Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafael Morato Zanatto (ECA- USP)

Minicurrículo

    Historiador, mestre e doutor em História e Sociedade pela UNESP, foi pesquisador e arquivista da Cinemateca Brasileira e realizou estágios de pesquisa (BEPE/FAPESP) na Cinémathèque Française (2012) e na Deutsche Kinemathek (2017). Atualmente realiza a pesquisa de pós-doutorado A contribuição francesa e alemã à formação dos estudos históricos de cinema – 1945-1952 (FAPESP) no programa de Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP). Supervisor: Prof. Dr. Eduardo Morettin.

Ficha do Trabalho

Título

    Histórias cinematográficas nacionais: Eisner, Kracauer e Wollenberg

Resumo

    Comparando os livros De Caligari a Hitler (1947), de Siedfried Kracauer, Cinquenta anos de cinema alemão (1948), de Hans Wollenberg e A tela demoníaca (1952), de Lotte H. Eisner, demonstraremos a partir dos sensos e dissensos entre critérios, teorias, fontes, perspectivas e biografias dos autores a significação de suas contribuições para a formação das pesquisas históricas de cinema: a identificação/ invenção das fisionomias cinematográficas nacionais.

Resumo expandido

    A publicação de livros sobre a história do cinema participou do impulso cultural que se viu nos EUA e na Europa após a II Guerra Mundial (1939-1945). Nos EUA, Siegfried Kracauer publica De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão (1947), na Inglaterra Hans Wollenberg lança Cinquenta anos de cinema alemão (1948) e A tela demoníaca: Max Reinhardt e o expressionismo (1952), de Lotte H. Eisner, aparece no mercado editorial francês. A significação dessas obras é imensa: elas inventaram uma tradição para o cinema alemão e foram decisivas para a cristalização das futuras interpretações históricas nacionais do fenômeno cinematográfico.
    Além desses aspectos, existem outras características compartilhadas pelos autores, como a origem, a atividade crítica e o exílio após a ascensão de Hitler ao poder (1933). À época da República de Weimar, os três autores ocuparam espaços importantes dentro da crítica cultural e cinematográfica alemã. Wollenberg foi editor-chefe e consultor jurídico da revista berlinense Lichtbild-Bühne, Kracauer foi redator cultural do Frankfurter Zeitung e Lotte H. Eisner da revista berlinense Film Kurier e dos jornais Berliner Tageblatt e Literarische Welt. De origem judaica, ambos vivenciam a experiência do exílio: Kracauer refugiou-se na França (1933-1941) e nos EUA (1941-1966), Wollenberg na República Tcheca (então Tchecoslováquia, 1938) e Inglaterra (1939-1952) e Eisner na França (1933-1983). No que se refere propriamente à escrita da história do cinema, os três fundamentam a interpretação e o foco de suas obras nas experiências vividas anteriormente. A atividade crítica e o exílio vivido atuarão decisivamente em maior ou menor medida na delimitação dos problemas, na concepção histórico-metodológica e na escolha das fontes de suas obras.
    Nas obras de Kracauer e Eisner, existem sensos e dissensos entre os autores acerca do conceito de história do cinema. Para Kracauer, o cinema era entendido como uma valiosa fonte para uma pesquisa histórica psicológica e social que poderia demonstrar como os alemães aderiram ao nazismo ao sabor dos acontecimentos, das crises e desilusões da República de Weimar. Já para Eisner, arqueóloga de formação, a história do cinema é interpretada como um mosaico que poderia ser formado a partir da coleta de fragmentos dispersos. No caso de Wollenberg, sua atenção repousará nas principais tendências do cinema alemão, ou seja, àquelas que conquistaram o gosto do público das salas de cinema, os sucessos de bilheteria. Em conjunto, os três autores possuem como aspecto comum identificar a fisionomia do cinema alemão, mas com focos distintos: Kracauer na psicologia coletiva, Eisner na tradição artístico-literária e Wollenberg no gosto do público.
    Em relação ao trabalho com as fontes de pesquisa, mais diferenças podem ser apontadas na comparação entre os historiadores. Kracauer retoma sua produção anterior, crítica e histórica, incorpora as discussões historiográficas dos que o precedem e realiza uma profunda prospecção de fontes fílmicas e não-fílmicas nos arquivos do MoMA-NY; Einser se baseia nas memórias de seu contato direto com os estúdios de Babelsberg e incorpora novos testemunhos enquanto que Wollenberg baseia sua história nos dados estatísticos publicados na Lichtbild-Bühne. Apreendidas em conjunto, veremos como as obras apresentam critérios, teorias e perspectivas complementares para a identificação/invenção histórica das fisionomias cinematográficas nacionais.

Bibliografia

    DÖGE, Ulrich. Kosmopolit des Films, p. 11-72. In: AURICH, Rolf; JACOBSEN, Wolfgang. Hans Wollenberg. Filmpublizist. Mit Kritiken und Aufsätzen von Hans Wollenberg. Essay von Ulrich Döge. Film & Schrift. Band 16. München: edition text + kritik, 2013.
    EISNER, Lotte H. Ich hatte einst ein schönes Vaterland. Memorien. Geschrieben von Martje Grohmann. Mit einem Vorwort von Werner Herzog. Heidelberg: Verlag Das Wunderhorn, 1984.
    ELSAESER, Thomas. Weimar Cinema and After: Germany´s Historical Imaginary. London/ New York: Routledge, 2000.
    KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler: Uma história psicológica do cinema alemão. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1988.
    MACHADO, Carlos Eduardo Jordão. Siegfried Kracauer e a Miséria Alemã: cidades, empregados, distração e nazi-fascismo. Outro capítulo da história da modernidade estética. [Manuscrito] WOLLENBERG, Hans. Fifty Years of German Film. London: The Falcon Press, 1948.