Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Bárbara Malta Rabello (CPDOC – FGV)

Minicurrículo

    Mestra em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC/FGV (2019). Graduada em Direito pela UERJ (2006), com pós-graduação lato sensu em Direito Civil, Empresarial e Processual Civil pela UVA/FESUDEPERJ (2007). Desde 2009 é especialista em regulação da atividade cinematográfica e audiovisual na Agência Nacional do Cinema (Ancine), tendo atuado como coordenadora de área (2011-2020) e como integrante da primeira Comissão de Gênero, Raça e Diversidade da Agência (2017-2019).

Ficha do Trabalho

Título

    Perfil e narrativas das protagonistas de filmes comerciais brasileiros

Seminário

    Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva

Resumo

    Este trabalho é fruto de dissertação sobre a representação das protagonistas femininas nas produções comerciais brasileiras contemporâneas (filmes de longa-metragem de ficção lançados entre 2002 e 2017 que obtiveram no mínimo 500 mil espectadores). Será dado enfoque a um dos eixos da pesquisa, referente ao perfil das protagonistas e à sua cartografia temática narrativa, com análise da presença de estereótipos na representação feminina feita pela produção comercial brasileira recente.

Resumo expandido

    A pesquisa desenvolvida no mestrado partiu do universo de todos os filmes brasileiros de longa-metragem de ficção lançados comercialmente entre 2002 e 2017 que obtiveram mais de 500 mil espectadores. Foram mapeadas 105 obras, das quais 30 contaram com protagonistas mulheres e 75 foram estreladas por homens. Na sequência, os 30 filmes com protagonistas femininas foram analisados sob dois enfoques: (a) perfil, verificando como as protagonistas são apresentadas em relação à sua cor/raça, faixa etária e ocupação; e (b) temas narrativos que movimentaram a ação daquelas personagens em cena, de modo criar uma cartografia temática da representação feminina.

    Quanto à cor ou raça, observou-se total ausência de protagonistas amarelas e indígenas, bem como uma enorme falta de representatividade das mulheres negras, aqui consideradas as mulheres pretas e pardas. Embora as mulheres negras correspondam a 55% da população feminina brasileira, das 42 protagonistas analisadas (considerados casos de co-protagonismo), apenas três podem ser consideradas mulheres não-brancas, o que corresponde a apenas 7,14% das personagens analisadas em nosso recorte. No que diz respeito às faixas etárias das protagonistas, observamos que as duas faixas majoritárias de distribuição de idade se concentram em mulheres jovens. As categorias entre 20-29 anos (38%) e 30-39 anos (24%) são responsáveis por 62% da representação feminina nos filmes brasileiros de grande público – porém, sua participação na pirâmide etária brasileira é de pouco mais de 30%. Por fim, quanto às ocupações das protagonistas, observou-se uma grande diversidade de categorias, com 22 menções diversas; entretanto, a grande maioria das ocupações mapeadas foi de profissões liberais ou que requerem uma formação específica para serem exercidas (médica, professora, advogada, publicitária fotógrafa etc.).

    Em relação às temáticas narrativas, estas foram categorizadas em duas frentes: categoria temática principal (aquela que move o filme – apenas uma por obra) e categorias temáticas secundárias (temas não centrais que permearam de forma relevante a narrativa da protagonista – duas a três por filme). Constatou-se que as relações românticas são o grande tema dos filmes analisados. Esta categoria lidera a temática principal, com 8 aparições, e é vice-líder das temáticas secundárias, com 14 ocorrências – as temáticas secundárias são lideradas pelas relações entre mulheres, com 15 aparições. Entretanto, é interessante observar que tais relações femininas assumem sempre as mesmas duas formas: ou as outras mulheres com quem a protagonista se relaciona estão em disputa com ela por um homem ou são amigas que a auxiliam no sucesso da relação romântica. Não observamos nestes filmes relações femininas que estivessem fundamentalmente descoladas do relacionamento amoroso; as interações entre a protagonista e as demais mulheres está sempre referenciada no homem a quem a protagonista deseja. Assim, caso aplicássemos a estes filmes o Teste de Bechdel, poderíamos dizer que nenhuma das obras seria aprovada: embora tenham duas (ou mais) mulheres nomeadas e que conversam entre si, estas conversas não tiveram outro tema além de um homem. Além dos estereótipos da mulher em busca do amor e da rivalidade feminina, vale destacar que os temas aparência/envelhecimento e comportamento sexual tiveram uma grande prevalência dentro do universo das temáticas secundárias, o que indica sua relevância como assuntos de fundo na jornada das protagonistas.

    Por fim, vale apontar que os filmes cujo tema principal era a biografia de uma figura feminina real foram aqueles nos quais os estereótipos de gênero não foram tão reforçados. Mulheres como Olga Benário, Zuzu Angel, Elis Regina e Bruna Surfistinha, retratadas nos filmes objeto do recorte, tiveram suas narrativas relacionadas à política, carreira e liberdade sexual tratadas sob um prisma diferente daquele utilizado nas narrativas das demais protagonistas.

Bibliografia

    BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua (www.ibge.gov.br).

    CAMPOS, Flavio de. Roteiro de cinema e televisão: a arte e a técnica de imaginar e narrar uma história. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

    HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio Apicuri, 2016.

    LAURETIS, Teresa de. Através do espelho: mulher, cinema e linguagem (tradução de Vera Pereira). Estudos Feministas, Florianópolis, v. 1, n. 1, pp. 96-122, 1993.

    LIPOVESTSKY, Gilles. A terceira mulher: permanência e revolução do feminino. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

    PENAFRIA, Manuela. Análise de Filmes – conceitos e metodologia(s). Anais do VI Congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação – SOPCOM, abril de 2009 (http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-penafria-analise.pdf).