Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    João Antonio Ribeiro Neto (UNESP)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação Social-Jornalismo pelas Faculdades Integradas de Jaú, mestrando em Comunicação pela UNESP Bauru, fundador do site Cineratus.

Ficha do Trabalho

Título

    Recursos do horror: o gênero sob o olhar da descontinuidade

Resumo

    Este artigo tem como finalidade analisar os artifícios presentes no cinema de horror, partindo
    do apontamento feito por Steve Rose em seu artigo, utilizando da ótica da genealogia,
    arqueologia e descontinuidade proposta por Foucault. Para tal, propomos lançar um breve
    olhar sobre o cinema, o cinema de horror e sua manifestação no público, o horror artístico,
    conceito proposto por Carröll pensando nas reações do público diante dos filmes de horror.

Resumo expandido

    No ano de 2017, o jornalista e crítico do portal The Guardian, Steve Rose, sugeriu em um artigo intitulado “How post-horror movies are taking over cinema”, afirmando que o cinema de horror passava por um período de ruptura com o surgimento de um novo subgênero, chamado por ele de pós-horror. Em seu texto, Rose afirma que alguns cineastas começavam a repensar os filmes do gênero, se livrando das amarras convencionais que foram consagradas ao longo das décadas, para, utilizando ainda de elementos do horror, criar uma experiência diferenciada.
    O que se se procura aqui é refletir a respeito do gênero de horror, principalmente com base em seus
    artifícios característicos, mecanismos que promovem o que Carröll (1999) definiu como “horror artístico”. A partir da noção de descontinuidade proposta por Foucault (2008), pensar alguns desses recursos presentes historicamente no cinema de horror, partindo de uma distância segura dos fundamentos da visão histórica convencional.
    Operar um estudo que parta do artigo de Rose requer uma abordagem que não se limite a uma perspectiva estabelecida e aceita como grande verdade. De certo modo, já houve discussões e estudos que colocam seu texto e argumentos sob a lente da academia, perscrutando pontos de muita importância para validar ou invalidar seu discurso. Logo, é necessário assumir uma ótica que privilegie um estudo que não se contente em se subordinar aos fatos como estão dados, mas que se submeta a um processo que possa, ao mesmo tempo
    em que se aprofunda tematicamente, também questionar determinadas noções basilares.
    Foucault então surge aqui com uma proposta de análise que atende a indispensabilidade de olhar para nosso objeto liberado de uma compulsão de continuidade limitante. Posto isto, é preciso então entender o que são as noções de genealogia, arqueologia e descontinuidade das quais faremos uso para pensarmos sobre certos elementos do horror.
    É notável que não haja um movimento de superação de uma determinada fase por outra dentro da história do cinema, mas uma incorporação de certos subterfúgios, que são dispostos de tempos em tempos, em contextos diferentes e aplicações que vão atender a essa necessidade primária que existe nos filmes.
    De qualquer forma, o cinema desenvolveu-se com o passar do tempo e acabou por dividir-se em categorias, o que acabamos conhecendo por gênero. A ideia de gênero pode ser descrita como “uma categoria ou tipo de filmes que congrega e descreve obras a partir de marcas de afinidade de diversa ordem, entre as quais as mais determinantes tendem a ser as narrativas ou temáticas.” (NOGUEIRA, 2010) Mas olhando desta maneira, o conceito de gênero parece pouco aprofundado a respeito de suas próprias necessidades de segregação.
    Além de aglutinar determinados filmes com características semelhantes, é preciso olhar para uma outra discursividade presente que alavancou as separações de tal forma que duram até os dias de hoje.
    A escolha dos filmes se deu a partir de duas perspectivas: um espaçamento histórico considerável, para que, em diferentes momentos, os artifícios estabelecidos como pertencentes ao horror pudessem ser observados, com suas propostas conversando diretamente com seu público e obedecendo determinadas pré-disposições de seu tempo. Uma variedade de temáticas, sendo que um filme tem como elemento central um vampiro, outro uma mulher que se transforma em pantera e, por último, um que tem como principal afetação a implantação de um cérebro no corpo de outra pessoa. Essas duas condições então nos levaram ao Nosferatu (1922), Murnau, Sangue de Pantera (1942) e Corra! (2017).
    O fato é que, do ponto de vista da descontinuidade, o que temos aqui é a observação de que a aparente rigidez, apontada por Rose (2017), não parece tão restritiva assim. Os recursos, que surgem de tempos em tempos em diversas obras, são empregados de maneiras diversificadas a fim de provocar uma sensação de horror artístico genuíno, não dependendo de uma renovação da fórmula.

Bibliografia

    BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas, SP:
    Editora Unicamp, 2013;
    CARRÖLL, Noel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas, SP:
    Papirus Editora, 1999;
    COSTA, Antonio. Compreender o cinema. São Paulo, SP: Globo, 2003;
    COSTA, Flávia Cesarino. Primeiro cinema. In: MASCARELLO, Fernando. História
    do cinema mundial. Campinas, SP: Papirus Editora, 2006.
    COUSINS, Mark. História do cinema: dos clássicos mudos ao cinema moderno. São
    Paulo, SP: Martins Fontes, 2013;
    ELSAESSER, Thomas. História do cinema como arqueologia das mídias. In:______.
    Cinema como arqueologia das mídias. São Paulo, SP: Edições Sesc, 2018. P. 72-102
    FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, RJ. Editora Forense
    Universitária, 7º edição, 2008;
    NOGUEIRA, Luís. Gêneros cinematográficos. LabCom Books, 2010, disponível em:
    http://labcom.ubi.pt/page/books, acesso em: 02/01/2021
    ROSE, Steve. How post-horror movies are taking over cinema, The Guardian, 2017