Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    LUIZ GUSTAVO VILELA TEIXEIRA (UTP)

Minicurrículo

    Doutorando em Comunicação e Linguagens (UTP) com taxa PROSUP/CAPES. Mestre em Comunicação e Linguagens (UTP). Crítico de Cinema e Jornalista formado na PUC-MG (2006). Professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da FATEC-PR e assessor de comunicação na Superintendência Geral da Cultura do Estado do Paraná.

Ficha do Trabalho

Título

    Imagens de segunda mão: vídeo-ensaio como novo território crítico

Resumo

    Através do cotejo entre um vídeo-ensaio e um texto analítico, ambos sobre o mesmo tema (o cinema de Wong Kar-wai), esta comunicação busca discutir as possibilidades e limites entre cada forma de crítica audiovisual: a mais usual, textual, herdeira da tradição literária, e a audiovisual, que se convencionou nomear vídeo-ensaio. Para isso cabe apresentar algumas das perspectivas teóricas sobre crítica enquanto postura diante da obra e o vídeo-ensaio a partir de seus elementos constituintes.

Resumo expandido

    A crítica de cinema é herdeira direta da tradição da crítica literária. O texto de um jovem Máximo Gorky sobre a lendária exibição dos irmãos Lumière (FRENCH apud BRAGA, 2014, p. 56) inaugura o gênero em sua curva ao audiovisual. Desde então, bibliotecas inteiras foram produzidas para discutir essas hipnóticas imagens em movimento. A supremacia do texto, porém, pode estar ameaçada pela emergência de um fenômeno relativamente recente, o vídeo-ensaio.

    O nome encontra sua origem na mídia anglófona (Vídeo Essay) e hoje já se torna um termo guarda-chuvas para todo vídeo postado em serviços de streaming que irá discutir algum assunto em profundidade. Todavia, para evitar confusões – e diferenciar de vídeos em que as imagens são, a rigor, a de uma pessoa recitando um texto para a câmera –, tomo como vídeo-ensaio filmetes que usam imagens de outras obras para, recontextualizadas através de técnicas de edição, explicitar relações estéticas, ideológicas ou poéticas (entre tantas outras possibilidades) que de outra forma não estariam evidentes. Em muitos sentidos, o vídeo-ensaio é crítica em audiovisual.

    Cabe ressaltar que a principal novidade em relação ao vídeo-ensaio não está em sua existência, mas sim em sua popularização, diretamente relacionada aos avanços tecnológicos. A profusão de vídeos no YouTube que se dedicam a discutir o audiovisual pela via do audiovisual demanda o agrupamento sob um gênero. Dessa forma projetos anteriores – quase sempre mais ambiciosos –podem retroativamente ser pensados a partir da chave do vídeo-ensaio. Dois exemplos notórios são o Histoire(s) du Cinéma(1988 – 2004), de Jean-luc Godard, e Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano (1995), de Martin Scorsese.

    Diante deste fenômeno, da reflexão e pensamento sobre audiovisual se tornar, ela própria, uma obra audiovisual, cabe questionar como se estabelecem suas possibilidades e limites. O vídeo-ensaio torna a crítica textual obsoleta? Existem apenas ganhos?

    Para isso, cabe resgatar a conceituação de o que é o texto crítico em sua relação com o audiovisual a partir de autores como Bordwell (1991) e Braga (2014) para cotejá-la com a maneira como o vídeo-ensaio se estabelece enquanto pensamento articulado sobre o audiovisual (ARAÚJO e TEIXEIRA, 2020). Ou seja, a intenção desta comunicação é a de interrogar a crítica enquanto forma, de modo a compreender como sua manifestação, seja texto, seja vídeo, implicam em diferentes possibilidades discursivas ou se, ao contrário, o vídeo-ensaio não passa de crítica ilustrada.

    Para detectar como estas manifestações críticas se estabelecem, parto da comparação entre diferentes peças que se dedicam a analisar um mesmo objeto: o cinema de Wong Kar-wai. É um momento apropriado, já que a restauração de sua obra foi relançada – primeiro para o público norte americano, em uma mostra no Lincoln Center, e agora para o resto do mundo através do serviço de streaming MUBI –, fazendo com que muitos críticos tenham se dedicado a escrutinar seus filmes.

    No campo do texto escrito tomarei The Rhythm of Dreams: Wong Kar-wai in Five Songs (2020), escrito por Leonardo Goi para o blog do MUBI, serviço de streaming que exibe as restaurações de Wong Kar-wai. O vídeo-ensaio, por sua vez, será o lançado pelo canal do YouTube do British Film Institute, The World of Wong Kar Wai(2021), escrito e narrado por Ann Lee e editado por Nic Wassell. Ambos se dedicam, de formas diferentes, a colocar em perspectiva o cinema do diretor chinês.

    A expectativa é a de conseguir apreender como cada possibilidade crítica se articula em suas formas particulares, apontando para suas possibilidades e limites intrínsecos.

Bibliografia

    BRAGA, Carolina. A crítica jornalística de cinema na internet: um dispositivo em transformação. 247 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Tese doutoral apresentada para a Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2014.
    BRAGA, José Luiz. A sociedade enfrenta sua mídia: dispositivos sociais de crítica midiática. São Paulo: Paulus, 2006.
    BORDWELL, David. Making meaning: interference and rhetoric in the interpretation of cinema. Cambridge, Massachusetts London: Harvard University Press, 1991.
    GRANT, Catherine. The Shudder of a Cinephiliac Idea? Videographic Film Studies Practice as Material Thinking, Revista Aniki, v.1, nl (2014). Acesso em http://aim.org.pt/ojs/index.php/revista/article/ view/59
    GOI, Leonardo. The Rhythm of Dreams: Wong Kar-wai in Five Songs. MUBI, 2020. Disponível em https://mubi.com/notebook/posts/the-rhythm-of-dreams-wong-kar-wai-in-five-songs
    LEE, Ann, WASSELL, Nic. The World of Wong Kar Wai (2021). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=nhoD4ww67iE