Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Antonio Carlos Tunico Amancio da Silva (UFF)

Minicurrículo

    Tunico Amancio é formado em cinema pela UFF (graduação) USP (mestrado, doutorado e pós-doutorado) com passagem pela Sorbonne Nouvelle (sanduíche e pós-doutorado), e é hoje professor titular aposentado da UFF. Organizou Brasil-México: aproximações cinematográficas, e Argentina Brasil no cinemas. Publicou O Brasil dos Gringos e Artes e Manhas da EMBRAFILME. Co-roteirizoua com Lucia Murat Olhar Estrangeiro e O Mensageiro, longas. Dirigiu alguns curtas. Foi Vice-Presidente da SOCINE em 2013-2015.

Ficha do Trabalho

Título

    REBELDIA E EXPERIMENTAÇÃO: ANA ROMPENDO FRONTEIRAS LATINOAMERICANAS

Resumo

    Lucia Murat investiga em seu híbrido documentário Ana. Sem título, a trajetória de uma personagem negra e artista que circula por alguns países da conturbada América Latina nos anos 70. Em cada um deles, Ana é lembrada por várias ações, evidenciando seu caráter quase mitológico de mulher atuante face à repressão política, social, ao patriarcalismo e machismo. O filme traz um rico mosaico de obras e depoimentos que nos fazem reavaliar nosso sentido da História, suas omissões e deslocamentos.

Resumo expandido

    Tendo como base motivadora a peça de teatro documentário “Há mais futuro que passado”, idealizada e executada por Clarisse Zarvos e Daniele Avila Small, Lucia Murat construiu o seu longa-metragem ANA. Sem título, lançado em 2020. O filme se apresenta como um exemplar da categoria documentário híbrido, denominação insuficiente a meu ver, para dar conta da multiplicidade de discursos que concorrem para sua articulação dramática e estética. Um exercício que explora os limites da narrativa realista típica do formato, para abranger situações ficcionais dramatizadas ou metalinguísticas, tudo amparado pela exposição de fotos, filmes e instalações e sustentado pela leitura de cartas de mulheres latino-americanas que têm ou tiveram alguma interface com Ana.
    A premissa é clara: uma pequena equipe sai atrás de informações sobre Ana, baseada nas cartas trocadas entre a personagem e outras mulheres artistas de Cuba, México, Chile e Argentina, por onde ela passou. O grupo é composto pela atriz Stela ( Stella Rabello), pela cineasta Lucia (Murat), pela operadora de som Andressa (Clain) e pelo fotógrafo Leo ( Bittencourt) e é através de seus olhos – ou por sua narração, leituras, pesquisas, descobertas, depoimentos – que se organiza o discurso sobre esta busca, onde os integrantes do grupo também se expõem de acordo com algumas situações. Este é o primeiro nível de leitura do filme, seu caráter de registro de uma operação de cinema. É esse registro que articula, inclusive, o desfecho com a virada final reveladora. Em seguida temos as cartas, que contextualizam o envolvimento de Ana com essas mulheres e seus respectivos fazeres da produção artística. Cartas que são acompanhadas de imagens, fotos, documentos, filmes, mostrando essas obras e a intervenção de Ana na vida daquelas criadoras. Uma pesquisa que envolve também a visita a ateliers e exposições, bibliotecas e cinematecas buscando compor a imagem de Ana, desaparecida, através do contato com amigas e conhecidos. O terceiro ponto é a contextualização da questão política, e dentro dela a movida feminista, negra e democrática dentro da sociedade dos países visitados pelo filme. Sem nunca perder a dimensão histórica e a perspectiva estética, entrelaçando traços ficcionais, documentários e confessionais, o filme traça um panorama da militância artística de mulheres em uma situação de confronto com uma sociedade que lhes determina um papel subalterno. Uma perspectiva encarada a partir da visita à exposição denominada “Mulheres Radicais: arte latino-americana”, apresentada na Pinacoteca de São Paulo em 2018, onde se iniciam os dispositivos documentais ficcionados que modulam a produção, com diferentes estratégias, já que a ambiguidade incorporada ao texto fílmico tem como premissa a frase de Virginia Woolf – “É provável que a ficção contenha mais verdade que os fatos.”

Bibliografia

    FOSTER, Hal: O que vem depois da farsa? SP, Ubu Editora, 2021
    GIORDANO, Davi. “Breve Ensaio sobre o Conceito de Teatro Documentário”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 1, n. 5, jul. 2013.
    HOLANDA Karla (org). Mulheres de Cinema- Rio de Janeiro, Numa, 2019
    HOLANDA Karla, TEDESCO Marina Cavalcanti (org) : Feminino e Plural: mulheres no cinema brasileiro, CAMPINAS, SP, Papirus, 2017
    LUSVARGUI Luiza , DA SILVA Camila Vieira (org) Mulheres atrás das câmeras : as cineastas brasileiras de 1930 a 2018 ? org.. 1ª. Ed. São Paulo, Estação Liberdade, 2019
    MACHADO, Lia Zanotta: “O Lugar da Tradição na Modernidade Latinoamericana: Etnicidade e Gênero”, em Cadernos de Pesquisa, nº 77, São Paulo: Fundação Carlos Chagas. 1990