do tempo” que se encadeiam com imagens atuais até o ponto de indiscernibilidade. Observa-se nas imagens dos filmes de Khouri uma temporalidade múltipla e circular na qual o passado irrompe no presente e se condensa com este. Torna-se então difícil distinguir nos filmes entre o que é real e o que é imaginação, o que é objetivo e o que é subjetivo, o que é passado e o que é presente. É pela linguagem fílmica que Khouri sugere a relação do homem com o sagrado. Portanto, no cinema khouriano o sagrado é representado de forma poética. Observa-se que os espaços e tempos sagrados podem oprimir ou libertar os personagens. Constata-se que nestes locais, naturais e externos ou artificiais e internos, o sagrado se manifesta em um desejo de transcender dos personagens khourianos, que pode estar relacionado com a experiência do numinoso. Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo analisar a construção cinematográfica do sagrado nos filmes produzidos na década de 1970.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. A estética do filme. Piracicaba: Papirus, 2008.

    CAMARGO, Marcos. H. O sagrado e o profano. Filosofia: Ciência&vida, p. 63-71. Disponível em: www.portalcienciaevida.com.br. Acesso em: 15 de mar. 2021.

    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.

    ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. Tradução: Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

    ELIOT, Thomas Stearns. Quatro Quartetos. Tradução: Antonio Houaiss e Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

    FRANKL, Viktor. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Porto Alegre: Sulina, 1987 (E-book).

    FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

    JUNG, Carl Gustav. Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1978.

    MARIANO, Alex Villas Boas Oliveira. A natureza poética da espiritualidade não religiosa: um olhar a partir de Jean Paul Sartre. Horizonte, Belo Horizonte, v. 12, n. 35, p.777-804, jul./set. 2014.