Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    ALINE DE CALDAS COSTA DOS SANTOS (UFOB)

Minicurrículo

    Aline de Caldas possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV (2005) e mestrado em Cultura e Turismo (2008) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; é doutora em Memória: linguagem e sociedade (2017) pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Atualmente é professora de Teorias da Comunicação, Fotografia e Linguagem audiovisual da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Centro Multidisciplinar Santa Maria da Vitória.

Coautor

    Camila Lacerda Lopes ( )

Ficha do Trabalho

Título

    Reflexões sobre cinema e pintura em Retrato de uma moça em chamas

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Resumo

    Estudo do filme Retrato de uma moça em chamas (2019), de Céline Sciamma, refletindo sobre cinema e pintura com foco em direção de fotografia, direção de arte e a pintura de Artemisia Gentileschi (1593-1656). Trata-se de pesquisa bibliográfica e análise fílmica, apontando resultados referentes aos usos dos planos e movimentos, das cores nos cenários e figurinos, das luzes e diferentes temperaturas de cor, e a relação entre ações da trama e a trajetória biográfica e estilística de Gentileschi.

Resumo expandido

    O trabalho se debruça sobre o filme Retrato de uma moça em chamas (2019), dirigido por Céline Sciamma, refletindo sobre cinema e pintura. O recorte recai sobre a direção de fotografia e a direção de arte, relacionando-as a elementos pictóricos presentes na obra da pintora italiana Artemisia Gentileschi (1593-1656). A metodologia tem uma etapa bibliográfica e outra de análise fílmica, constando os resultados sintetizados a seguir.
    A trama se passa na França do século XVIII e tem como mote a contratação de Marianne para pintar um retrato de Heloïse, que foi retirada do convento para se casar com um estrangeiro por decisão de sua mãe – apenas referida como “La Comtesse”. Ocorre que Heloïse rejeita a proposta do casamento e decide levar uma rotina reclusa, alimentando a nostalgia das leituras, das músicas e das paisagens de que fruía no convento.
    Marianne vai até a ilha da Bretanha onde Heloïse, a mãe e uma criada moram e, somente ao se instalar, descobre que a moça não aceita posar para nenhum artista. A justificativa para a presença da “visitante” é fazer companhia à jovem em caminhadas diurnas, momentos em que Marianne observa os traços de Heloïse, guardando-os na memória para proceder em seu trabalho, até então, secreto.
    Outro destaque é para as cores dos figurinos e cenários. Marianne está cercada de azuis variados desde a cena inicial, tons que podem representar o tempo presente durante a trama. Já Marianne se veste em quase toda a etapa do passado do filme com tons terrosos e quentes: marrom, ocre e um branco envelhecido, amarelado. O plano de fundo do primeiro retrato, a princípio, é ocre. Há momentos marcantes com o preto, como os dos tecidos que cobrem cabelos, boca e pescoço de ambas em uma caminhada até a praia, onde acontece um beijo entre as duas.
    Entretanto, com o desenrolar da trama, e o inevitável afastamento das duas, elas têm as cores de suas vestimentas alternadas: Marianne traja uma capa azul de finas estampas pretas quando estão em uma exposição de artes. É importante ressaltar que nessa exposição há telas que Marianne pintou, porém foram assinadas por seu pai, pois mulheres não eram muito bem aceitas como pintoras, ofício dominado pelo sexo masculino na época. Lá encontra uma nova tela de Heloïse vestida em tons de tecido branco envelhecido, acinturado por um laço ocre. Essa alternância entre as cores das vestimentas das protagonistas também ocorre na cena final, quando Marianne vê Heloïse em um teatro durante uma ópera.
    Outro destaque é a iluminação. As cenas externas e as diurnas do aposento de Marianne contam com luz branca, sugerida como luz natural diurna, com baixa temperatura de cor, enquanto a maior parte das cenas internas contam com luzes amarelas com alta temperatura de cor, ora sugeridas como luz de velas, ora como provenientes de lareiras.
    As atmosferas das luzes podem remeter ao trabalho da pintora italiana Artemisia Gentileschi que, assim como a personagem Marianne, é filha de um pintor ao qual muitas de suas obras foram atribuídas à autoria de seu pai, considerando a tradição da época de limitar a atuação artística feminina. Mesmo assim, Artemisia foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira como membro da Academia de Belas Artes de Florença, o que reforça a sua importância e papel na História da Arte.
    O estilo barroco de Gentileschi conta com marcantes luzes incidindo dramaticamente sobre corpos femininos, enquanto os ambientes permanecem sob contrastes escuros, afirmando o estilo barroco em seus trabalhos. Além das luzes, outra característica marcante das obras da pintora italiana que aparece no filme é o da performance para se retratar na tela. Tanto Artemisia em seus autorretratos, quanto Marianne ao dar aula para suas alunas, colocam roupas e indumentárias para posarem e serem pintadas. É interessante pensar também em como a dramaticidade barroca está presente nas trocas afetivas entre Heloïse e Marianne que ficaram eternizadas no corpo uma da outra e na pintura.

Bibliografia

    BORDWELL, David; THOMPSOM, Kristin. A arte do Cinema: uma introdução. UNICAMP; EDUSP. 2013
    BROWN, Blain. Cinematografia – teoria e prática: produção de imagens para cineastas e diretores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012
    GARRARD, Mary D. Artemisia Gentileschi and Feminism in Early Modern Europe. Reaktion Books: Londres, 2020
    GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. Rio de Janeiro, LTC, 2012
    HAMBUGER, Vera Império. O desenho do espaço cênico: da experiência vivencial à forma. São Paulo: ECA/USP, 2014. Dissertação.
    MASCELLI, Joseph. V. Os cinco Cs da cinematografia: técnicas de filmagem. São Paulo: Summus 2010