Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Silvaneide Dias da Silva (UESB)

Minicurrículo

    Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação Memória: Linguagem e Sociedade – UESB

Ficha do Trabalho

Título

    CORPOS ENTRE OBJETOS: CORES FORMAS E TEXTURAS

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Resumo

    Esta pesquisa pretende tratar da forma como as cores são utilizadas na construção de cenas compostas no audiovisual e de como elas perdem, em certa medida, seus significados óbvios ao passo que os objetos são dispostos nos espaços. Para tanto iremos verificar detalhes de imagens que nos chamam atenção no seriado Modern Love (2019), dirigido por John Carnei. Para pensarmos a visualização dessas matérias, apresentamos como principal referência os estudos de Georges Didi-Huberman e Gilles Deleuze.

Resumo expandido

    A presente proposta se desenvolve a partir da composição imagética de algumas cenas da série Modern Love. A série foi lançada em 2019 pela Amazon Prime. Composta por oito episódios, a produção é baseada em uma coluna do jornal The New York Times. A coluna de mesmo título do seriado trata de histórias de amor em suas mais diversas formas de existências. Essas histórias, ao serem postas na tela, ganham essas tonalidades de amores, desejos e dores. As personagens da série Modern Love se constituem na medida em que seus sentimentos se misturam nas cores e, entre elas, numa ligação muito difusa entre as personagens que em seus movimentos se transportam para as mesas, para as camas e para os líquidos das xícaras de chá e canecas de café.
    Essa união entre corpos e objetos ultrapassa o espetáculo da narrativa, ganhando status de um entremeio que na arte conta histórias ao modo que arte mesma concebe.
    Este estudo está, portanto, pautado na ideia de refletir um mundo criado entre esses objetos e cores na constituição do audiovisual.
    No presente estudo, a análise está voltada para o trabalho da direção de arte, mas sem isolar outros departamentos. Trata-se de levantar reflexões referentes às questões que a imagem faz abrolhar. Para dar um corpo mais conciso e coerente à nossa ideia propomos analisar alguns frames de quatro dos oito episódios que constituem a série.
    Em nossa percepção, essas imagens da obra traduzem o quanto os objetos se apresentam de forma condensada quanto às cores e texturas.
    O primeiro episódio apresenta a vida de Maggie Mitchell (Cristin Milioti). De corpo pequeno que parece se completar com suas vestes em tons pastéis, Maggie interage de modo delicado e forte não só com os outros personagens, mas também com as roupas que a cobrem e as coisas que ela toca e que também a tocam. No terceiro episódio, temos o colorido de Lex (Anne Hathaway), uma advogada bem sucedida, mas que vive as dores e incertezas causadas por um transtorno mental que lhe tira o alicerce tanto na vida amorosa quanto na profissional. No sétimo episódio temos a história de Andy (Brandon Kyle Goodman) e Tobin (Andrew Scott). Os dois decidem ter um filho e se aproximam de Karla (Olívia Cook) que está grávida do bebê que o casal pretende adotar. Nessa relação de espera pelo bebê, os objetos estão colocados não para dar a montagem das peças a simples posição no ambiente, mas ali mesmo sobre as mesas eles nos enviam a mensagem de que podem ser retirados de seus lugares, de que o ambiente poder ser desfeito, remontado.
    O oitavo episódio apresenta tonalidades que variam entre a dor da perda e a superação que impulsa o segmento da caminhada da personagem Margot (Jane Alexander), uma mulher de meia idade que vive um romance regado a flores.
    Nessa perspectiva de análise da imagem, estamos partindo das teorias dos autores Georges Didi-Huberman e Gilles Deleuze. Em Prost e os signos (1969/2013), Deleuze desenvolve uma complexa análise da obra Em busca do Tempo Perdido (1913-1927) de Marcel Proust. Nela, ele observa em um sistema complexo de investigação como os signos se revelam nos seres humanos, por meio de suas atitudes e sentimentos. Assim, ele levanta uma refinada reflexão sobre a ideia de signo na arte. Além de Deleuze, também estamos apresentando como referência o historiador da arte e filósofo Georges Didi-Huberman. O autor desenvolve uma extensa obra, onde se dedica de forma muito peculiar a estudar as formações de imagens tanto no que diz respeito à criação quanto no sentido de se pensar o fenômeno da percepção. Nossas considerações apontam para refletir sobre a impossibilidade deste ou daquele ofício criativo de entregar uma imagem pronta. Compreendemos que os objetos mesmos têm autonomia expressiva, ganhando força poética quando relacionadas aos personagens. Nessa articulação, possibilitam o emaranhamento de sentidos, desencadeando uma potência visual manifestada no visível.

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Casas. Tradução de: André Telles, Jardim Europa, São Paulo. Editora 34 Ltda. 2017.
    ¬¬¬¬_____ Diante da Imagem. Tradução de: Paulo Neves Jardim Europa, São Paulo. Editora 34 Ltda. 2013.
    _____Quando as Imagens Tomam Posição. O olho da história 1. Tradução de Cleonice Paes Barreto Mourão. Belo Horizonte: Editora, UFMG, 2017.
    _____, Georges. A Pintura Encarnada: Seguida de a Obra-Prima Desconhecida de Honoré de Balzac. Rua Ministro Gastão Mesquita 132, São Paulo. Editora Escuta. 2009.
    DELEUZE, Gilles. Proust e os Signos. Rio de Janeiro Forense Universitária 2003.