Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Eduarda Santos Medeiros (UNISUL)

Minicurrículo

    Maria Eduarda Santos Medeiros, formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade do Sul de Santa Catarina em 2018, estudou Direção de Arte na Academia Internacional de Cinema em São Paulo e atualmente é mestranda em Direção de Arte no programa de Ciências da Linguagem da pós-graduação da UNISUL. Trabalha desde 2015 com audiovisual, tendo atuado em diversas áreas como direção, roteiro, direção de arte, maquiagem/caracterização e efeitos especiais, e também com edição e montagem.

Ficha do Trabalho

Título

    OBJETIFICAÇÃO DO CORPO FEMININO NO FILME “MÃE!”

Resumo

    “Mãe!” (2017) é um filme rico em metáforas e alegorias, podendo ser interpretado de diversas formas, porém nesse trabalho proponho analisar a estética do filme e a objetificação do corpo da mulher a partir da personagem “mãe”, interpretada por Jennifer Lawrence, e como as escolhas estéticas e artísticas interferem na interpretação e discursos do filme; qual o olhar que temos do corpo feminino a partir da narrativa e sua estética?

Resumo expandido

    “Mãe!” é uma obra audiovisual realizada em 2017 e dirigida por Darren Aronofsky, conta a história de um casal que vê a tranquilidade de seu cotidiano ser alterado com a chegada de visitas inesperadas. Darren Aronofsky é um diretor premiado e mundialmente conhecido por seus filmes perturbadores, existenciais, melodramáticos e surreais, e “Mãe!” (2017) não é uma exceção a essa regra. O objetivo do diretor era contar uma história do ponto de vista da Mãe Natureza, onde ele pudesse fazer uma crítica a realidade ecológica e ambiental dos dias atuais, mostrando a ira e dor da Mãe Natureza e como o homem a destrói em prol do benefício próprio. A narrativa conta com uma estética própria, que carrega alegorias e metáforas, podendo ser interpretadas de diversas maneiras e gerar discussões sobre variados temas, não apenas aquele proposto por Aronofsky. Pode-se analisar o filme sob o ponto de vista das alegorias bíblicas claramente apresentadas na narrativas como, por exemplo, a relação Mãe Natureza e Pai-criador. Ou ainda, uma forte crítica quanto à adoração das imagens. Neste trabalho tenho como principal ponto de estudo, a personagem feminina de mãe, interpretada no filme por três atrizes Sarah-Jeanne Labrosse, Jennifer Lawrence e Laurence Leboeuf. Através da análise das cenas, aponto para os modos de objetificação do corpo da protagonista em prol do personagem masculino, que é sempre representado pelo mesmo ator, Javier Bardem. Como as escolhas estéticas e artísticas interferem na interpretação do filme? Qual o olhar que temos do corpo feminino a partir da narrativa? Analiso as imagens, direção, arte e fotografia do filme, trazendo interpretações e memórias imagéticas utilizando os estudos de Aby Warburg como forma de análise; diversos elementos do filme remetem a imagens de nossa memória coletiva, que se marcam nos sentidos que chegam ao espectador, principalmente a submissão da personagem mãe com relação ao seu marido. Independente de qual for a interpretação da personagem e metáfora de análise, todas as visões têm um ponto em comum: mãe existe com um propósito, um objetivo de vida, servir ao homem e ao sistema criado por ele. Utilizo dos estudos de Federici (2017) para trazer um pouco da trajetória e lugar da mulher na história, e como esses elementos debatidos por esta autora aparecem no filme através da estética e da narrativa. “Mãe!” é uma obra que desorienta, causa náuseas e repulsa, mas ao mesmo tempo promove reflexões. Esta análise presentifica o cotidiano e as mulheres no seu lugar de resiliência, uma discussão necessária e de extrema importância, busca relacionar o lugar do feminino e a terra como o lugar de mãe. O filme metaforiza “a ira da Mãe Natureza”. Quando falamos de estética e arte não nos referimos apenas a pinturas e obras prazerosas ao nosso olhar; é necessário discutir e problematizar essas questões, e nos desconstruir a cada experiência de fruição de arte.

Bibliografia

    CEIA, Carlos. Sobre o conceito de alegoria. MATRAGA nº 10, agosto de 1998
    DAMASCENO, Julie Christie. A estética kantiana: o belo, o sublime e a arte. Porto Alegre, RS; Intuitio, 2015.
    FARIAS, Emilia. Metáfora e metonímia na geração de sentido. Porto Alegre, RS. Organon, 2007.
    FEDERICI, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo, SP: Elefante Editora, 2017.
    FERNANDES, Rafael A. Atlas Mnemosyne e museu imaginário: uma análise relacional do pensando de Aby Warburg e André Malraux. São Paulo, SP. 2017
    GUERRA, Lolita Guimaraes. mãe! (2017) e o mito da mulher eterna. Em: Cadernos de Estudos Sociais e Políticos Dossiê especial “Clássicas”, v.6, n.11, 2017. Rio de Janeiro, RJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 2017.
    MICHAUD, Philippe-Alain. Aby Warburg e a imagem em movimento. Rio de Janeiro, RJ; Contraponto, 2013.
    RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Trad. Mônica Costa Netto. São Paulo: EXO; Editora 34, 2005.