Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Monyse Rayne Damasceno da Silva (UFSCar)

Minicurrículo

    Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos – PPGIS/ UFSCar.

Ficha do Trabalho

Título

    O ENCONTRO INTERMIDIÁTICO NO VIDEOCLIPE DE RAP “BLUESMAN”

Resumo

    Considerando a construção de outras narrativas possíveis para o sujeito negro, este estudo analisa, através da intermidialidade (RAJEWSKY, 2012), o efeito do encontro entre aspectos formais e plásticos do videoclipe, do cinema e da música rap para a produção de sentidos em “Bluesman” (Douglas Bernardt, 2018). A produção acompanha o trabalho fonográfico do rapper baiano Baco Exu do Blues.

Resumo expandido

    A partir de “Bluesman” (2018), de Douglas Bernardt, uma das produções audiovisuais mais relevantes do cenário do rap nacional nos últimos anos, sugerimos um estudo acerca do efeito que há em mesclar características oriundas do videoclipe e do cinema para a formação de sentidos e para a criação de novas narrativas para o rap e para o sujeito negro no audiovisual. Para endossar a pesquisa, o conceito de intermidialidade será aplicado como uma categoria crítica de análise, com ênfase nas abordagens propostas por Irina Rajewsky (2012) acerca do cruzamento das fronteiras midiáticas.

    “Bluesman” exibe a proposta base do videoclipe: une canções e imagens a fim de divulgar o trabalho do rapper Baco Exu do Blues. Mas, para além disso, a peça também apresenta uma marcante narrativa cinematográfica, que se distancia da relação habitual entre imagem e canção presente no videoclipe e posiciona “Bluesman” naquilo que Jürgen Müller (2012) chama de “entre-lugar”. Desse modo, através da perspectiva da intermidialidade, torna-se possível apontar quais as entidades distintas envolvidas na interferência e de que forma, quando somadas a outros artifícios, colaboram para o impacto da cena.

    Ademais, é de se considerar que o encontro entre mídias é um dos pontos responsáveis pela comoção que o filme causa. Isso porque, uma das primeiras inquietações provocadas por “Bluesman” é não nos permitir definir se o que estamos assistindo é um videoclipe ou um curta-metragem. Diante disso, Rajewsky (2012) explica que “os mecanismos básicos de referências intermidiática prestam bem à apreciação e análise do público”, ou seja, é como se esse intercâmbio entre mídias gerasse um jogo de referências e, diante disso, resgatasse a atenção do espectador para elementos pontuais e estrategicamente colocados dentro da trama, que nesse caso em questão são sustentados, sobretudo, pelo conceito de “ser um Bluesman”, apoiado pelo rapper em suas rimas.

    Sendo assim, o que provoca tal pesquisa? Em particular, o filme faz emergir a possibilidade de novas narrativas para o sujeito negro, principalmente quando se fala de rap no Brasil. Fugindo dos clichês violentos e denuncistas, Douglas Bernardt, diretor do videoclipe, põe em marcha uma ideia que proporciona sensações visuais e sonoras vastas ao longo da trama. Com isso, nos resta questionar qual o peso das escolhas estéticas e narrativas dentro de um videoclipe de rap como “Bluesman”? E como essas escolhas direcionam uma narrativa regada ao discurso antirracista e de empoderamento do sujeito negro e periférico?

    É interessante salientar que a narrativa visual por alguns instantes consegue ser irônica e representar o total oposto do que é cantado na canção, ou seja, a imagética do videoclipe não é gerada unicamente em função dos sons que emanam dele (SOARES, 2006). Essa tática pode ser observada quando Baco canta o seguinte trecho da canção “Bluesman”, uma das três músicas que integram o filme: “eles querem um preto com uma arma pra cima, num clipe na favela gritando cocaína, querem que a nossa pele seja a pele do crime” e, em contradição, as cenas que surgem na tela transmitem um sentimento oposto à revolta que sua voz evoca. Os takes de uma viela colorida e pessoas negras felizes na vizinhança acentuam o potencial expressivo da imagem e proporcionam uma sensação de narrativa positiva; e muito mais: uma narrativa positiva sobre periferia e pessoas negras no Brasil.

    Nesta perspectiva sugerimos, através deste trabalho com “Bluesman”, ampliar o estudo sobre o videoclipe na música rap, partindo da relevância das fronteiras midiáticas, apoiando-se no seu contato com aspectos formais e plásticos do cinema e de outras práticas culturais. Nesse sentido, uma interpretação intermidiática, por meio das considerações de Irina Rajewsky (2012), possibilita especificar e analisar minimamente como tal produção mescla imagem e canção rap e como essa articulação pode ser compreendida como uma narrativa alternativa no campo criativo do rap.

Bibliografia

    CAMARGOS, R. Rap e política: Percepções da vida social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2015.

    MÜLLER, J. “Intermidialidade revisitada: algumas reflexões sobre os princípios básicos desse conceito”. In: DINIZ, T; VIEIRA, A. (Org.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea 2. Belo Horizonte: Editora UFMG, vol. 2, 2012, p. 75-95.

    RAJEWSKY, I. “Intermidialidade, intertextualidade ‘remediação’: uma perspectiva literária sobre a intermidialidade”. In: DINIZ, T; VIEIRA, A. (Org.). Intermidialidade e estudos interartes: desafios da arte contemporânea 2. Belo Horizonte: Editora UFMG, vol. 2, 2012, p. 51-73.

    SOARES, T. Videoclipe: o elogio da desarmonia. Recife: Livro Rápido, 2004.

    __________. Por uma metodologia de análise mediática dos videoclipes: Contribuições da Semiótica da Canção e dos Estudos Culturais. UNIrevista – Vol. 1, n° 3, 2006.

    VANOYE, F; GOLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a análise fílmica. 2ª ed. Campinas: Papirus, 2002.