Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Thais Blank (FGV CPDOC)

Minicurrículo

    Thais Blank é Professora Adjunta da Escola de Ciências Sociais da FGV CPDOC (2017) e do Programa da Pós-graduação em História, Política e Bens Culturais FGV CPDOC (2018). É co-coordenadora do Núcleo de Audiovisual e Documentário da FGV CPDOC (2015) e vice-coordenadora da Graduação da Escola de Ciências Sociais FGV CPDOC (2018). Coordenadora do Laboratório de Estudos da Cultura Visual (LECV FGV CPDOC). É membro da equipe editorial da Revista Estudos Históricos FGV CPDOC (2019).

Coautor

    Patricia Furtado Mendes Machado (PUC-Rio)

Ficha do Trabalho

Título

    Inês: cinema, arquivo e resistência

Seminário

    Outros Filmes

Resumo

    Esta comunicação se debruça sobre o filme Inês (1974, 19min), dirigido pela atriz e cineasta Delphine Seryg. Pouco conhecido e nunca exibido no Brasil, o filme aborda a prisão da militante Inês Etinne Romeu, única sobrevivente do centro de tortura conhecido como Casa da Morte, Inês foi uma testemunha chave no esclarecimento dos crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante o período da Ditadura Militar.

Resumo expandido

    Esta comunicação se debruça sobre o filme Inês (1974, 19min), dirigido pela atriz e cineasta Delphine Seryg. Pouco conhecido e nunca exibido no Brasil, o filme aborda a prisão da militante Inês Etinne Romeu, que capturada em 1971 em São Paulo e condenada à prisão perpétua, seria transferida no ano seguinte para o presídio de Bangu no Rio de Janeiro, onde ficaria até 1979. Única sobrevivente do centro de tortura conhecido como Casa da Morte, Inês foi uma testemunha chave no esclarecimento dos crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante o período da Ditadura Militar.
    Dos registros visuais do período que Inês passou na prisão restam poucas fotografias, entre elas uma tirada em 1972 em seu julgamento no Tribunal Militar. Essa foto é retomada no filme de Seyrig. Resta ainda uma filme amador do dia em que Inês saiu do presídio Esmeraldino Bandeira para casar-se com Jarbas Vasconcellos, condenado a sete anos de cadeia. Após 13 anos sem se ver o casal trocou alianças em uma rápida cerimônia acompanhada pela polícia, voltando em seguida para o camburão. Jarbas permaneceria preso por mais dois anos e Inês por quatro. O casamento foi filmado por um cinegrafista amigo da família de Inês, no entanto o registro permaneceu guardado por décadas vindo a público apenas em 2017.
    Se as imagens domésticas guardam traços da violência sofrida por Inês nas imagens em pequenos detalhes como camburão e as algemas nas mãos dos noivos, as torturas e estupros sofridos por Inês durante o período que ficou na Casa da Morte permanecem opacas. O que preserva essa memória são os documentos da polícia política que contém o testemunho de Inês, além de entrevistas posteriores em que ela relata o que viveu no passado.
    No entanto, ainda na década de 1970, quando Inês ainda estava na prisão, a violência que sofreu é encenada por uma atriz no filme de Delphine Seyrig, depositado hoje no Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir. Trabalhando com a noção de “arquivos cruzados” (Lindeperg, 2013) propomos desvendar o contexto de produção do filme, os documentos usados como fonte de informação e os modos como essa história até então invisível é narrada e montada. Para compreender o interesse por essa temática naquele momento, apontaremos também a relação da realizadora com os movimentos do cinema militante e feminista do período.

Bibliografia

    BRENEZ, Nicole e FARGIER, Jean-Paul e FLECKINGER, Helene e BOVIER, François e ROUSSOPOULOS, Carole. Caméra militante – luttes de libération des annés 1970. Métis Presses, 2010.

    COMOLLI, Jean-Louis. Spectres. IN: LINDEPERG, Sylvie. La voie des imagens: quatre histoires de tournage au printemps-été 1944. Paris: Editions Verdier, 2013

    GINZBURG, Carlo e PONI, Carlo. La microhistoire. Gallimard | Le Débat 1981/10 – n° 17
    LINDEPERG, Sylvie. La voie des imagens: quatre histoires de tournage au printemps-été 1944. Paris: Editions Verdier, 2013.

    ____________. Des lieux de mémoire portatifs. Entretien réalisé par Dork Zabunyan. Critique: Revue générale des publications françaises et étrangères. Paris: Les Éditions de Minuit, Mars 2015.

    Relatório da Comissão Nacional da Verdade, 2014. Disponível em: http://www.cnv.gov.br/