Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    JANAINA WELLE (Unicamp)

Minicurrículo

    Cientista Social (Unicamp) com mestrados em Antropologia Visual (Universidade de Barcelona) e Multimeios (Unicamp). Atualmente desenvolvendo sua pesquisa doutoral no programa de Ambiente e Sociedade (Unicamp) sobre memórias e representações da Amazônia do documentário brasileiro.

Ficha do Trabalho

Título

    Povos indígenas isolados e sua imagem no documentário nacional.

Resumo

    A presente comunicação visa suscitar a mesa uma reflexão sobre o lugar das imagens dos indígenas isolados na cinematografia documental nacional e o papel do cineasta em seu exercício dentro deste contexto.

Resumo expandido

    A presente comunicação visa suscitar a mesa uma reflexão sobre o lugar das imagens dos indígenas isolados na cinematografia nacional e o papel do cineasta em seu exercício dentro deste contexto. As imagens dos povos indígenas isolados sempre despertaram o fascínio tanto de quem as fazia, quanto de quem as via. Na filmografia nacional pode ser vista já na primeira metade do século XX nas imagens realizadas por Luis Thomaz Reis, Harald Schultz e Heinz Forthmann, atreladas geralmente a etnografia e expedições. Há um interessante corpus de produções que trazem o tema em sua narrativa como em Expedição Villas Boas (1953) de Jorge Ferreira; A Tribo que se esconde do homem (1970) de Adrian Cowell; O Reinado na Floresta (1971) de Adrian Cowell; Os Arara (1980/1981) de Andrea Tonacci; Na Trilha dos Uru Eu Wau Wau (1990) de Adrian Cowell; Bubula o Cara Vermelha (1999) de Luiz Eduardo Jorge; Fugindo da Extinção (1999) de Adrian Cowell; Destino do Uru Eu Wau Wau (1999) de Adrian Cowell; Serras da Desordem (2006) de Andrea Tonacci; Pirinop meu primeiro contato (2007) de Mari Corrêa e Karané Ikpeng; Corumbiara (2009) de Vicent Carelli; Paralelo 10 (2012) de Silvio Da-Rin; Piripkura (2017) de Bruno Jorge, Mariana Oliveira e Renata Terra e Apiyemiyeki (2019) de Ana Vaz.

    Nas narrativas sobre os povos indígenas isolados, o modelo extrativista capitalista e suas consequências, são pano de fundo recorrente. As comunidades tradicionais da Amazônia, e em especial os grupos de indígenas isolados, sofrem das atividades extrativistas violência contínua e gradual, dispersa no espaço-tempo, que, por ser difusa, muitas vezes não é vista como tal, a qual Rob Nixon (2011) chama de violência lenta. Tendo materialidade difusa, seu combate se faz mais complexo, é preciso engajar narrativas, retóricas e representações, para fazer frente à relativa invisibilidade da violência lenta (NIXON, 2011). Por conseguinte, as imagens documentais sobre os isolados ganham força e sentido.

    As imagens, fotográficas e/ou cinematográficas, compõem os estudos que embasam a confirmação de existência de povos isolados, são uma prova material valorosa, e colaboram nos processos de demarcação e proteção de seus territórios. Além de sua importância legal, levam a problemática dos indígenas isolados a públicos que por vezes não tem proximidade com o tema. O Brasil, em 2019, tinha 28 registros de povos indígenas isolados confirmados e 86 por confirmar, ou seja, em fase de pesquisa documental ou de campo pela Funai (VAZ, 2019). Desde 1988, a política nacional em relação aos grupos em situação de isolamento voluntário é a do não contato, até 1987, o contato forçado era premissa e estratégia de proteção. Atualmente comprova-se sua existência para garantir proteção e demarcação de terras e a manutenção do seu isolamento.

    As mudanças nas políticas em relação ao contato são resultado de reflexões profundas de sertanistas, antropólogos e indigenistas sobre sua relação com os grupos que por autodeterminação decidiram manter-se em isolamento. Tais reflexões encontraram reverberações também nas narrativas documentais. Destacamos a encenação dos fatos narrados realizada pelas mesmas pessoas que viveram os acontecimentos, como em Serras da Desordem (2006) e Pirinop, meu primeiro contato (2007); as elucubrações sobre a atividade indigenista em Corumbiara (2009), Paralelo 10 (2012) e Piripkura (2017); e as ponderações sobre a próprio exercício do cineasta em Bubula o Cara Vermelha (1999) e Corumbiara (2009). Chamamos a atenção especialmente para a narração em primeira pessoa que Vincent Carelli faz em Corumbiara, na qual revisita imagens realizadas 20 anos antes, revisando também assim, sua própria postura. Tais reflexões nos convidam a mais perguntas. Em que medida o exercício cinematográfico é/tem sido também extrativista? Os cineastas, e as imagens produzidas por eles, possuem um contraditório papel, invadem o território ao mesmo tempo que protegem, destroem enquanto preservam.

Bibliografia

    VAZ, A (Ed.). Pueblos Indígenas en Aislamiento en la Amazonía y Gran Chaco. Informe Regional. Land is Life, Ediciones Abya-Yala. Mayo de 2019
    NIXON, R. Slow Violence and the Environmentalism of the Poor. Cambridge and London: Harvard University Press. 2011

    FILMOGRAFIA
    Expedição Villas Boas (1953) de Jorge Ferreira
    A Tribo que se esconde do homem (1970) de Adrian Cowell
    O Reinado na Floresta (1971) de Adrian Cowell
    Os Arara (1980/1981) de Andrea Tonacci
    Na Trilha dos Uru Eu Wau Wau (1990) de Adrian Cowell
    Bubula o Cara Vermelha (1999) de Luiz Eduardo Jorge
    Fugindo da Extinção (1999) de Adrian Cowell
    Destino do Uru Eu Wau Wau (1999) de Adrian Cowell
    Serras da Desordem (2006) de Andrea Tonacci
    Pirinop meu primeiro contato (2007) de Mari Corrêa e Karané Ikpeng
    Corumbiara (2009) de Vicent Carelli
    Paralelo 10 (2012) de Silvio Da-Rin
    Piripkura (2017) de Bruno Jorge, Mariana Oliveira e Renata Terra
    Apiyemiyeki (2019) de Ana Vaz