Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Denilson Lopes Silva (UFRJ)

Minicurrículo

    Professor Associado na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de Mário Peixoto antes e depois de Limite (2021), No Coração do Mundo: Paisagens Transculturais (2012); O Homem que amava rapazes e outros ensaios (2002) Nós os Mortos: Melancolia e Neo-Barroco (1999) entre outros. Também escreveu Inúteis, Frívolos e Distantes: À Procura dos Dândis (2019) em conjunto com André Antônio Barbosa, Pedro Pinheiro Neves e Ricardo Duarte Filho

Ficha do Trabalho

Título

    Limite (1931) de Mário Peixoto e um Modernismo melancólico

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Resumo

    Gostaria de rever o filme Limite de Mario Peixoto menos na tradição de um cinema experimental mas como parte de uma sobrevivência anacrônica de uma ambiência decadentista que implica afirmar uma linhagem melancólica do Modernismo. Para essa leitura interessa ressaltar o diálogo entre a imagem de uma cidade morta encenada e a do mar dourado reunindo morte e beleza. A decadência associada ao um declínio de uma elite agrária enforma uma sensibilidade que culmina na desaparição da figura humana.

Resumo expandido

    O que a revisitação de Limite (1931) de Mário Peixoto e do Modernismo podem nos trazer hoje? Acredito ser fundamental inserir Limite não só tradição de uma cinema experimental ou de uma tradição de vanguarda que o tornou um precursor, uma manifestação isolada, mas na sobrevivência anacrônica de um ambiência decadentista do século XIX que implica afirmar uma linhagem melancólica do Modernismo para a qual nos interessa ressaltar a tensão entre a imagem de uma cidade morta encenada em diálogo com a imagem do mar dourado reunindo morte e beleza em que a decadência acaba por resultar na desaparição da figura humana na natureza.
    O que implicará uma revisitação da já razoável bibliografia sobre o filme, muito pouco apresentada em livros, mas presente em diversas dissertações de mestrado, teses de doutorado e artigos, além do material depositado no arquivo Mário Peixoto no Rio de Janeiro que no se que se refere a sua biografia que já, em grande parte, mapeamos.
    A partir desse levantamento, teremos mais condições de não só perceber se a hipótese levantada é pertinente para o filme de Mario Peixoto mas também avaliarmos possíveis desdobramentos num ambiente intelectual que tem como um ponto de agregação o Chaplin Club, onde Limite foi lançado, num circuito de intelectuais modernos que se distinguem tanto de uma herança de Mario de Andrade quanto de uma linha antropofágico-tropicalista e do romance regionalista nordestino dos anos 30.
    A chave de leitura não está na discussão de autoria, de estilo, na consideração de Limite como uma manifestação isolada. Limite se insere numa constelação marcada pela catástrofe ao invés da utopia; pela melancolia ao invés da alegria; pela sensação de fim do mundo ou de um mundo ao invés da inauguração de uma nova era; pela lentidão que advém depois do fim e por paisagens devastadas, solitárias em detrimento da velocidade e da hipersensorialidade das grandes cidades.
    Esse outro Modernismo deve ser visto a partir de uma perspectiva intermediática, da qual só encontramos uma leitura (PARANAGUÁ, 2014), no qual o trânsito entre literatura e cinema é crucial, bem como de uma visão comparatista que desloca a centralidade da Semana de 22. Mário Peixoto transita num circuito de intelectuais modernistas que se distingue tanto do círculo em torno de Mario de Andrade quanto de uma linha antropofágico-tropicalista e do romance regionalista nordestino dos anos 30.
    Nessa perspectiva que sugiro, o Modernismo é também revisto a partir da bibliografia sobre extrativismo, tanto teórica quanto especificamente sobre situações brasileiras. Este modernismo estaria associado ao declínio do extração de ouro e diamante em Minas Gerais bem como da crise do café no vale do Paraíba, associando poética e economia, dentro de uma modernidade rural que longe de associar o espaço rural ao mítico, ao arcaico ou ao mero provincianismo, se converte numa visão crítica de um Modernismo marcado pelo capitalismo exploratório e desenvolvimentista. Grande parte da bibliografia sobre extrativismo busca fazer uma crítica a um capitalismo exploratório com perspectivas exclusivamente econômicas, políticas, em busca de alternativas civilizacionais, que, no caso da América Latina, se traduz na busca e permanência de tradições afro-ameríndias, nas suas práticas de resistência, revisitadas mais recentemente por olhares decoloniais, na articulação entre militância e estética. Aqui nosso olhar se dirige diretamente à decadência das elites agrárias, vista por dentro mas de forma não menos crítica, bem como a uma sensibilidade que ultrapassa a expressão de um grupo social. A sensação de decadência sofre uma transmutação poética, ou melhor, se configura numa póetica das materialidades que em Limite está centrada na terra devastada, nas ruínas, na cidade morta, para usar a expressão de Monteiro Lobato, na reconquista feita pela natureza e na imensidade do oceano.
    A proposta faz parte de mesa de encerramento do GT.

Bibliografia

    ÁVILA, A (org.). O Modernismo. Perspectiva, 1975.
    BECKMAN, E. Unfinished Transitions: The Dialectics of Rural Modernization in Latin American Fiction. Modernism/modernity, 2016, Volume 23, Issue 4.
    CONDE, M. Foundational Films. Early Cinema and Modernity in Brazil. UCLA Press, 2018,
    GOMES, ÂMC. Essa gente do Rio – Modernismo e Nacionalismo. FGV, 1999.
    GOMES, H. O Poder Rural na Ficção. Ática, 1981.
    GOMES, PES. Cataguases e Cinearte na Formação de Humberto Mauro. Perspectiva, 1974
    MELLO, SP. Limite. Rocco, 1996.
    PARANAGUÁ, PA. A invenção do cinema brasileiro: modernismo em três tempos. Casa da Palavra, 2014.
    PESSOA, T. C. O Império da escravidão. Arquivo Nacional, 2018
    VELLOSO, MP. Historia e modernismo. Autêntica, 2010.
    VENANCIO, P. A crise da pessoalidade e o outro” modernismo: Cornélio Penna, Oswaldo Goeldi e Mário Peixoto, Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1992.
    XAVIER, I. Sétima arte.um culto moderno. Perspectiva, 1978.