Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Samuel Paiva (UFSCar)

Minicurrículo

    Professor associado da Universidade Federal de São Carlos, onde atua no Bacharelado em Imagem e Som e no Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som. É autor do livro A Figura de Orson Welles no Cinema de Rogério Sganzerla (Alameda, 2018); coeditor dos livros Viagem ao Cinema Silencioso do Brasil (Azougue, 2011) e XI Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine, 2010); codiretor do filme Passagens: o Cinema Brasileiro entre Mídias, Tempos e Espaços, nas versões em curta (2018) e longa-metragem (2019).

Ficha do Trabalho

Título

    Geografias Flexíveis do Cinema em Pernambuco

Mesa

    Ensaios Audiovisuais sobre Geografias Afetivas

Resumo

    Três ensaios audiovisuais de curta-metragem, a saber, Passagens (Lúcia Nagib, Samuel Paiva, 2018), Fabulário Tropical de um Cinema Vadio (Amanda Mansur, 2021) e Recife, Marrocos (Alexandre Figueirôa, 2021), somam e contrapõem diversas visões sobre uma geografia afetiva e flexível do cinema pernambucano contemporâneo.

Resumo expandido

    Os integrantes desta proposta – Samuel Paiva, Amanda Mansur e Alexandre Figueirôa – apresentam ensaios audiovisuais de curta-metragem, partindo de pressupostos do “filme-ensaio” (Corrigan, 2015) enquanto prática cinematográfica, no caso aqui em questão, interessada em refletir sobre experiências do que pode ser compreendido como uma “geografia afetiva” ou como “formas de estar juntos” (Chauvin, 2019) no cinema relacionado ao estado de Pernambuco. Em tal perspectiva, Paiva apresenta Passagens (Lúcia Nagib, Samuel Paiva, 2018), que é um excerto do longa-metragem Passagens: o Cinema Brasileiro entre Mídias, Tempos e Espaços, lançado em 2019. Amanda Mansur apresenta Fabulário Tropical de um Cinema Vadio (2021), no qual reflete sobre a relação entre poesia e cinema em super-8 na obra do jornalista e cineasta pernambucano Geneton Moraes Neto (1956-2016). E Alexandre Figueirôa apresenta Recife, Marrocos (2021), sobre o processo de realização de documentários realizados por ele próprio, na perspectiva de construir sua memória da cena LGBTQIA+ da cidade do Recife. No conjunto, esses três ensaios audiovisuais trazem questões específicas, mas também implicam “caminhos cruzados” (Nagib, 2018) de uma geografia flexível em diversos aspectos, seja pelas conexões entre lugares, mídias e gêneros.

    Passagens investiga filmes que, na relação com outras mídias – música, teatro literatura, artes plásticas, literatura – revelam e simultaneamente intervêm na realidade à sua volta, com estudos de caso em Recife e São Paulo. Um dos eixos de sua investigação concerne à ideia de que a utilização de formas artísticas diversas no âmbito de um filme funciona como uma passagem à realidade social e política da qual a respectiva obra cinematográfica emerge e sobre a qual intervém, transformando essa mesma realidade à sua volta. O ponto de partida é a relação entre o Manguebeat e sua vertente cinematográfica, o Árido Movie, na cidade de Recife nos anos 1990. No entanto, a “afetividade de grupo” (Mansur, 2019) característica dos realizadores pernambucanos se amplia e se estende a outros lugares, na perspectiva de suas geografias flexíveis.

    Fabulário Tropical de um Cinema Vadio, sobre a obra de Geneton Moraes Neto, diz respeito à sua poesia e produção em super-8, sobretudo aos filmes Fabulário Tropical (1979) e A Flor do Lácio É Vadia (1978). Tendo iniciado sua carreira no jornalismo, vindo a trabalhar em diversos veículos de comunicação (Diario de Pernambuco, O Estado de S. Paulo, Rede Globo de Televisão e GloboNews), Geneton foi também um cineasta muito criativo (cf. Farache & Cunha, 2019; Cunha, 2021). Entre os anos de 1973 e 1984, realizou vinte filmes de curta-metragem nas bitolas super-8 e 16mm, rodados em Recife e Olinda, mas também no Rio de Janeiro, Paris, Assunção e Santiago do Chile. Boa parte dessa produção foi recuperada pela Cinemateca Pernambucana, que realizou a digitalização em 4k de dezessete filmes em super-8 do diretor.

    Recife, Marrocos reflete sobre a realização dos documentários Eternamente Elza (2013), Kibe Lanches (2016) e Piu Piu (2019), todos realizados por Alexandre Figueirôa, enquanto construção de sua memória da cena LGBTQIA+ do Recife. Eternamente Elza nasceu na década de 1970, quando Figueirôa viu pela primeira vez a travesti Elza Show se apresentando no bar Cantinho da Dalva, no bairro do Cajueiro. O registro documentário teve início em 2003, e o filme deu visibilidade a Elza Show tornando-a uma espécie de retrato da resistência LGBTQIA+ na cidade. Já Kibe Lanches reconstrói a história de uma lanchonete que, localizada no bairro do Pina, tornou-se, entre as décadas de 1980 e 1990, um agitado ponto gay. E Piu Piu focaliza o ator Elpídio Lima, considerado o primeiro transformista do Recife, famoso por suas apresentações no Teatro Marrocos. Assim, Recife, Marrocos investiga uma “consciência espacial” (Harvey, 1990), através de biografias, supondo um compartilhamento de imagens, um “imaginário geográfico”.

Bibliografia

    CORRIGAN, T. O filme-ensaio – desde Montaigne e depois de Marker. Trad. Luís Carlos Borges. Campinas, SP: Papirus, 2015.

    CHAUVIN, I.D. Geografías afectivas – desplazamientos, prácticas espaciales y formas de estar juntos en el cine de Argentina, Chile y Brasil (2002-2017). Pittsburgh, Estados Unidos: Latin American Research Commons, 2019.

    CUNHA, P. (org.). Expedições à noite morena: em defesa de um cinema vadio [Fazer Super-8 no Brasil dos anos 1970]. Recife: Cinemateca Pernambucana, 2021.

    FARACHE, A.; CUNHA, P. Geneton: viver de ver o verde mar. Recife: CEPE, 2019.

    HARVEY, David. 1990. Between space and time: reflections on the geographical imagination. Annals of the Association of Geographers, 80: 418-34.

    MANSUR, A. A brodagem no cinema pernambucano. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2019. (Col. Cinemateca Pernambucana, 1)

    NAGIB, L. Passagens: caminhos cruzados entre o cinema e a geografia brasileira. RuMoRes, v. 12, n. 24, p. 19-40, 2018.