Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Wenceslao Machado de Oliveira Jr (UNICAMP)

Minicurrículo

    Graduado em Geografia e Doutor em Educação. Professor no Departamento de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte e pesquisador no Laboratório de Estudos Audiovisuais-OLHO, ambos da Faculdade de Educação/Unicamp. Coordenador do Projeto Lugar-escola e cinema: afetos e metamorfoses mútuas [Fapesp 2018/09258-4].

Ficha do Trabalho

Título

    QUANDO NÃO ESTÃO AS CRIANÇAS O QUE ESTÁ VIVO EM FILMES DO LUGAR-ESCOLA

Mesa

    Experimentações com cinema no/do lugar-escola da Educação Infantil

Resumo

    A pergunta do título nos levou a filmagens da escola vazia como um lugar povoado de outras vidas que reverberam na “ausência presente” das crianças.
    Essas vidas povoam os filmes que emergiram do arquivo coletivo de filmagens e apontam o quanto a ausência do foco habitual de nossa atenção – as crianças – fez emergir outro tipo de atenção cinematográfica. Outra pergunta nos veio: quais aproximações existem entre eles e as proposições de Migliorin e Pipano sobre os filmes produzidos nas escolas?

Resumo expandido

    Quatro monitores – Wanessa Oliveira, Mônica Araújo, Mauro Guari e Juliana Oliveira –, e duas professoras – Sandra Amaral e Rozeli Melo – de duas escolas públicas de educação infantil da cidade de Campinas-SP; um professor universitário – Wenceslao Oliveira Jr – e uma doutoranda em Educação – Marcelly Camacho. Em fevereiro de 2021, esses oito integrantes do Cineclube Regente/Cha e do Projeto Lugar-escola e cinema [Fapesp 2018/09258-4] se deram conta de que a pandemia iria durar um tanto mais e se perguntaram: como fazer cinema na escola sem a presença das crianças? Elas haviam sido o foco das filmagens e dos filmes produzidos até agora e sem sua vivacidade a nos direcionar a atenção, as câmeras e os microfones, como trazer vida para as imagens e sons fílmicos? Dessas preocupações típicas do cinema realizado na escola desdobrou-se a pergunta “Quando não estão as crianças o que está vivo no lugar-escola?”, a qual nos levou a experiências de filmagens e filmes da escola vazia como um lugar muito povoado de outras vidas (DELIGNY, 2015; KRENAK, 2019). Vidas animais, vidas vegetais, vida dos objetos e espaços (OLIVEIRA JR, 2016), vida que emerge do chão e das paredes e reverbera na “ausência presente” das crianças.
    Essas múltiplas vidas povoam os filmes que emergiram do arquivo coletivo de filmagens e gravações sonoras realizadas na escola vazia, apontando o quanto a ausência do foco habitual de nossa atenção – as crianças – fez emergir naquele lugar-escola um outro tipo de atenção cinematográfica que, ao fazer notar nos filmes outras formas de vida, potencializa as trocas remotas entre escola e crianças, distantes no espaço, mas próximas nos desejos, nas memórias e nos compromissos. Nos filmes que criamos as crianças “atuam” e medeiam nossas escolhas de filmagem e montagem; elas “atuam” como futuros espectadores, como presenças invisíveis nas vozes e nos nomes na parede, como ausências notáveis nas plantas crescidas, como imaginação insistente que move os bichinhos de borracha pela escola como se manejados por suas pequenas e inventivas mãozinhas.
    Muitas filmagens se repetem nos oito filmes de arquivo (MARTINS; ANDEUZA, 2019) que fizemos, mas os sentidos que as atravessam são bastante diversos devido às montagens singulares que provocam ligeiros desvios em seus sentidos mais representativos. Há neles um sentido que salta de um filme a outro, o da saudade da vida que está lá à nossa espera e que vivificará assim que as crianças voltarem a povoar aquele lugar com seus sorrisos, gritos e descobertas. Há também um outro sentido que pulsa no extracampo dos oito filmes: o do luto pelas escolas fechadas devido às mortes e aos riscos de contaminação. Mas há neles também um amontoado de sem sentidos que fazem desses filmes um mapa esquizo do lugar-escola onde foram realizados: um mapa em que os trajetos por onde nos levam as imagens e sons dão expressão às sensações e aos afetos que atravessaram cada um(a) de nós, corpos-câmera (LEITE; CHISTÉ, 2015) no encontro com um lugar-escola.
    A impossibilidade de realização do cinema a que estávamos habituados atuou como possibilidade de criação coletiva e de experimentação de um outro modo de fazer cinema em que a presença – das crianças – se faz de maneira indireta, não visível, mas sensível naquilo que as imagens e sons trazem como tentativas de capturar o lugar-escola (PEREC, 2016) em seu vazio muito povoado.
    Tendo em vista a força do lugar nessa experiência cinematográfica no contexto escolar, gostaríamos de conversar sobre possíveis aproximações entre ela e as proposições de Migliorin e Pipano (2019) sobre os filmes produzidos nas escolas, apontando-os como fortemente marcados pelo contexto e pela experimentação tanto do “camerar, cujo sentido está muito mais relacionado à ação de captar as imagens do que propriamente o fechamento em uma obra” (MIGLIORIN; PIPANO, 2019, p. 149), quanto da “performance [como] uma força do gesto em composição – instável – com o espaço” (BRASIL, 2011, p. 7).

Bibliografia

    BRASIL, A. A performance: entre o vivido e o imaginado. GT Comunicação e Experiência Estética. XX Encontro Anual da COMPÓS. Porto Alegre, 2011.
    DELIGNY, F. O Aracniano e outros textos. São Paulo: n-1 edições, 2015.
    KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2019.
    LEITE, C.; CHISTÉ, B. Imagens de crianças: travessias do universo infantil. Revista Educação, Porto Alegre, v. 38, n. 2, p. 272-279, 2015.
    MARTINS, A. F.; ANDEUZA, N. O cinema de arquivo e a (des)pedagogia das sensibilidades uma imersão em outros espaços e tempos. Acervo, Rio de janeiro, v. 32, n. 3, p. 64-77, 2019.
    MIGLIORIN, C.; PIPANO, I. Camerar um ponto de ver: a pedagogia das imagens em Boa Água. Rebeca. v. 8, n. 1, p. 143-157, 2019.
    OLIVEIRA JR, W. M. Outros espaços no cinema contemporâneo: campo de experimentações escolares?. Quaestio, v. 18, n. 1, p. 67-84, 2016.
    PEREC, G. Tentativa de esgotamento de um local parisiense. São Paulo: Editora Gustavo Gili, 2016.